Capítulo 4 - Mudança de Habito

8.6K 741 353
                                    

Há uma grande diferença em ser gay e não ser notado e ser gay e ser motivo de chacota de toda a escola. Minha vida havia mudado drasticamente nos últimos dias. A luz do sol adentrava o meu quarto aos poucos, o relógio marcava seis e meia da manhã. Eu estava acordado, não havia dormido como dormira antigamente.

Levantei-me devagar, e caminhei silenciosamente até o banheiro. Meu corpo doía, tirei a camisa e vi os borrões roxos que marcavam o meu corpo, uma lembrança de que ser gay é condenável. Eu estava acabado. Meus olhos estavam fundos e roxos.

Encostei-me na parede e desmoronei. As lagrimas caiam pela minha face tão rapidamente que eu não conseguia controlar o fluxo. Mas o que eu poderia fazer? A resposta mais óbvia é falar com os seus pais, mas não era uma boa ideia, era uma péssima ideia.

Meus pais eram extremamente religiosos, minha mãe uma beata fervorosa e meu pai, sabe lá o que se passaria na cabeça dele se souber que seu único filho é gay. Eu poderia suportar as surras da escola, mas ter meu pai me batendo não era uma opção.

- Noac... Filho, esta tudo bem? – a voz de Luciana, minha mãe, mansa e calma do outro lado da porta do banheiro.

Engulo o choro rapidamente e seco os meus olhos.

- Esta mãe. – disse em meio a um sorriso forçado abrindo rapidamente a porta do banheiro e a olhando.

- Estava chorando?

- Não! – digo coçando a cabeça – Estava lavando o rosto, ando com insônia e estou ficando um caco...

- Está bem, vou marcar uma consulta com o Dr. Carlos. Não demore se não vai e atrasar para a escola.

- Tudo bem. – disse sorrindo enquanto ela se virava e eu fechava a porta do banheiro.

Quando finalmente sai de casa, olhei para a bicicleta, mas lembrei que a pé daria apenas o tempo de chegar e entrar na sala rapidamente sem ser alvo de qualquer piada, já que quando o professor estava na sala não havia nenhuma retaliação a mim.

O sol não esquentava a minha pele como antes, as nuvens cinzas começavam a dar o ar da graça em nossa cidade, então os dias ensolarados haviam terminado. Coloquei os fones de ouvido e sai em direção a escola, quando sinto a mão de alguém tocar meu ombro.

- Ai! – a dor é imediata.

Meu corpo se move rapidamente, minhas mãos deixam o celular cair no chão, a mochila que estava presa em meu ombro cai e minhas meus braços vão em direção ao meu rosto em um modo automático de defesa. Meu corpo eu poderia esconder, mas meu rosto não era uma opção para ficar cheia de hematomas.

- Ei... Calma sou eu... – dizia a voz dele.

Meus braços se abaixaram devagar. Olhei para o garoto que estava parado na minha frente, seu semblante estava preocupado. Caio era o melhor amigo de Doug, seus olhos era azuis como o céu em um dia de verão, ele é loiro em um tom dourado que fazia com que seus fios brilhassem no sol.

Ele frequentava a academia, era preocupado com seu corpo. Tinha ombros largos e era um pouco mais alto que eu. Usava uma camisa branca de mangas longas e pretas dobradas até o seu cotovelo, nela havia o símbolo de uma espiral com um triangulo deitado que se mesclava a forma oval.

- Esta tudo bem? – ele me olhou preocupado.

- Não vai me bater? – olhei para ele com os olhos cheios de lagrimas.

- Não! Claro que não. Espera... – ele me puxou pelo braço e abaixou parte da camisa e olhou para meu ombro roxo – Estão batendo em você? – ele parecia irritado.

Puxei a camisa de volta ao lugar e peguei minhas coisas que estavam no chão.

- Não. Eu cai andando de bicicleta. – suspirei me agachando e pegando minhas coisas. – Você não deveria estar na escola a essa hora?

- Você também.

- Touché.

- Na verdade eu vim te acompanhar.

O olhei incrédulo.

- Como? Acho que estou surdo, ou as pancadas foram fortes de mais e estou entubado a essa hora tendo uma visão de uma vida que fosse mais legal, mas seria crueldade eu sofrer no próprio sonho.

Ele riu e se agachou pegando o meu celular e me entregando.

- Aline disse que você não quer companhia.

- Bem ela entendeu a mensagem, falta você.

- Ai... Essa doeu.

Dou de ombros e me ponho a caminhar até a escola.

- Essa era a intenção.

- Então tenho uma péssima notícia a você Noac Oliveira. Suas tentativas de me manter longe não surtiram efeito.

Rio com a frase.

- Plagio é crime, pare de roubar as frases de John Green.

Ele sorriu e se pôs ao meu lado, caminhamos em silencio até que finalmente chegamos ao nosso destino. Como eu havia previsto não havia ninguém nos corredores e a aula já deveria ter começado. Segui até a sala, respirei fundo e abaixei a minha cabeça seguindo em direção a minha carteira.

- Mas que merda o viadinho ainda está vivo! Galera cancela a comemoração, não foi dessa vez!

Gargalhadas.

- Mas o que está havendo aqui? – a voz do professor de cálculo ecoava.

Ele sempre chegava atrasado, havia me esquecido deste detalhe. Apenas me virei e olhei para o professor que se encaminhava para a sua mesa.

- É Noac, o que esta acontecendo? Algum problema? – disse Alex se levantando da carteira.

Alex era um gordo que se empanturrava com frituras e era líder do time de futebol americano. Ele tinha um odor característico, ficava uma poça de suor com o mínimo de calor. Ele era maior e era o que coordenava as surras diárias. Eu não podia aguentar, então sem pensar sai correndo para fora da sala.

As lagrimas deixavam minha visão embassada e quando finalmente pude me situar eu estava no banheiro, caminhei até o ultimo box, mas fui puxado para tras.

- Ah ta chorando putinha? Nem te comi ainda... – dizia ele rindo cinicamente. – Vem cá, deixa eu comer esse seu rabo sua puta.

Ele me jogou contra a parede e me apertou contra ela segurou um dos meus braços nas minhas costas e o apertou.

- Nenhum piu seu viado. Espero que aguente vinte e dois centímetros porque faz tempo que mão como uma buceta então seu cuzinho vai servir.

Ele abaixou minha calça, enquanto eu tentava me desvencilhar, então houve um choque. O cheiro de ferrugem impregnava minhas narinas, minha cabeça começou a doer. E logo depois sinto algo me rasgar no meio me fazendo gritar de dor e ele urrar de prazer.

- Ah um cuzinho virgem, são os melhores. Agora toma sua puta.

Ele enfiava seu pau em meu cu com força enquanto eu sentia meu sangue escorrer pelo meu rosto, então em um único movimento ele dobrou meu braço me fazendo gritar de uma dor lancinante.

- Cala a boca sua puta.

Ele me jogou no chão, minha cabeça recebeu um novo impacto, ele se posicionou novamente entre minhas pernas e enfiou fundo, gritei novamente e ele tapou minha boca e apertou meu pescoço com a mão. O ar começava a me faltar enquanto ele urrava de prazer.

- Vou gozar minha putinha.

Então sinto as veias pulsarem, e em seguida algo quente me encher e nessa sequência ele me aperta o pescoço com tudo o que tem, não existia mais ar. Meus olhos não aguentavam se manter abertos e pedi a Deus que eu morresse, e que tudo aquilo acabasse. Eu só queria ter paz e tudo o que eu ouvi em meus últimos momentos foi a voz de Caio.

- Noac!

Então tudo se foi em um fechar de olhos.

Surreal | Romance BLOnde histórias criam vida. Descubra agora