A Ponte Tangi

360 24 0
                                    

  Ele nem sempre os via saltar, mas o som da morte era inevitável. Alguns gritavam durante a queda; outros caiam em um silêncio digno. Mas as vidas sempre terminavam da mesma forma: Com um revoltante e doentio splash.

Alguns optaram por ir até sozinho, mas a maioria era grato por sua presença em suas horas finais. Alguns conversavam sobre toda sua vida até ali, embora muitos outros se contentaram em simplesmente sentar-se calmamente ao lado dele até o amanhecer. Então, depois de firmarem-se os nervos, escutam o ultimo rangido e se lançam da ponte de madeira à água abaixo.

Ele tinha dito para nunca assistir, mas ele sempre fazia. Como não assistir? Era o mínimo que ele poderia fazer, ele sentia que era seu dever estar com eles nesses ultimos momentos fugazes, para que eles soubessem que não estavam sozinhos e que alguém se lembraria deles.

Os que realmente aceitavam esse destino iam sem medo. Esses eram os mais afortunados, sua calma e serenidade ajudava-os lembrar do que tinha aprendido na escola. Aprendiam que se algum deles fosse convocado, a forma ideal para saltar na obliquidade ideal para a morte mais rápida e menos dolorosa.

Os que gritavam sofriam mais.

Eles frequentemente se debatiam na queda, agitando a água, batendo nas pedras, caindo em um ângulo estranho e quebrando a maioria de seus ossos estruturais. O instinto de sobrevivência os fazia mergulhar em pânico, impotente e com os membros quebrados.

Se eles sucumbiam à água fria ou lesões, eventualmente se acalmavam já sem vida, com o corpo flutuando em poças dissipada de vinho enquanto o rio varria seus corpos ao mar.

Ele tinha visto um número suficiente de saltadores ao longo dos anos para saber que caminho ele preferiria ir. Eles recebiam cartas anônimas, dizendo que eles eram o escolhido da vez para saltar.

O turno da noite era o pior. Proibidos de se despedirem de seus familiares e amigos, a maioria os saltadores optaram por deixar no meio da noite, enquanto o restante da cidade ainda estava perdido em seus sonos inquietos.

Não havia uma família entre eles que não passavam os meses de gestação em preocupação constante, e o silêncio impediam angustiantes despedidas emocionais, como poderia criar ondas de dúvidas nessa lei da cidade em que para haver alimentos para todos, a cada nascimento alguém tinha que tirar a própria vida em bem da comunidade. Dessa forma, no momento que a manhã chegava, já era tarde demais.

Seu/sua amada já tinha ido embora.

Os saltadores escolhidos para tirar a própria vida eram heróis desconhecidos da sua ilha pequena e isolada de meios limitados, a honra dos escolhidos duravam pouco, por isso a maioria se tornava nada mais do que fantasmas da Ponte Tangi que todos esperavam esquecer.

Ele se lembrava de todos eles; alguns com mais clareza do que outros, mas cada rosto, cada nome, cada desfecho que ele tinha compartilhado estava com ele enquanto ele patrulhava a ponte longa e tranquila nesta noite fria e turva.

Sua lanterna era mais do que tudo inútil, uma vez que lançam um brilho dispersado sobre o nevoeiro que pairava no espaço entre os drifts niveous, e a meia-noite já tinha passado pelo tempo que ele viu um vislumbre de um leve rastro de pegadas minúsculas que foram sumindo na neve.

Ele seguiu solenemente.

Uma forma escura começou a tomar forma na névoa

Uma forma escura começou a tomar forma na névoa, e ele foi capaz de discernir a figura suave de uma jovem mulher, com suas longas saias espessas com anáguas, olhando para baixo através da água.

-Olá - disse ele - Você está bem?

Ela tinha um sorriso gentil e havia bondade em seus olhos.

Eles passaram horas juntos, passeando de braços dados na neve brilhante, conversando e rindo como se tivessem se conhecido a vida inteira, como se fosse à coisa mais natural do mundo estar na ponte juntos esta noite - como se eles não estavam simplesmente passando o tempo até sua morte.

A chegada da aurora na manhã seguinte foi especialmente cruel.

Mas não havia nada a ser feito.

Ele segurou sua mão enluvada, delicada e tremendo, enquanto ela levantou seus saiotes na altura do joelho e subiu por cima do corrimão. Seus pés pendiam lá por um momento antes de ela deslizar para o outro lado, tremendo, os olhos intensamente fixo na queda d'água abaixo que te espera.

Seu pulso acelerou, com a garganta apertando pouco ar em seus pulmões. Ele inclinou-se envolvendo-a em seus braços. – Me prometa que não vai gritar – disse ele, sua voz suou mais como um sussurro.

Ele sentiu um pequeno aceno de cabeça. – Eu não – Ela se virou para encará-lo. Sua pequena mão confiante se tornou mole, com o cabelo liso como seda soprando suavemente no frio do vento cortante.

Ela estava tremendo agora.

Eles olharam para dentro dos olhos um do outro, cada um tentando viver uma vida naquele momento.

Ele abaixou a cabeça em reverência e apertou os lábios em cada uma de suas mãos antes de deixa-la ir.

A lei era a lei. Mas, pela primeira vez na vida, percebeu o quanto era injusta.  

CreepypastasWhere stories live. Discover now