31 - ME DEIXE COSTURAR SUA MOCHILA

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Deus te entende.

Por mais que eu falasse com meus amigos, meus pais ou pastores, ninguém poderia me entender tão bem quanto Deus. Por mais que eu falasse ou tentasse explicar as turbulências que a vida me trazia naquela fase, nem um ser humano poderia compreender perfeitamente.

Você se sentiu assim? sentiu aquela aflição causada pelos pequenos, mas insuportáveis, problemas do dia-a-dia?

Provas na escola, brigas na família ou problemas internos... Todos temos algo que nos assombra.

E naquele momento, a tensão de ter que falar na frente de várias pessoas, me deixava daquela maneira. Eu sei, meu problema não é nada comparado ao seu problema, mas ele me incomoda. Você também se sente assim? Parece que seu problema não é tão grande, mas aos poucos, ele se transforma em um grande monstro imaginário.

— Jesus? — Falei enquanto caminhava para o nosso ponto se encontro. — Perdoe te procurar somente quando as coisas apertam em baixo.

Observei o enorme tigre branco que observava a paisagem de um ponto do bosque. E repetir o que tinha acabado de dizer para mim mesma.

"Me perdoe por te procurar somente quando as coisas não vão bem"

Aquelas palavras nunca tinham feito tanto sentido para mim. Aquilo era um fato muito triste, eu procura o Senhor Jesus quando precisava e tinha quase certeza que aquele era o problema.

"Minha filha, eu não quero estar contigo apenas nos momentos difíceis, quero estar com você, lado a lado, nos momentos bons e ruins"

A voz do Senhor falou nitidamente em minha cabeça me fazendo sentir um misto de alegria e tristeza. Alegria por ter sido alertada daquilo, e tristeza por nunca ter me dado conta.

Abracei o Tigre carinhosamente, e dei as costas. Ele continuou esplêndido e reluzindo ao longe. E quanto mais eu me distanciava, mais certa estava do que deveria fazer.

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Agora eu sabia o que estava me impedindo de sentir paz mesmo em meio às adversidades, eu não estava tendo comunhão com Deus. Eu nem ao menos fazia uma oração quando acordava, como queria sentir a paz, se eu não buscava por ela?

Mas eu pretendia fazer as coisas diferentes.

— Procurando por mim? — Rony falou de repente me fazendo quase dar um salto da poltrona da igreja.

— Que susto, Rony!!! — Falei um pouco brava, mas logo me juntei entre as suas gargalhadas. — Eu não estava te procurando, na verdade, eu até pensei que você não estivesse por aqui.

— E realmente não estava, tenho reunião daqui a algumas horas, mas... — Ele parou por um segundo e puxou um papel do seu bolso para me entregar. — Ti vi aqui e não resistir de te dar um "oi".

Era um papel de estudo da reunião que ele tinha, observei por ums minutos e depois devolvi. Rony estava muito bem apresentável, totalmente o oposto do que eu costumava ver na escola. Seu jeans não estava lascado, e seus sapatos estavam limpos, mas algo me chamou atenção, sua mochila era a mesma, e ainda continuava com o zíper quebrado.

— Seria legal comprar outra mochila... — Falei um pouco irônica apontando para a sua bolsa.

— Eu não vou comprar outra, ela é nova! — Ele falou agarrando a mochila com força.

— Então costura! — Falei fazendo cara de "dã", mas a expressão do Rony mudou de repente, e aos poucos ele pareceu triste. — Falei algo de errado?

— Claro que não, é só que... — Ele abaixou a cabeça e então a levantou devagar para me olhar nos olhos. — Era a minha mãe que fazia isso para a gente antes de morrer, eu até tentei costurar, mas não deu muito certo.

Ele levantou o dedo mostrando vários pontinhos vermelhos e sorriu de canto. Segurei a vontade de rir de seu incidente com as agulhas e lembrei do jeito que o Rony andava, com certeza sentia falta da mãe. Não era à toa que ele andava esfarelado pela escola. Lembrei da minha mãe, ela sempre lavava e dobrava minhas roupas, sem nunca reclamar... Aposto que a mãe do Rony fazia a mesma coisa, mas depois de sua ida, das coisas ficaram mais difíceis para ele e seu pai.

— Sinto muito...

— Não é nada, ela está com Deus agora. — Ele falou desfazendo seu sorriso bobo.

— Sabe... — Comecei a falar meia sem jeito, eu não queria falar, tinha medo das consequências que aquilo me traria. — Eu posso costurar para você, se quiser, claro.

Rony regulou os olhos sem parecer acreditar no que eu tinha acabado de dizer.

— Faria isso? — Ele falou entusiasmado tirando seus cadernos da mochila sem esperar pela minha resposta.

— Claro...

— Maju, você é incrível! — Ele me entregou sua mochila um pouco encardida, e me beijou na bochecha, o beijo mais animado que eu já tinha recebido.

Ele deu as costas caminhando pelo salão, e antes de entrar na sala dos pastores, aonde seu pai estava, Rony se virou e sorriu em minha direção.

Sinceramente? Eu não sabia se o Rony estava sendo exagerado de mais, ou se aquele ato era realmente tão importante.

Eu não sabia o motivo de toda aquela animação, se bem que se alguém quisesse lavar meus sapatos eu também ficaria super feliz.

Voltei a observar a igreja, e tentei voltar aos meus pensamentos e reflexões antes que a Nana chegasse e começássemos a falar igual matracas.

Mas outra coisa agora roubava a minha atenção, um garoto de cabelos negros e pele branca, conversava com uma senhora muito velhinha. Não, não pode ser ele, falei para mim mesma, mas não adiantava.

Pedro estava na frente do altar, era a primeira vez que o via na igreja, e depois de todo o ocorrido. Lembrei das mensagens anônimas, se ele disse que gostava de mim, por que tinha parado de enviar?

Eu precisava saber. Coloquei a mochila do Rony nas costas e levantei da cadeira a passos firmes, Pedro que me aguarde.

#Capítulotododia

MAJU - Entre Bosques E Garotas Malvadas. (REFORMA)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora