Capítulo 37

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John.

Ouço um barulho ao longe, mas minha cabeça está muito pesada, meus sentidos estão lentos, eu custo a conseguir abrir meus olhos. O barulho estridente está cada vez mais perto, mais forte, mais alto. Insuportável. Essa é a palavra. Fecho meus olhos com força tentando voltar à escuridão, ao silêncio, à ela.

Eu a vejo em meus sonhos, e ela está sempre tão linda, ela sempre está como na primeira vez em que eu a vi. Ela me provoca. Ri de mim.

E isso foi o que me encantou de primeira. E o que me encantava mais, e mais, a cada dia.

Engraçado. Nunca achei que eu seria tão dependente de uma mulher. Tão apaixonado, e cego. Agora ela não passa de um sonho inalcançável, doloroso, amargo.

Um fardo pesado demais para carregar.

O barulho ainda está presente, e pela primeira vez eu percebo que se trata da campanhia. Alguém persistente está a minha porta.

Bufo irritado.

O que um cara tem que fazer para ser deixado em paz?

Levanto-me à contragosto, e minha cabeça lateja. Seguro minha cabeça entre minhas mãos tentando em vão fazer tudo parar de girar. O quarto está muito escuro. Ando as cegas até as cortinas e quando eu as abro uma luz forte invade o quarto. A claridade faz meus olhos arderem. Vou até o banheiro e jogo água em meu rosto. Meus olhos estão inchados, e com círculos em um tom escuro.

Eu não venho dormindo muito bem a mais de um mês. Quando meus sonhos não são com ela, são pesadelos. Ela é a minha válvula de escape. Minha amarga válvula de escape.

Como eu sinto sua falta.

O que eu não daria para tê-la em meus braços outra vez?

Encosto meu rosto no espelho, e um sorriso frio se abre em meu rosto.

Você a deixou ir seu panaca! Você a deixou para trás!

O homem no espelho ri de mim. 

É insuportável encará-lo.

Saio do banheiro e vou em direção ao meu celular que toca em cima do criado mudo. Desbloqueando a tela vejo que tem dez ligações perdidas.

Nos primeiros dias eu não me controlava. Meu coração acelerava, a cor deixava meu rosto, todas às vezes em que meu celular tocava. Alguma coisa dentro de mim dizia: é ela. Só pode ser ela. Mas nunca era.

Mas como poderia?

Ela não tem meu número.

Pelo menos não esse. E por que ela me ligaria? Eu nunca vou esquecer da ira, do fogo queimando no fundo dos seus olhos castanhos quando ela disse que nunca mais queria me ver. Ela me tirou de sua vida, ela me descartou. Eu não era assim tão importante, afinal.

Ela me levou ao céu, e ao inferno, e me largou lá.

Meu anjo.

Minha Mel.

Eu dei tudo de mim, como eu nunca havia dado antes, como eu nunca havia me permitido. Eu a amei, fui sincero, dei o meu melhor. E ela? Jogou tudo em minha cara. Desprezou o meu amor.

Ela poderia ter me dito antes, nós podíamos ter conversado e chegado a uma solução juntos, mas ela resolveu decidir tudo sozinha. Me excluindo da sua vida.

Eu me recriminei muitas vezes por ter partido. Eu poderia ter lutado? Sim. Eu poderia ter me ajoelhado aos seus pés e implorado? Sim. Mas tudo nela, tudo o que ela disse, já deixou bem claro para mim que ela não mudaria de opinião. Ela estava me deixando. Desistindo de nós. E nada que eu pudesse fazer iria mudar isso.

Sob Minha PeleWhere stories live. Discover now