Capítulo 6 - A Decisão de Lúcifer

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Ao ver que a hora da provação havia chegado, e que Lúcifer estava pronto para enganar todo o Universo, o Criador tornou-se silencioso e contemplativo. O silêncio fez reviver no coração das hostes a lembrança daquela primeira excursão sideral, quando, depois de lhes mostrar as riquezas do reino da luz, o Criador tornou-se silencioso ante aquele abismo. E lembraram-se de Suas palavras:

- "Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso conhecimento, menos os segredos ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à Fonte da Vida".

Lúcifer, incomodado com a atitude do Criador, indagou-Lhe o motivo de Seu silêncio. O Criador, contemplando-o com infinita tristeza, disse-lhe:

- "É chegada a hora das trevas. Você é livre para realizar seus propósitos".

Lúcifer viu o momento propício para a propagação de sua teoria. As hostes estavam reunidas, desejando conhecer o significado do silêncio do Criador, tomaram seus lugares junto ao magnífico anjo, que sempre lhes revelara os tesouros do reino da luz.

Lúcifer começou seu discurso com um retrospecto do conhecimento oriundo da luz. E dizendo que o silêncio do Criador era caminho para o entendimento dos mistérios até então não sondado limite de Seu governo. Foi então que Lúcifer falou-lhes da ciência do bem e do mal, e as hostes tomaram conhecimento da experiência de Lúcifer sobre as trevas. O efeito de suas palavras logo se fez sentir em todo o Universo.

A hostes e todos os seres racionais do Universo deveriam optar por permanecer apenas com seu conhecimento da luz, o qual Lúcifer afirmava haver chegado ao seu limite, ou deveriam se aventurar no conhecimento da ciência do bem e do mal.

A maior parte das criaturas se empolgaram com a teoria, despertaram para a ilusão da mesma, reafirmando sua fidelidade ao reino da luz. Ao fim desse conflito, que se arrastou por longo tempo, revelou-se um terço das estrelas do céu ao lado de Lúcifer, e as restantes, ainda que abaladas pela prova ao lado do Criador.

A nova lei criada por Lúcifer foi difundida como um novo sistema de governo. Mas como exercê-lo, se o Criador continuava reinando em Sião? O conselho formado pelos anjos rebeldes e Lúcifer, solicitaram ao Criador o trono por um tempo determinado, no qual poderiam demonstrar a excelência do novo sistema de governo. Caso fosse aprovado pelo Universo, o novo sistema se estabeleceria para sempre; caso contrário, o domínio retornaria ao Criador.

O Eterno não era ambicioso, apenas queria bem às Suas criaturas. Se a ciência do bem e do mal consistisse realmente num bem maior, não Se oporia à sua implantação, cedendo o trono a seus defensores. Mas movido por Seu amor protetor, o Criador desatendeu o pedido das hostes rebeldes, que se afastaram enfurecidas e proclamando como tirania o governo do Criador.

Afirmavam que a permanência do Criador no trono era uma demonstração de arbitrariedade. Não lhes concedera liberdade de escolha? Por que neutralizá-la agora, impedindo-os de pôr em prática um sistema de governo superior?

As acusações das hostes rebeldes repercutiram por todo o Universo, fazendo parecer que o governo do Criador era injusto. As acusações e blasfêmias das hostes rebeldes alcançavam o ponto culminante quando o Criador, num gesto surpreendente, ergueu-se de Seu trono, como que pronto a deixá-lo. Entregaria Ele o domínio de toda a criação, para livrar-Se das vis acusações? De acordo com a lógica a partir da qual Lúcifer fundamentava seus ensinamentos, não restava outra alternativa ao Criador.

Num gesto de humildade, o Criador despojou-Se de Sua coroa e de Seu manto real, depondo-os sobre o alvo trono. Em Seu semblante não havia expressão de ressentimento ou ira, mas de infinito amor e tristeza. O Eterno proclamou que o momento decisivo chegara, quando cada criatura deveria selar sua decisão ao lado da luz ou das trevas.

Vendo que o Trono permanecia vazio, Lúcifer e suas hostes, dominados pela cobiça, romperam definitivamente com o Criador

Ao ver um terço dos súditos transpor as divisas da eterna separação, Deus deixou extravasar a dor angustiante que por tanto tempo martirizava Seu coração, curvando-Se em inconsolável pranto. Contemplando Seus filhos rebeldes, ergueu a voz numa lamentação dolorosa:

- "Meus filhos, meus filhos! Já não posso chamá-los assim! Queria tanto tê-los nos braços meus!

Lembro-Me quando os formei com carinho! Vocês surgiram felizes e perfeitos, em acordes de esperança em eterna harmonia!

Vocês foram a minha alegria! Por que seus corações mudaram tanto? O que mais poderia eu ter feito para fazê-los permanecer comigo?

Hoje minh'alma sangra em dor pela separação eterna!

Saudade infinita já invade o meu ser, e sei que será eterna!"

Depois de proclamar em pranto tão dolorosa lamentação, o Eterno, dirigindo-Se a Lúcifer, o causador de todo o mal, disse:

- "Você recebeu um nome de honra ao ser criado. Agora não mais o chamarão Lúcifer, mas Satã, O Senhor das Trevas".

Depois de lamentar a perdição das hostes rebeldes, o Criador, em lentos passos de abandono ausentou-se do jardim do Éden juntamente das hostes fiéis... Onde seria agora a Sua morada.... E ocupariam os rebeldes o divino trono, profanando-o como domínio do pecado? Esta indagação torturava o coração dos súditos do Criador.

Antes do GênesisWhere stories live. Discover now