* do pó ao pó *

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A MANHÃ irrompeu com violência pela janela sem cortinas.  A forte luz do sol,  misturada aos resquícios do uísque, fez sua cabeça latejar,  trazendo uma enxaqueca matinal para estragar o dia. Mas desta vez era diferente. Isa não só conseguia se lembrar de como tinha voltado ao seu apartamento, como estava dominado por uma dor que não se parecia com qualquer  outra que tivesse sentido antes. O fato de ter se esparramado e desmaiado no sofá numa posição estranha talvez pudesse explicar a rigidez em seu pescoço  e  ombros, mas nada em sua memória se comparava aguele latejar incisivo,  como se alguém tivesse desencadeado uma série incontrolável de trovões dentro de sua cabeça. Algo estava muito errado!
Os bolsos,  encontrou apenas um molho de Chaves. Foi então invadido,  súbita e irremediavelmente,  por  uma terrível sensação de vazio,  de isolamento. Seu suposto Salvador,  o fornecedor eletrônico de todas as coisas imediatas porém efêmeras, tinha desaparecido.
   Passou-lhe pela cabeça que seu celular talvez estivesse no bolso do paletó,  pendurado nas costas da cadeira da cozinha,  mas a porta do apartamento se trancara automaticamente depois de ele sair.  Um de seus olhos não estava enxergando direito,  então ele estreitou o outro para ver um teclado embaçado, tentando recordar a senha que o permitiria entrar de volta, mas os números se embaralhavam e nenhum
  Um enjoo repetindo o fez correr até o banheiro, mas não conseguiu chegar antes de expelir tudo o que restará em seu estômago de noite anterior.  O esforço so piorou a dor excruciante. Isa sentiu um medo primitivo,  aprisionada há tempos por pura e obstinada força de vontade,  mas que agora se livrará de seus grilhões como uma fera, alimentando-se da incerteza crescente. Combatendo o terror debilitante, ele saiu mancando pela porta do apartamento, pressionando com força as orelhas com as mãos,  como se isso fosse impedir sua cabeça de corredor, procurando como um louco por seu smartphone. Depois de revirar  deles fazia sentido. Fechou os olhos tentou se concentrar o coração acelerado a cabeça pegando fogo, enquanto um desespero crescente tomava conta dele. Isa caiu em um pranto descontrolado o que o enfureceu, e - entrando em pânico e xingando sem parar - começou a techar números aleatoriamente. Desesperado por um milagre.  Uma escuridão repentina o fez cair de joelhos e bater com a cabeça na porta, o que só serviu para exacerbar a dor.  Sangue escorreu pelo seu rosto, brotando de um talho resultante do choque com o batente.
    A confusão e a agonia de Isa aumentaram até deixá-lo totalmente desorientado, encarando um teclado  eletrônico desconhecido e segurando em uma das mãos um molho de Chaves estranhas. Talvez um de seus carros estivesse por perto?  Cambaleando por um corredor curto, ele desceu um lance acarpetadode escadas e chegou a uma garagem. E agora?  Apertando todos os botões do chaveiro, foi recompensado pelo piscar de luzes de um sedã cinza a menos de 10 metros.  Outra onda de escuridão fez com que perdesse o equilíbrio, levando-o mais uma vez ao chão. De quatro, ele engatinhou freneticamente em direcao ao carro, como Se sua vida dependesse disso. Por  fim,  chegou até o portas-malas,  ergueu o próprio corpo,  mantendo- se firme por alguns instante enquanto o mundo girava  E desabou mais uma vez, engolfado numa escuridão nada reconfortante. Tudo o que doía e chamava desesperadamente pela sua atenção desapareceu.
    Se alguém  tivesse testemunhado sua queda, talvez a comparasse a um saco de batatas caindo da traseira de um caminha em movimento,  ao ve-lo amontoar-se no chão como se não houvesse um só osso em seu corpo, como Se fosse um peso morto puxado pela gravidade.  A parte de trás de sua cabeça chocou-se com força contra o topo do portas-malas; o impulso o fez girar em direção ao chão de concreto, onde sua cabeça qui ou uma segunda vez com um baque repulsivo.sangue escorria por um dos meus ouvidos e empoçada no solo. Durante quase 10 minutos ficou caído na garagem subterrânea mal-iluminada,  até que uma mulher que passava por ali procurando pelas chaves do carro na bolsa tropeçou em suas perna. Seu grito reverberou nas paredes de concreto, mas ninguém o ouviu. Tremendo visivelmente, ela telefonou para a emergência.
A atendente, sentada diante de uma série de monitores, atendeu a chamada às 8h41.
- Central de emergência. Qual o local da ocorrência?     - oh, meus Deus! Ele está sangrando por todo lado! Acho que está morto... - a mulher estava histérica, prestes a entrar em choque.
Treinada para esse tipo de situacao a atendente falou mais devagar
- senhora, preciso que se acalme. Preciso que me diga onde está para que eu possa enviar ajuda.
  Enquanto ouvia,ela usou outra linha para notificar ao departamento de bombeiros de Portland a emergencia hospitalar solicitada.
- sonhora,pode me dizer onde está e o que esta vendo? - perguntou, trocando de linha e transmitindo as informações  que recebia. A resposta veio prontamente :
- ambulancia 333 na escuta entendido, estamos a caminho
  A atendente voltou a comunicar-se   

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