Capítulo 12

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Gaspar estava em casa para comemorar o natal, uma das suas datas favoritas depois do seu aniversário que seria no próximo mês. Estava com o celular apoiado na coxa, de vez ou outra pegando-se a olhar para a tela a espera de qualquer mensagem vinda do seu delegado, querendo uma explicação do porque não ter ido visitá-la no hospital, se soube do tiro que levara.
    Era umas uma e meia da tarde, o tempo ensolarado fazendo muito calor, temperatura máxima de 45º com sensação térmica de 50º graus. O seu quarto estava muito abafado e uma gota de suor escorria por sua testa.
    Quando o celular vibra em cima da sua coxa, Gaspar desvia seu olhar das telhas ternit de uma casa baixa na frente da janela do seu quarto para a tela do celular que está acesa com algo escrito em linha reta. Ele pega com as mãos trêmulas de ansiedade, de olhos brilhando de tanta alegria ao ler o nome DIOGO na tela. Ele aperta em Ler e vai direto para a página da mensagem.

Preciso falar com você. É muito urgente! – Diogo

    Um arrepio cruza a sua espinha até a nuca, e uma sensação ruim cruza o seu peito que o faz se preocupar na mesma hora.
    – Sinto que é algo de muito ruim – disse para si mesmo, pondo a mão no peito.

Isabella estava em um balcão abandonado na estrada que vai para a região dos lagos, sentada em um caixote de frente para uma janela de vidro quebrada, e pelos buracos adentrava um vento fresco que jogava para longe a fumaça do cigarro que tragava. Ouviu o som da porta dupla de ferro ecoar para dentro do salão espaçoso do balcão onde tinha cerâmicas e tijolos quebrados e muito lixo que chegava a soltar um odor insuportável. Ela olhou para Ulisses sem camisa com a sua barriga saliente amostra sorrindo para si.
– Como anda os nossos planos, querida? – disse Ulisses.
– Eu ainda estou pensando no que iremos fazer, Lisses. Tudo tem que sair como planejado, me entendeu? Agora que estou no jogo quero terminar com muito estilo. – Deu mais uma tragada no cigarro com um sorriso maldoso estampado nos lábios finos e rosados com um batom vermelho bem exagerado. Uma rajada de vento entra pelos buracos do vidro quebrado da janela fazendo com que alguns fios da franja escorrida na sua testa voassem.
– E depois vamos fugir para sermos felizes bem distante desse Rio, de preferência para fora do país – pigarreou.
Isabella olhou para o amante com certo deboche e riu.
– Já pensou em ser um grande ator de comédia, Ulisses? Sempre achei que você tem mais vocação para ser isso do que ser bandido.
Ulisses foi até a amante em passos apressados e agarrou o seu pescoço esguio com um colar de ouro, erguendo o rosto dela para frente do dele, olhando irritado para ela.
– Você me respeita, mulher. Não sabe do que sou capaz de fazer com vagabundas que nem você! – Bradou. Soltou Isabella, que tropeçou nos próprios pés caindo no chão sujo, tossindo.
– Você não é capaz de nada, nem mata uma mosca direito, quem dirá uma pilar de dama que nem eu que te sustentou muitas vezes para seguir em frente, pois todos sabem que você já quase morreu de fome! – Cuspiu as palavras na cara de Ulisses que deu uns passos para trás um pouco magoado. – A verdade é que você nem foi homem suficiente para a sua própria filha que se jogou para cima do meu marido como uma prostituta de esquina suja.
– A única vagabunda dessa história toda é você, Isabella, que se diz uma mãe amorosa, mas está querendo tirar de linha o pai que, bem no fundo ele ama. Um filho aguenta a porra toda em nome de um pai e de uma mãe, esquece o que eles fazem ou fizeram e ama seus pais mais do que qualquer outra coisa.
Isabella ri.
– Está tentando falar de moral, mas se esqueceu que você foi o primeiro a servir de voluntário para tirar o seu inimigo da sua frente para assumir aquela porra de morro, aquele antro de pobreza que se eu tivesse a oportunidade explodia aquela porra com um míssel, do mais potente! – falou, alterada. Pôs a mão dentro da calça jeans que usava e tirou de lá uma pistola de ouro, rindo insanamente. – Tenho medo de te matar, sabia? E tenho ainda mais dó do capeta por aguentar essa sua cara feia e olhar para essa sua barriga saliente que me dá nojo quando encosta no meu corpo, Ulisses – disse sarcástica, apontando a arma para o seu amante. – Talvez o inferno nem te aceite. – Fez um biquinho tocando a ponta do seu dedo no gatilho.
– Você não seria capaz de matar o homem que mais te deu amor, Isabella – disse chorando.
– Ah, não? – Pressionou o seu dedo no gatilho. A bala atinge Ulisses, que cai no chão. Morto.
As pupilas estavam dilatadas, os olhos abertos e o corpo de lado com uma poça de sangue se formando no chão em sua volta, saindo de um furo em seu peito.
Isabella sorri e guarda a arma dentro da sua bolsa Chanel que estava em cima de um latão e sai do balcão com a cara mais lavada desse mundo, sorrindo feliz. Saiu do balcão e adentrou em seu Honda Civic prateado que estava estacionado embaixo de um pé de manga e deu partida.

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