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Sempre tive uns pensamentos estranhos, desejos diferentes que um garoto normal daminha idade tinha. Às vezes me sentia muito mal, mas não sabia o que era. Tinha dias que eu pensava estar louco, me achava anormal. Não sei explicar, era uma sensação muito ruim.

Por diversas vezes eu beijava minha namorada e não sentia nada. Era como se eu estivesse beijando uma parede.

Certo dia ela cobrou isso de mim, e o que eu poderia dizer? Explicar? Eu também não sabia o que era, não conseguia controlar aqueles desejos.

Um dia tive vontade de beijar o irmão dela, o vendo jogando futebol na rua com outros garotos, sem camisa, todo suado. Será que eu estava ficando louco? Não era normal um homem ficar pensando em outro, muito menos desejar um corpo masculino, principalmente o irmão da própria namorada.

Muitos jovens, antes da aceitação, quando se descobrem gays percorrem um longo caminho. Uma das primeiras reações é tentar negar à si mesmo o que sentem, achando quetrata-se apenas de uma fase. O tempo passa e os sentimentos persistem, e quando não hámais como negar aqueles sentimentos, sentem-se um peixe fora d'água, ausente de um mundo conhecido como "normal", perguntando-se: "Por que comigo?".

Perdi a conta de quantas vezes aliviei minhas vontades no banho, pensando em corpos masculinos. Por causa desses e outros pensamentos que eu saí de casa na intençãode acabar com tudo isso, livrando-me de todo esse sofrimento e tortura.

Afirmar que a homossexualidade é uma opção, reforça os preconceitos, pois optarpor algo é responsabilizar-se por aquilo que escolheu, porém, não é o que acontece.Conscientizar-se sobre sua homossexualidade trata-se de um processo, e não um acontecimento. Essa conscientização às vezes ocorre cedo, podendo também levar anos para que aconteça.

Eu nasci e fui criado em Doncaster, sou filho único. Vim de uma família humilde, apesar disso meu pai nunca deixou nos faltar nada, porém, nossa vida sempre foi muito simples. Eu me lembro que no meu último aniversário, meu pai me deu uma bicicleta depresente. O coitado economizou o ano inteiro para poder conseguir compra-la.

Perto de casa havia uma represa onde ficava cheia de moradores da região em dia de verão. Minha mãe costumava me levar todos os domingos à tarde quando eu era criança. Passávamos lá por um longo tempo. Tenho saudade daquela época.

Ao sair de casa naquela manhã de sábado, deixei um bilhete sobre meu travesseiro.Tratava-se de uma carta de despedida.

Mãe e Pai!

Por todo esse tempo eu venho sofrendo, lutando contra um sentimento queinsiste em me perseguir. Às vezes quando escuto vocês conversando sobre a hora de terem netos eu me entristeço, pois não consigo mais desejar uma mulher. Não sei o que acontece comigo, não acho isso normal, não pode sernormal.

Por isso, estou me despedindo através dessa carta. Não vejo mais sentido em viver, não quero mais sofrer ouvindo vocês desejarem uma casa cheia denetos e eu não poder dar. Desculpa por não ser o filho ideal.

Amo vocês! Louis.

MOR.COM::l.s versionWhere stories live. Discover now