4

80 7 4
                                    

Já era final de tarde e o sol continuava brilhando intensamente, sem indícios que deixaria o céu tão cedo. Podia-se ouvir os cantos dos pássaros sobrevoando a cidade e sobre as árvores espalhadas por ela, também podia-se ouvir o som do motor da Super Glide que cortava o vento em uma silenciosa rua. Harry pilotava de volta para casa, carregava em seu peito uma ansiedade inquietante. Queria falar logo com Christopher, queria perguntar se aquele casal da foto eram realmente seus pais, queria saber de tudo e mais um pouco sobre eles.

Harry já conhecia bem o caminho de casa, havia gravado facilmente as ruas por ali em volta, gostava delas por serem espaçosas e dos pinheiros que enfeitavam a margem da estrada. A casa de Christopher ficava longe do centro, afastada para o final da cidade, onde havia poucas casas aos redores. Ele ouvira, outro dia, seu tio comentar que as pessoas não gostavam de morar naquela área por medo de serem atacados por animais selvagens que costumavam rondar por ali por causa da floresta, mas Christopher achava aquilo uma tolice e para ele era o melhor lugar da cidade para se morar.

À poucos metros de chegar em casa, Harry avistou de longe um automóvel estacionado a frente da mesma, ele amaldiçoou a si mesmo quando reconheceu o carro. Em seguida, diminuiu a velocidade da Super Glide e, com um olhar de insatisfeito, fitou a garota encostada sobre capô do automóvel que o observava se aproximar. Harry logo parou a moto e retirou o capacete de sua cabeça. O uivo do vento forte e fresco soou em seus ouvidos, fazendo seu cabelo chicotear seu rosto, enquanto encontrava os olhos de Lesley.

A velha ruga na testa do jovem demonstrava o desagrado de vê-la. Depois de presenciar a cena mais cedo, tudo que Harry desejava era não mais esbarrar com a aquela garota. Mas vê-la ali, a sua espera, o deixou confuso e sem saber o que dizer. Como se ela o fizesse perder o foco e as palavras de sua língua e ao mesmo tempo quisesse despejar todo o seu desagrado.

Harry desceu da moto e deu alguns passos para perto da garota, cruzou os braços a frente de seu peito e com sua expressão séria manteve o olhar sobre ela, que se mantinha inquieta com sua aproximação. Ele reparou o nervosismo que Lesley tinha em evitar agora o contato visual e o desespero de encontrar palavras para se dirigi-lo.

Alguns minutos haviam se passados e nenhum dos dois haviam trocado nem se quer uma palavra, apenas rápidos olhares sem expressões. Então, Harry suspirou fundo, segurou o cabelo ao vento com uma das mãos e deu as costas para Lesley, se caminhando de volta para sua moto, quando ouviu a voz da garota o fazendo parar:

- Espera!

Harry a olhou por cima dos ombros e, momento depois, se virou para ela.

- Você quer que eu fique mais quanto tempo olhando para sua cara?

- O tempo que for necessário para... - ela parou buscando as palavras

- Para?

- Para você aceitar minhas desculpas.

Harry deu mais alguns passos se aproximando da garota novamente e assim a encarou tão de perto que podia ver seu reflexo pelos olhos dela.

"Tão azuis quanto o céu, mais intensos que o mar". Harry descrevia em seus pensamentos a imensidão dos olhos daquela que teve a desgostosa honra de conhecer e - de estar preste a novamente - trocar palavras não tão amigáveis quanto pretendia a noites atrás.

- Escuta aqui... - a voz rouca dele saiu dos lábios rosados. - Eu não estou afim de aceitar suas desculpas esfarrapadas, muito menos afim de falar contigo.

Harry viu quando Lesley mudou o peso de uma perna para outra provavelmente desconfortável, e o fitou por debaixo dos cílios espessos. "Pare de reparar nos detalhes!!" sua consciência gritava.

Wolves | H. S.Where stories live. Discover now