Capítulo 13

3.2K 383 23
                                    


Fui arrastada para o fundo do rio e bati com a parte de trás da cabeça numa pedra afiada. Doeu demais, mas ao invés de desmaiar como qualquer pessoa normal, permaneci consciente para sentir a dor.

Meu pé estava preso em algo mole e viscoso. Aquilo se mexia e me arrastava com ele, para cada vez mais fundo e mais fundo e mais fundo... Até que cheguei à terra, enterrada até os ombros. O mais curioso era que eu estava respirando debaixo de toda aquela água e podia enxergar e ouvir tudo ao meu redor muito bem.

A coisa que me puxou desapareceu.

Sacudi os braços e as pernas, tentando sair dali, mas eu estava presa por mais do que aquela terra barrenta e molenga. Havia uma força ali no fundo. Uma força ruim que não me deixava ir embora. Quanto tempo eu aguentaria sem respirar ar puro?

Filha Das Águas..., ouvi um sussurro feminino ao meu ouvido. Filha Das Águas, seja bem-vinda.

Estremeci, contorcendo-me debaixo da terra. Preciso sair daqui, preciso sair daqui AGORA!

Realmente pensou que eu me esqueceria da minha adorada criança? Minha campeã...

Sair. Daqui. Agora.

Fique tranquila, minha preciosa, nada fará mal a você aqui. Você tem a proteção de seu pai e a minha. Relaxe...

Não parei de lutar até que consegui soltar um braço. Eu estava desesperada e sentia o calor do esforço e o cansaço me atingindo com força. Não pare, não pare, não pare.

PARE DE LUTAR ASSIM!, rimbombou a voz feminina, agressiva. Você só sairá daqui quando EU ordenar!

– O que você quer? - gritei.

A voz gargalhou por longos segundos.

Preciso de um favor seu, minha campeã...

Trinquei os dentes, procurando pelo rosto da dona daquela voz. No entanto, eu parecia estar cercada apenas por água, pequenos peixes e lodo. Sacudi-me furiosamente, sem conseguir libertar nenhum membro, e a voz continuou murmurando em meus ouvidos:

Preciso que tire uma vida para mim. Como prova de sua devoção, é claro...

– Ouch! Eu nem sei quem é você! Como pode me pedir algo assim?

A voz gargalhou de um jeito muito, muito irritante. Eu não parava de me sacudir e finalmente consegui soltar o outro braço. Pronto, só faltavam as pernas.

Você sabe quem EU SOU, minha preciosa.

Aquela frase me fez parar de me mexer completamente. Se eu estivesse fora da água, teria arfado, surpresa. Sim, eu sabia quem era. Meu instinto, meu medo, minha intuição me avisou assim que ouvi a primeira palavra dita por Ela. Era a própria Gaia ali, falando diretamente comigo. Era óbvio.

– Eu não vou matar ninguém! - gritei, sentindo os olhos arderem. Eu estava chorando debaixo da água?

Você vai me oferecer o sangue de alguém. Isso é uma ordem!

Eu não devia perguntar, mas perguntei:

– O sangue de quem?

A voz de Gaia soou repleta de satisfação.

Vou deixar a escolha para você, pequena semideusa.

– Eu não disse que vou obedecer. Quem você acha que é para me ordenar uma coisa dessa? Não passa de uma velha acabada e antissocial que precisa da ajuda de meras crianças para se erguer do Tártaro!

Filha Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora