Capítulo 7

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Me sentia muito mais leve depois das seções com a Dra. Maria Eduarda. De alguma maneira, lembrar da minha história, de Edgar, era difícil, mas ela conduzia meus pensamentos diante de tantas recordações dolorosas fazendo-me refletir sobre minhas ações e sentimentos. Por mais racional que buscasse ser, sozinha, eu não conseguia chegar aquelas conclusões. Dra. Maria Eduarda me confrontava diante de minhas recordações, meus sentimentos e minhas culpas. Eu me sentia confusa sobre tudo, mas estava sendo muito bom, pois eu começava a enxergar tudo sobre uma nova perspectiva. Era como se aos poucos, eu pudesse conquistar a liberdade. E isso era maravilhoso.

Naquele dia, eu havia marcado de almoçar com Luke. Não com meu psiquiatra, o Dr. Baldini, mas o homem que estava me fazendo sentir coisas que achei que não sentiria mais. Ele me deixava insegura, com os sentimentos que me causava, mas eu acho que valia a pena me arriscar. E era isso que eu estava fazendo.

Aproveitei que aquela manhã estava relativamente tranquila e fui visitar alguns pacientes na ala da internação. Fazia parte da minha rotina como nutricionista do hospital e eu queria também, visitar a moça que estava toda machucada. Eu não soube mais dele e queria vê-la.

Procurei por ela, a moça do quarto 32. Entrei com cautela, para não lhe incomodar. Ela estava novamente sozinha. "Será que ninguém a estaria acompanhando? Será que ninguém se importava com ela?", eu pensei.

Ela estava sentada numa poltrona no canto do quarto. Estava lendo um livro e sua aparência era bem melhor do que da última vez em que estive ali.

- Oi, bom dia!

Ela me olhou com certo receio. Parecia desconfiada. Seu rosto estava bem melhor, apesar dos hematomas ainda não terem desaparecido por completo. Ainda haviam manchas arroxeados, mas estava melhor com toda certeza.

- Bom dia. – Ele respondeu.

- Não sei se lembra de mim. Estive aqui logo que deu entrada no hospital. Sou Manuela Moraes, a nutricionista.

- Não lembro bem. – Seus olhos eram meio inseguros.

- Tudo bem. Vim ver como você está. Se sente melhor?

- Sim. – Respondeu brevemente, parecia com medo, talvez quisesse evitar mais perguntas.

- Que bom. E quanto a comida? Está tudo bem? Tem se alimentado direitinho? Sou eu que monto seu cardápio e você pode me dizer se não gosta de algo que posso adaptá-lo ao seu gosto. Estou vendo em seu prontuário que tem se recuperado muito bem. Você teve uma hemorragia interna, então ainda temos que ter cuidado com alimentos mais gordurosos. – Eu expliquei com cautela.

- Eu gosto da comida daqui. – Ela disse de forma tímida.

- Fico muito feliz. Se precisar de alguma coisa ou quiser que mudemos algo em sua dieta, se for possível, é só entrar em contato com a Nutrição através do telefone, ramal 8, ou peça a uma das enfermeiras, elas mesmas entram em contato e venho falar com você, tudo bem?

Ela assentiu com a cabeça. Senti uma necessidade de saber mais daquela mulher, que ainda parecia assustada e solitária. Sei que eu não seria a melhor pessoa a ajudá-la, mas não conseguia parar de imaginar o que ela tinha passado. Alguém a tinha machucado e eu sabia o que era se sentir assim.

- Você me parece bem melhor agora. Alguém está lhe acompanhando... – Olhei seu prontuário novamente para verificar seu nome. - ...Laura? É um nome lindo!

- Não, estou sozinha. – Laura desviou o seu olhar do meu. Parecia um pouco constrangida.

- Não tem ninguém que possa lhe acompanhar? - Perguntei com cuidado.

Até virar obsessãoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora