Capítulo 08 - Os Bons se revelam na dificuldade, os Maus também.

6.6K 596 203
                                    

- Ah, meu Deus, vó! – Às lágrimas brotavam dos meus olhos em um fluxo contínuo. Por um breve instante fiquei inerte, segurando o corpo desfalecido da minha avó.

Ela não me respondia, por mais que eu balançasse seu corpo e a chamasse.

- O que foi, isso? Ah, meu Deus dona Elisa – Rosa entrou no quarto e acudiu a minha avó.

- Es-es-távamos conversando e ela de repente desmaiou – balbuciei essas palavras. – Ela estava triste porque o tio Hélio e a minha mãe não atenderam ao seu pedido de virem para cá... Rosa, precisamos de uma ambulância agora!

- Sim.. – Rosa saiu atropelando os móveis.

Fiquei abraçado com a minha avó, ninando ela no meu colo. Um aperto tomou conta do meu peito, tapando a minha respiração. Minha avó não podia morrer. Não desse jeito, com o coração cheio de desgosto.

Em meia-hora dois enfermeiros e um médico-socorrista entraram no quarto com uma maca. Colocaram a minha avó em cima, enquanto me faziam algumas perguntas sobre ocorrido. Expliquei da melhor e mais rápida forma. Descemos todos juntos, e ao cruzar com Rosa desesperada lá embaixo, pedi que ela pegasse os documentos de vovó Elisa o mais depressa possível, e fosse para o hospital logo em seguida, pois eu iria com a minha avó na ambulância.

- Ela vai ficar bem, não vai? – perguntei para o médico-socorrista que tentava reanimá-la, mas sem êxito.

- Você precisa estar preparado – ele me disse sério. – O quadro de câncer dela é irreversível, e ela está extremamente debilitada.

O percurso do sítio até o hospital não era tão longo, mas a estrada estava péssima por conta das chuvas, o que atrasou bastante a nossa chegada.

Levaram a minha avó para o CTI e não me deixaram entrar. Eu caminhava de um lado para o outro com as mãos postas na cabeça, completamente sem rumo. Sentia-me de mãos atadas, desejoso de fazer alguma coisa que pudesse ajudar na situação, contudo, fora a questão burocrática, coisa alguma estava ao meu alcance.

Fui para uma salinha de espera, reservada para os parentes dos internados. Não demorou muito e Rosa chegou acompanhada de Fernando, que naquele momento foi um alívio para mim. Corri para seus braços, e ele me recebeu calorosamente. Naquele momento nenhuma cafajestagem dele, cometida no passado, importava mais. O fato dele está ali, me bastava.

- Meu filho, aqui tá todos os documentos de dona Elisa, junto com os últimos exames que ela fez – Rosa me entrou uma pasta, mal conseguindo segurar. Suas mãos tremiam muito, e seus olhos, já molhados, ameaçam despencar um choro volumoso, mas ela se mantinha forte, e estava certa; aquele não era o momento para perdermos a razão.

Corri com os documentos da minha avó e cuidei de toda à burocracia, ao lado de Fernando, que ficou firme junto a mim.

- Como você soube? – perguntei para ele, com a voz um pouco presa.

- Vi o movimento de ambulância, e corri para o sítio da tia Elisa – Fernando falava segurando a minha mão suada. – Só que quando cheguei lá, você já tinha saído com sua avó. Encontrei apenas Rosa, alvoroçada. Ela me contou o que tinha acontecido, e eu disse que ia acompanha-la até aqui.

- Obrigado, Fê – eu dei um beijo carinhoso em sua bochecha.

- Na bochecha? Bem que podia ter sido na boca – ele cochichou no meu ouvido, dando um sorrisinho, mas não malicioso.

- O quê?!

- Relaxa, Benjamim – Fernando bagunçou o meu cabelo. – Só estou curtindo com sua cara. Não que eu não queira um beijo seu na boca. Mas hoje só quero amenizar o clima.

ENTRE PRIMOSWhere stories live. Discover now