Falamos das sereias enquanto alegorias, pois que amar não é ciência exata. Há que se aproximar devagar do amor, nos passos miúdos e leves de alguma dança da corte há muito esquecida. Se nos precipitamos, ele foge qual animal selvagem – principalmente quando se trata de uma sereia metafórica e fugidia. Pé ante pé, cautelosos, aceitamos a cruel tarefa de tentar defini-la. Mortos de medo, aproximamo-nos para tocar seus dentes pontiagudos.
Sim, ela está de volta. Aquela sereia há tanto tempo desaparecida retornou – não por você, evidentemente. Por dentro, ainda usa o mesmo vestido vermelho esvoaçante; por fora, o mesmo sorriso que lhe convida a arrancar o próprio coração para oferecer a ela.
Um novo encontro... uma nova chance. Você, pobre tolo, tem a intenção de fazer-lhe a corte. Ela, por outro lado, não parece ter intenção alguma além de dançar e sorrir e cravar mais um prego de delicadeza em seu coração.
É o que ela faz.
E quando vai embora outra vez... as pálidas sereias sempre se vão. Não é de sua natureza permanecer, ser possuída ou pertencer. Só quando ela se vai outra vez é que você se dá conta:
o pedaço que sobrou de você é ainda menor.
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As pálidas sereias
Short StoryMas elas, as pálidas e impiedosas sereias, nunca voltam... não por você. Imagem da capa: Sylviane Guilherme por Estéfano Lessa (espetáculo Maianita)