Corte

25 2 0
                                    

                Falamos das sereias enquanto alegorias, pois que amar não é ciência exata. Há que se aproximar devagar do amor, nos passos miúdos e leves de alguma dança da corte há muito esquecida. Se nos precipitamos, ele foge qual animal selvagem – principalmente quando se trata de uma sereia metafórica e fugidia. Pé ante pé, cautelosos, aceitamos a cruel tarefa de tentar defini-la. Mortos de medo, aproximamo-nos para tocar seus dentes pontiagudos.

              Sim, ela está de volta. Aquela sereia há tanto tempo desaparecida retornou – não por você, evidentemente. Por dentro, ainda usa o mesmo vestido vermelho esvoaçante; por fora, o mesmo sorriso que lhe convida a arrancar o próprio coração para oferecer a ela.

              Um novo encontro... uma nova chance. Você, pobre tolo, tem a intenção de fazer-lhe a corte. Ela, por outro lado, não parece ter intenção alguma além de dançar e sorrir e cravar mais um prego de delicadeza em seu coração.

              É o que ela faz.

              E quando vai embora outra vez... as pálidas sereias sempre se vão. Não é de sua natureza permanecer, ser possuída ou pertencer. Só quando ela se vai outra vez é que você se dá conta:

             o pedaço que sobrou de você é ainda menor.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jan 24, 2016 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

As pálidas sereiasWhere stories live. Discover now