Capítulo 1 - Cecília

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Capítulo 1 - Cecília

Não lembro ao certo quando a minha vida mudou, tudo o que eu sei é que um dia quando abri os olhos em um hospital, me disseram que meu nome era Cecília Ávila.

Não sei o quanto disso é verdade, não consigo me lembrar de nada do passado.

A única explicação que recebi é que sofri um acidente e fiquei um mês em coma induzido para que o meu corpo e o meu cérebro se recuperassem do acidente.

Simples perguntas como: quem eu era, minha idade, em que anos estávamos, ou quem era o casal ao meu lado, não soube responder. A única explicação dos médicos fora que estava com amnésia, o problema é que não poderiam garantir quanto tempo ficaria assim.

Passaram cinco anos, cinco longos anos do acidente e mesmo assim nada voltou.

Continuo sem saber quem eu sou, ou quem são as pessoas ao meu lado. As únicas que realmente reconheço, são as que fizeram amizade comigo após o acidente.

Olho todos os dias para o casal que se dizem meus pais, mas não consigo realmente acreditar nisso. Fico com uma sensação estranha no peito de que existe alguma mentira nessa história toda, mas não consigo descobrir o que é. Adelaide e Eliseu Ávila eram dois desconhecidos para mim. Apesar de ver algumas fotos em que estávamos juntos, não conseguia ficar confortável perto deles.

Já tentei forçar a minha memória a voltar, mas ela não quer colaborar comigo.

Durante esses cinco anos consegui estudar e finalmente pegar o meu diploma de zootecnia. Meus pais – ou seja lá quem eles forem – queriam que eu me formasse como advogada, ou médica. Mas o meu coração sempre me chamou para os animais.

Logo nas primeiras aulas senti pela primeira vez que alguma coisa era certa. E a minha certeza se concretizou quando tratei de um cavalo a primeira vez. Ele estava arisco, não deixava ninguém se aproximar. Sentindo um impulso que não sabia de onde veio, falei com ele, estiquei a minha mão e deixei que ele me cheirasse, dez minutos depois eu consegui sendo orientada pelo professor, a tratar da pata do cavalo.

Ver o alivio nos olhos dele, e praticamente a gratidão, foram o incentivo necessário para estudar com mais vontade ainda.

Por isso agora duas semanas depois de pegar o meu diploma, estou esperando a minha amiga em uma lanchonete, tenho uma proposta para fazer e espero que de coração ela aceite.

— Cecília? — Marília chama da porta da lanchonete e dou um sorriso para ela. — Desculpa o atraso, peguei um trânsito horrível.

Como morávamos praticamente em lados opostos da Capital de São Paulo, uma acabava sempre se atrasando.

— Tudo bem, o importante é que chegou.

— O que queria tanto me falar? Fiquei curiosa.

— Mari, tomei uma decisão. Vou para o interior de São Paulo. — falo e ela fica sem entender.

Marília Machado era de uma boa família, eles possuíam dinheiro suficiente para que ela não trabalhasse, mas o pai insistia que ela deveria trabalhar e conquistar o mundo pelas próprias pernas. Não era porque ele tinha um grande escritório de advocacia na cidade que ela poderia bater pernas no shopping o dia inteiro. Admirava o pensamento do senhor e da senhora Machado. Mari era uma moça incrível, de bom coração, gentil e carinhosa. Meio maluca às vezes, mas isso só fazia com que eu a amasse ainda mais.

— O que você vai fazer no interior de São Paulo?

— Decidi montar um escritório para aconselhamento rural. Poderíamos trabalhar para as fazendas com orientação sobre o solo, ração, criação dos animais, e o melhoramento genético dos animais.

Memórias do Coração [No Wattpad até dia 16/07/2016]Where stories live. Discover now