A Pílula Do Amor

cap 1. Lembretes

"Olá, esse é mais um diário online da Meddie, e eu sou a Med.."- fui interrompida no meio da frase, por alguma coisa que minha mãe berrou do andar de baixo.

-oque???- perguntei

-eu disse pra você descer! E desliga logo esse computador!- ela estava aos Berros na cozinha.

-OKAY! e isso não é um computador! É um notebook!- resmunguei a segunda parte em voz baixa pra poupar minha garganta de inflamar outra vez.
Só havia 2 dias que tinha melhorado um pouco.

Desliguei o notebook e o encarei aberto ainda sobre o meu colo, me decidindo o que iria fazer hoje.
Decidi sair da cama pelo menos, e me forçar a comer algo decente.
Ao menos ela pararia de me encher, e logo que saísse, eu voltaria pra minha doce e maravilhosa cama.

Me arrastei pra fora das cobertas, e me obriguei a ficar de pé.
Coloquei um roupão por cima do pijama amassado, e desci as escadas com a minha cara amassada e meu cabelo espetacular de sempre.
Espetacularmente horrível.

-eu já disse que não quero você o dia todo naquele computador, Med você precisa sair, fazer amigos, namorar..- minha mãe me encarava com um sorriso bobo.

-minha mãe está me aconselhando a arrumar um namorado? É sério isso? MINHA MÃE?- Indaguei indignada.

Ela riu alto, e eu revirei os olhos pra ela.
Essa era a minha expressão mais usada em toda a minha vida.
Minha mãe dizia que podiam dar meu nome a ela, a expressão "Meddie".

Estava me servindo de uma taça de frutas com yogurte, quando ouvimos um carro encostar do outro lado da rua.
Minha mãe esticou o pescoço pra ver pela janela, e logo abriu um sorriso de "HM".

Olhei pra ela e esperei ela dizer oque foi.
Ela me deu uma levantada de sobrancelhas e disse :

- estou de saída, você sabe, atrasada. -me deu um beijo na testa e completou:- não quero que fique trancada em casa hoje. Está um dia lindo lá fora, e pelo visto acho que teremos vizinhos novos. Porque não vai ate lá conhecer eles? Quem sabe não tem alguem da sua idade?!- riu sozinha e saiu pela porta me deixando com cara de "an?".

Terminei de comer, e subi para escovar meus dentes.

Depois de fazer minha higiene, decidi logo tomar um banho e trocar de roupa. Estava com o mesmo pijama a quase dois dias, e não pentiava o cabelo a uma semana.
OK, eu sei que sou um pouco menos feminina que a maioria das garotas... Ta, na verdade eu não tenho a mínima idéia do que eu to fazendo quando o assunto é maquiagem e muito menos se " arrumar".
Então decidi optar pelo meu casual de sempre.
Coloquei uma camisa de algodão cinza, joguei uns colares por cima, vesti um jeans e pus meus allstars favoritos, os vermelhos.

Estava tentando secar meu cabelo, quando o despertador tocou me avisando a hora do remédio.

-qual sera o de agora?- me pergunto tentando lembrar.

-ah. Já sei- busquei pela gaveta bagunçada, um frasco com o nome certo.
Tofranil, o frasco era vendido apenas sob prescrição médica, mas eu consegui um com meu amigo farmacêutico, o Tom.
Ele era muito legal comigo, sempre me dava analgésicos de graça quando minha mãe ia ate a farmácia pra comprar absorvente.
Ele é mais velho, tem 22, e eu só 17.
Mas tudo bem, não é como se ele estivesse dando encima de mim. Até porque ele deve ter namorada, e eu sou só uma garota doente e sem graça pra ele.
Além do mais, eram só alguns frascos de anti depressivos que não chegaram a vender, e ele deu pra mim.
Minha mãe não sabia, e eu também não pensei em dizer.
Se ela soubesse que eu estava me auto medicando de novo, iria me levar a um psicólogo e dizer que eu não preciso tomar nada.
Ele por sua vez, diria que eu não tenho depressão.
Mas é claro que não né. Eu só tomo mesmo por precaução.
O quanto antes eu me medicar, menos chances de ficar depressiva eu tenho.

Tomei dois comprimidos de uma vez, e depois continuei a secar meu cabelo.

Ouvi risadas e conversas de pessoas do outro lado da rua.
Eles riam alto, pareciam animados com a mudança.
Me atrevi a olhar pela janela, e foi aí então que tudo começou.

O avistei logo de cara, parado do outro lado da rua, segurando uma caixa e com um corpo que provavelmente conquistaria metade da escola.
Moreno, alto, forte demais pra idade que aparentava ter, cabelos pretos e precisando de um corte urgente, barba rala, e .." minha nossa ele me viu"- pensei assim que vi ele pousar os olhos em mim.

Na verdade ele somente olhou pra cima, na direção da minha janela.
Não que desse pra me ver lá com a maior cara de idiota, mas ele devia ter me visto com certeza.
Pois olhou pra minha direção, e de repente abriu um sorriso como se soubesse que alguem estava ali.
Me abaixei rápido, mas não pude deixar de notar o sorriso dele.
Fui levantando devagar, e espiei pelas persianas novamente.
E lá estava ele, olhando pra minha janela fixamente.
Um arrepio desceu pela minha espinha, e pensei ter sido um dos sintomas colaterais do remédio que acabara de tomar sob minha própria prescrição.

Ele não parecia uma má pessoa, contanto, também não parecia ser uma boa pessoa.
Meu pai sempre dizia que nós podemos saber oque uma pessoa complementará para a nossa vida, a partir do primeiro contato com ela.
E oque eu podia dizer sobre ele, é que ele não era uma boa coisa.
E então o desgraçado resolveu mudar um pouco a minha perspectiva, tirando completamente a camisa.
Soltei um suspiro, e me peguei tapando a boca sem entender o porque.
Ele era um gato, aliás muito gato.
Mas era perigoso, muito perigoso.
Perigo era oque meu cérebro dizia sobre ele, já o meu corpo, não sei oque ele resolveu dizer ou não dizer.
Engoli em seco, vendo ele tirar mais uma caixa de dentro do porta malas, e levar nos ombros ate a entrada da casa.
Senti um nó na garganta só de imaginar tal cena, mas me vi tentando ir lá cumprimentar ele.
Afinal de contas era isso oque minha mãe queria, e eu não deixaria ela decepcionada.
Resolvi dar mais uma espiada, e então desci ate a porta e saí pra pegar as correspondências como quem não quer nada.

Parei antes de abrir a porta, e espiei mais uma vez pelo olho mágico.
"Nossa".. Parei o pensamento insano e disse a mim mesma:
-santo Deus, oque esta acontecendo comigo?"-
Respirei fundo, tomei ar, bati o pé decidida, e abri a porta.