21. Encarando os demônios.

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            Tentei ir embora ainda pela noite, mas Justin me pediu tanto para dormir em seu apartamento que terminei cedendo. Não foi difícil dormir depois da noite desastrosa que havíamos tido juntos. Da noite, não, do sexo.

Dormi ali mesmo, no sofá, e Justin pulou para o outro sofá quando percebeu que não seria nada confortável dormir junto comigo. A verdade é que eu estava um pouco constrangida por dormir ao lado de Justin. Sorte a minha que ele era ingênuo demais pra perceber meu desconforto.

Acordei, no dia seguinte, com o barulho do liquidificador, vindo da cozinha. A primeira coisa que fiz foi checar meu celular a procura de alguma mensagem de voz desesperada de Bea. Como não havia nenhuma ligação perdida, supus que ela sequer havia voltado para o apartamento. Era uma excelente oportunidade para jogar aquela noite no mar do esquecimento.

─Ah, bom dia.

Percebi que Justin tinha tomado um banho e já estava arrumado para sair. Algo em sua expressão estava diferente. Desde que eu o tinha conhecido, ele não parava de sorrir em momento nenhum e agora estava um pouco estranho. Era como se... ele soubesse.

Lembrei que há alguns anos eu tinha uma mania de falar durante o sono e comecei a entrar em desespero. Será que eu tinha falado alguma coisa enquanto dormia? Deus. Se eu tivesse dito tudo o que se passava na minha mente, Justin nem conseguiria olhar mais pra mim.

─Eu tenho hora marcada com o Tracy hoje, então se quiser uma carona, saio em vinte minutos.

─Tudo bem. – Eu respondi, tentando soar o mais gentil possível.

Ele voltou para a cozinha e eu levei as mãos à cabeça, me sentindo o pior ser humano do mundo. Se Iara estivesse comigo naquele momento, ela, com certeza, diria que Justin é quem deveria se sentir culpado por ser péssimo na cama, mas ainda assim eu me sentia mal.

Recolhi minha camisa, jogada ao lado do sofá e vesti minha roupa. Dei uma olhada na minha aparência através do espelho da sala e quase tive um susto. Meus olhos tinham olheiras enormes e meu cabelo parecia que não via um pente há dias... Talvez Justin estivesse estranho porque tinha se assustado com minha cara.

Percebi que ele estava tomando um shake, provavelmente uma vitamina ou algo desse gênero. Digamos que musculação e alimentação saudável não era uma coisa a qual eu tinha muita intimidade.

Ele notou que eu o observava.

─É vitamina de banana. – explicou, como se soubesse que eu tentava adivinhar. – Você quer?

─Não, obrigada. – Meu estômago estava se contorcendo de fome, mas eu sabia que se aceitasse iria demorar ainda mais ali, e o que eu mais queria naquele momento era voltar pro apartamento de Tracy e não ver Justin nunca mais na minha vida.

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Assim que Justin e eu chegamos juntos ao apartamento de Tracy, logo demos de cara com o próprio. Eram oito horas da manhã e, justamente naquele dia, Tracy havia decidido acordar cedo e descer para o saguão. Sortuda mesmo, hein?

Decidi que o melhor a fazer era ignorá-lo e apenas me despedi de Justin com um abraço rápido. Seria covardia minha ir embora com um simples 'tchau', deixando o rapaz pensando que eu sou uma verdadeira megera.

Dei as costas para Tracy, mas eu sentia seus olhos me observando ao me afastar. Subi pelas escadas mesmo porque eu não aguentaria mais um minuto daquele clima de tensão e desconforto.

Só quando cheguei ao meu quarto senti-me inteiramente livre. Joguei longe minhas botas e casaco, atirando-me sobre a cama e glorificando minha privacidade naquele momento. Eu precisava de algumas horas sozinhas para repassar tudo o que estava acontecendo em minha vida antes de tentar lidar com tudo aquilo.

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