Capítulo 33

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Stanley, Idaho - 22 de Janeiro de 2014.

Apenas uma ponta de luz como se fosse um vaga-lume dava para ser vista naquela noite escura e fria de Stanley. Esse ponto de luz permaneceria ali até quase o amanhecer quando o médico abandonou aquele prédio velho com ar de condenado.

Tim Compton retornou à Stanley dois dias após o acidente que levou seu irmão menor. Ignorou todas as mensagens que foram deixadas em seu celular. Depois do fracasso em conseguir um emprego por pior que fosse quis desaparecer e isso incluía tirar qualquer pessoa que pudesse lembrar que ele havia se tornado um completo inútil.

Olhar para os olhos cheios de suplicas de seu irmão naquele dia o dilacerou. A bebida e amargura que tomava conta de seu ser fez o resto. Seguiu para o mais longe que conseguiu, mas algo lhe puxava, isso fez com que retornasse apenas não esperava chegar e ter de encarar a morte prematura do seu irmão.

As palavras saiam da boca de seu pai e Tim não conseguia compreendê-las. Não estava pronto para aceitar o que havia acontecido e ficou enfurecido quando os policiais não deram a mínima para aquele caso. Um acidente. Aquilo poderia ser tudo menos um acidente. Tim não aceitava e estava disposto ir atrás da verdade.

Por isso desde a morte do irmão, Tim não fazia outra coisa a não ser vigiar de perto Lilian, e ao confirmar o envolvimento dela com o médico sentiu que havia algo a mais. Nada daquilo lhe cheirava bem. Esse médico também precisava ser investigado e era isso que faria.

— Onde estava? – Carl questionou sentado como de costume em sua poltrona observando as imagens que a televisão enviava. — Não volta mais para casa desde que seu irmão morreu.

— Estou fazendo o que o senhor deveria fazer como pai. Investigar a morte de Don. — Tim responde áspero. Desde que soube o que aconteceu com o irmão e a falta de interesse do pai fez com que o odiasse ainda mais.

— Para com essa paranoia, foi um acidente. — Carl remexeu-se na poltrona, apesar da sua apatia sentia falta do garoto.

— Uma droga que foi! — Tim não aguenta e grita com o pai — E lá no fundo sabe muito bem disso. A verdade é que está se sentindo aliviado por ele ter ido.

O velho levanta com uma agilidade que há muito tempo não se via ficando diante do filho que lhe sobrara. Desde que fora ferido em seu dever com a sua nação e ter recebido dela apenas um tapa nas costas como agradecimento, Carl Compton vivia, entre seu bourbon e a televisão. Porque vontade de fazer qualquer coisa de útil com sua vida não tinha. Na verdade tinha; infernizava a vida daquela pequena criança doce que um dia foi Don e depois aquele adolescente triste, deprimido, esquisito que queria torna-se invisível para quem sabe assim o seu pai deixasse de enxerga-lo e dessa forma ter alguns momentos em paz.

— Presta atenção como fala comigo! Como pode falar uma coisa dessas? Era meu filho e sinto a sua falta.

— Sente falta de espezinhar com a vida dele isso sim! Foi só o que fez a vida toda do Don: o insultar e perturbar. Deveria ter tirado ele daqui quando voltei. — Tim respirou fundo o arrependimento tomava conta de sua alma.

— E levar ele para onde seu aleijado? Não está melhor do que eu. Deu sua vida, salvou pessoas dessas desgraças e agora está como eu; recebendo uma pensão de merda e sem emprego. Acorda ninguém contrata veteranos de guerra.

— E que culpa o Don tem das nossas escolhas? Nós nos alistamos porque queremos e sabíamos do risco.

— Filho, melhor teria sido se voltássemos mortos, pelo menos seríamos considerados heróis.

Amargos Segredos [Completo]Where stories live. Discover now