Cantada à la Shakespeare

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Eu estava na minha cama, embaixo das cobertas quentinhas, assistindo ao novo episódio de "The Flash" naquela noite. Até que meus queridos amigos, entraram em meus aposentos, e, arrancando o notebook de mim, disseram:

-Vitor, ou você sai dessa cama e vai com a gente para a balada, ou nós te arrastamos até lá à força. Você escolhe. - Paulo disse, erguendo as sobrancelhas. Como se eu não soubesse que eles não me dariam escolha.

-Tudo bem, eu vou. Mas se estiver chato, virei embora. - Eu disse, já sabendo que voltaria para casa assim que colocasse os pés no local.

-Combinado! Agora vai, coloca uma roupa! - Paulo me incentivou. Eu me levantei lentamente da cama, pensando que Barry, Cisco e todos os personagens de "The Flash" deviam estar fazendo uma careta de desgosto para mim dentro da tela do notebook.

-Ainda não entendo qual o objetivo de vir a um lugar como esse. - Eu quase gritava para que meus amigos pudessem me ouvir. -Só tem gente bêbada e eu com certeza vou sofrer uma perda auditiva.

-O objetivo, meu caro, é flertar com garotas. Sim, eu usei esse verbo horrível, "flertar", para que você possa entender, afinal, gírias não são a sua praia. - Paulo me disse.

-Você vê como essa expressão "a sua praia" não faz sentido algum? - Eu perguntei a ele.

-Cara, não acredito que de toda a minha frase, você só prestou atenção nisso. - Ele disse. Eu estava prestes a responder quando Emanoel, um outro amigo, apontou para uma menina sentada no bar, dizendo:

-Vamos ao que interessa: se você, Vitor, for até aquela garota ali e "flertar" com ela, nós todos prometemos nunca mais arrastá-lo para um lugar como esse. 

-Isso! - Os outros falaram em uníssono e logo depois começaram a gritar meu nome, o que chamou a atenção de algumas pessoas a nossa volta e, consequentemente, me deixou constrangido. Eles não me deixariam em paz até que eu fosse lá e falasse com a garota. Bem, que mal poderia ter, não é? Inspirei todo o ar que consegui, estufei o peito e fui até ela. Ao me aproximar um pouco mais, prestei atenção em seus traços: ela era alta, seus cabelos eram negros e ondulados, seus olhos, igualmente negros, eu nunca vira olhos como aqueles. Ela era linda.

-"Meu coração amou antes de agora? Essa visão rejeita tal pensamento, pois nunca tinha eu visto a verdadeira beleza antes dessa noite." - Falei, próximo a ela. Era uma citação de Romeu e Julieta, a qual eu achei que caíra como uma luva para aquele momento. A garota, com seus enormes olhos negros, me encarou com uma expressão indecifrável, eu podia jurar que levaria o pior dos foras.

-Shakespeare, definitivamente, não escreveu isso para que fosse usado como uma cantada. - Ela disse, erguendo uma das sobrancelhas. Eu não sei foram aqueles olhos ou o som doce de sua voz, mas eu estava completamente sem fala. - Mas até que eu gostei. Quer dizer, é bem melhor que a maioria das que eu já tive que escutar por aqui. - Ela completou. Talvez esse seja o momento de dar uma resposta, Vitor.

-Então você recebe muitas cantadas? - Eu falei e, logo em seguida, me arrependi.

-Você sabe que podia ter dito algo bem mais interessante, né? - Ela retrucou.

-Sou péssimo com cantadas. - Eu falei, olhando para meus pés, eu usava um All Star azul escuro. -E com mulheres. - Completei.

-Gostei do tênis, combina com o meu. - Ela falou, batendo seu All Star preto de cano alto nos meus pés.

-Seu All Star azul combina com o meu preto de cano alto. - Cantarolei.

-Eu estava pensando nisso! Gosta de Nando Reis? - Ela perguntou animada. Será que eu levava jeito com mulheres?

Cantada à la ShakespeareWhere stories live. Discover now