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O CASEBRE DE MADEIRA COM QUASE toda a tintura descascada, aquele no canto mais sujo e escondido da rua, era a única instalação do bairro sem chuveiro com aquecedor

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O CASEBRE DE MADEIRA COM QUASE toda a tintura descascada, aquele no canto mais sujo e escondido da rua, era a única instalação do bairro sem chuveiro com aquecedor. Podia ouvir os banhos demoradamente invejáveis de seus vizinhos, enquanto para ele e suas irmãs já havia se tornado um costume os banhos mais breves.

A garota pálida e ruiva da casa ao lado era com quem dividia a parede do quarto. Todos os dias, quando voltava para seus aposentos após o jantar, podia ouvir o estardalhaço vindo da suíte da menina despreocupada, que não saía do banho antes da mesma playlist de sempre acabar. Aiden sabia de cor a ordem das músicas, e se distraía imaginando qual seria a próxima quando ela colocava no aleatório.

Ele nunca considerou a questão do chuveiro de água trincando como algo que devessem esconder, afinal o fato já não era segredo para ninguém. Na verdade, era apenas a prova concreta de que sua situação financeira estava enfim se agravando. Não que isso fosse muito além do esperado. Já fazia cinco anos desde o acidente, os irmãos sabiam que não daria para continuarem dependentes da herança para sempre. Ele, Rebecca e Courtney, os mais velhos, se viravam como podiam com empregos instáveis de meio-período que, sempre depois de muita súplica, acabavam arranjando no Reino. Mas mais hora, menos hora, já estava previsto que os gastos começariam a ultrapassar os salários.

— Não basta eu, você, Lauren e Rebecca, mas agora Mellie é a nova procurada pela polícia — foi como Courtney anunciou a sua chegada, abrindo a porta bruscamente para em seguida jogar em cima da mesa o panfleto preto e branco com a ponta rasgada. Aiden presumiu que foi arrancando de um poste qualquer que a irmã mais velha o conseguiu.

— Bom dia para você também — ele saudou, indicando a xícara branca de café na direção de Courtney, o sarcasmo transbordando em sua voz.

Ela largou as malas surradas no chão de qualquer jeito e enfim foi dar um abraço no irmão. Envolvendo-a, Aiden pousou a xícara em cima da pia atrás de si como conseguiu, ainda surpreso com a repentina demonstração de afeto. Ao contrário de Mellie e Lauren, Courtney não era exatamente o tipo de irmã carinhosa. Até em seu aniversário, e ainda se os gêmeos dessem sorte, a mais afetuosa de suas atitudes era parabenizá-los com um resmungo no café da manhã, ainda com os olhar fixo na pilha de panquecas. Seu ponto alto havia sido sete anos atrás, quando os parabéns acompanharam o mais leve dos sorrisos.

Aiden a apertou em seus braços. Era a primeira vez que se viam desde que ela partira em busca da Escolhida, há quase dois anos. Ele sentia falta daquele olhar negro e brilhante que quase todos os irmãos, com exceção de Rebecca, herdaram. Sentia falta de seu cabelo cheirando a shampoo, aquele com o aroma leve de canela desde os onze anos. Sentia falta do sorriso que raramente estampava seus lábios, mas que quando aparecia, era tão radiante que Aiden acreditava ser capaz de iluminar o Parisian Hollow Underground, o túnel mais sombrio e abandonado da cidade.

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⏰ Última atualização: Nov 08, 2021 ⏰

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