Capítulo 24 - Luke

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Estava ajeitando meus pertences sob a cômoda, guardando os livros no armário e fazendo uma pequena lista de deveres a cumprir durante o final de semana. Pensava em passar o fim de semana lendo um livro sob a sombra de alguma arvore no jardim. Afinal, já era inverno novamente, ainda não nevava e faltava poucos dias para o Natal.

O primeiro Natal, em "nossa" nova casa. Pensava se deveria chamar Asoka, ou se deveria esperar seu convite. Ela andava um pouco arrisca em relação a mim ultimamente. Não me abraçava mais como antes, calculava as palavras, e se abstinha de qualquer demonstração de afeto.

Perguntava-me se não tinha entregado os pontos, e se tivesse eu nunca iria saber. Ela não demonstrava uma reação, ou uma feição ao certo. Respondia sempre a todas minhas demonstrações de uma forma polida, contida, disfarçada sob um sorriso e um olhar a direção oposta.

Não sabia ao certo o que se passava em sua mente, pois também tinha parado de falar sobre Josh comigo e de suas dúvidas. De fato ela tinha percebido algo já, mas, porque não tomava uma atitude? Uma opinião? Uma resposta?

Ouço a porta se abrir e vejo Josh entrar, ele estava com um aspecto feliz, porém triste ao mesmo tempo. Ele entra abre o guarda-roupa e tira uma mala, verde musgo. A coloca em cima da cama, já aberta e começa a arruma-la.

Presencio tudo aquilo com indiferença, porém, uma duvida me fisga. Aonde diabos ele vai?

- Vai viajar? - pergunto virando-me para ele.

Ele para de mexer em seus pertences freneticamente e olha-me nos olhos um pouco confuso.

- Sim - responde tirando um papel de seu bolso.

- Se me permite a pergunta - começo endireitando-me - Aonde você vai? E por que.

Ele me da o papel e pego-o.

- Voltarei segunda - diz ele voltando a arrumar sua mala.
Olho para as informações do papel. Ele ficaria 3 dias fora, 3 dias... Ou seja: poderia ficar a sós com Asoka tranquilamente. Essa ideia invade minha mente e toma conta de meus neurônios, um sorriso de puta malicia se forma em meu rosto.

- Entendo... - respondo com a voz carregada em um tom de sarcasmo.

Ele faz menção de querer o papel de volta, pega-o sem olhar para meus olhos ou se dar ao luxo de interpretar minha reação. Mas também, ele estaria a algumas horas a quilômetros daqui. Ele não tinha de se importar com pequenos detalhes...

Em instantes ele termina de arrumar sua mala, programa o despertador e se deita. Quando me dou por conta são 22h da noite. Deito-me na cama e olho pela janela imaginando e arquitetando todos os meus planos... Sem dúvida seria perfeito...

- Asoka ira comigo para a Premiação - ele sussurra deitado na cama de barriga para cima, um sorriso de ponta a ponta em seu rosto moreno.

Minha mente para e desmaio, mas ele nem percebe que fora pro excesso de informações, deve ter pensado que era por cansaço, por sono. A noite passa, assim como as horas, o Sol nasce e com ele ouço os barulhos que indicavam que o corpo que pouco me importunava em meu objetivo estava indo embora, estaria fora por três dias...

Levanto-me com um sorriso no rosto. Tomo banho, Visto-me e me arrumo, estava pronto. Ando com as mãos nos bolsos, altamente despreocupado com qualquer coisa, pois a essa hora ele já deveria estar longe, muito longe.

Chego a porta do quarto de Asoka, Bato rapidamente três vezes e quem atende é Millene com o cabelo bagunçado e uma cara de sono extrema, estava desfigurada pelo sono.

- 15 minutos - diz ela antes de fechar a porta na minha cara.
Espero encostado a parede. Sorria comigo mesmo pensando no meu plano. Tinha de ter um álibi, não poderia ser Millene nem Asoka, pois nenhuma das duas contariam a Josh o que eu faria. Ficariam na surdina torcendo para que eu não comentasse nada, o que é óbvio. Isso seria pedir para morrer, dará cara a tapa, e todos descobririam meus objetivos de imediato.

Precisava de um álibi em que Josh confiasse e acreditasse, independente de suas intenções, que contasse a ele tudo o que ocorria, que envolvia Asoka, sem o menor escrúpulo ou pudor. Que o fizesse enlouquecer de raiva, e então... E então o circo estaria mais do que armado e pronto para pegar fogo.

A porta se abre e revela uma branquela de olhos azuis, com um vestido preto passado, brincos de pérola falsa e pouca maquiagem.
Estava elegante, bela, lindíssima como sempre. Mas aonde ela iria?

- Incomodei? - pergunto me aproximando dela.

Ela coloca uma mão a minha frente, como se pedisse distância.

- Seja direto - diz ela voltando para dentro do cômodo e pegando uma mala - Estou atrasadíssima - ela sorri e Millene esta deitada desmaiada em sono.

Ela se encosta na parede e fecha os olhos, poderia beija-la ali e agora, mas precisava fazer com que Josh ficasse com raiva... Muita raiva para que meu plano fosse perfeito por completo...

- Quer sair comigo e o Kyle após o almoço? - pergunto soando inocente - Dar uma volta, pegar um Sol e fazer fotossíntese.

Ela ri e me olha com aquele olhar que prende qualquer ser, seus olhos puxavam para dentro e para dentro. Queria poder sustentar aquele olhar durante horas, mas ela o desvia e responde.

- OK - se vira para a porta -Tenho de ir agora- diz ela acenando e sumindo pelo corredor.

Corro atrás dela e pego-a pelo braço;

- Aonde você vai toda arrumada assim? - pergunto com um tom enciumado.

Ela abre um sorriso largo, estonteante e Josh aparece ao seu lado como num passe de mágica colocando a mão em sua cintura discretamente - Vou com Josh á Premiação, no centro - os olhos negros do animal voraz brilham por detrás dos cabelos cacheados de Asoka- Temos que ir agora, me desculpe - ela acena para mim e some pelo corredor com Josh deixando-me só no frio.

Meu plano estava quase que destroçado. Ela iria com ele na viagem, provavelmente se envolveriam, teriam um caso... Não. Não deveria me desesperar tão rápido assim. Tinha de haver um jeito, uma forma... Tinha de readaptar o plano. Agora era só combinar com meu álibi, e estaria tudo certo. Estaria tudo certo...

Meus pés me levaram até o quarto de Kyle, mas meus pensamentos voavam ao além... Talvez eu tivesse chance, talvez depois disso eu ainda tivesse chance, era um plano perfeito, aliás.

Era apaixonado pela mesma garota, não, pela mesma mulher por longos anos, desde que éramos crianças... Estava ao seu lado nas horas mais críticas, ouvia suas grosserias, suas risadas, seu choro que se escondia atrás de seu sorriso, seus olhos que prendiam pessoas, sua voz que aquietava os mais agitados... Era e sou completamente apaixonado por ela.

E eu não vou deixar que ela sofra o mesmo que sofreu por Sebastian. Josh é temperamental, arrogante, vago, confuso, lerdo, não possui afeto, é grosso, curto. Ele iria magoa-la em menos de dois tempos, iria troca-la pela Layla em meia hora.

E ela? Ela iria chorar, se fazer em lágrimas... E seria difícil, seria demorado para que ela se sentisse bem novamente. Tinha de cortar esse mal antes que ele criasse raízes mais profundas, antes que ele arrancasse mais um pedaço de sua alma.

Bato na porta de madeira, e quem me recebe é Eithan. Garoto magro, com alguns músculos, loiro de olhos verdes. Segundo as meninas ele era o garoto mais bonito de todo Internato, e segundo alguns burburinhos ele andava de olho em Asoka... Esses burburinhos sempre estiveram errados em minha opinião, mas enfim.

- Kyle! - grita Eithan - O Luke!

Ele estava de cuecas, somente cuecas com a porta escancarada naquele início de inverno. Ele era louco, completamente louco.

- Obrigado - diz Kyle chegando a porta - Vai se vestir! Pare de andar nu por ai! - diz ele a Eithan que esboça um sorriso malandro e se retira para dentro - Fale - diz Kyle colocando somente a cara para fora.

- Quer sair comigo daqui a três dias? - pergunto direto rezando para uma resposta positiva - tenho que estudar para as provas, seria divertido uma comemoração depois da longa batalha que temos pelos próximos dias, chamada: Física. Não acha? - invento uma desculpa esfarrapada.

Ele pensa um pouco, e por um segundo sinto meu plano falhar... Ele era o álibi perfeito. Melhor amigo de Josh, que conta tudo aos detalhes sem o menor escrúpulo ou pudor... Ele instauraria a raiva e desconfiança nele, contando o que eu faria hoje, e era disso de que necessitava... Uma instabilidade entre eles dois.

Por mais abstrato que seja, eles dois possuíam uma conexão que não necessitava de palavras concretas, ou atos muito grandes. Era como se eles namorassem, e assim, mantivessem uma fidelidade entre ambos. Respeitassem a simples regras: não abraçar outra pessoa senão ela; não ficar de graça com outra pessoa senão ela; não ser diferente senão com ela; não estar apaixonado senão por ela... E por ai se vão às pequenas regras, executadas em meio aos pequenos detalhes que se desenhavam durante os dias, semanas e meses... Despercebidos pelos afobados, desligados... Mais totalmente vividos aos apaixonados que seguravam sua insegurança junto ao peito.

Como uma arma carregada, que quando o medo se instaura-se era somente apertar o gatilho que a mesma lhe atingia o coração e assim paralisava-o por completo, impedindo-o de continuar outra e qualquer ação, senão abandonar aquele coração que pulsa fracamente por outro novo inerte aos sentimentos.

- Sim - responde Kyle - Com certeza - diz ele em um sorriso meio malicioso.

Agradeço e digo-lhe o horário combinado, e o local. Ele assente e entro no quarto.

E agora era só esperar pela hora do show...



Rainha De FogoWhere stories live. Discover now