UM - O INÍCIO

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S A M U E L

Samuel estava andando em baixo de um sol escaldante cercado por um trânsito caótico e barulhento. A camiseta preta com a estampa de uma de suas bandas de rock não muito famosas estava basicamente colada em suas costas devido ao suor. Seus pensamentos estavam distantes, todos num emaranhado de coisas sem nexos, misturadas a fadiga e ao barulho caótico do trânsito ao seu redor.

Na noite anterior, Samuel, havia completado dezoito anos de idade e sua adorável mãe resolveu comprar um bolo com direito a velinhas para que ele assoprasse e fizesse um pedido. Ao assoprar às velas em cima do bolo, ele desejou que sua vida mudasse. Ele estava cansado da mesmice e assustado com a falta de perspectiva de sua vida.

Samuel nunca fez questão de esconder o quanto odiava comemorar seu aniversário. Ele odiava o fato de estar envelhecendo e odiava ainda mais o fato de que o futuro estava batendo em sua porta com uma mala cheia de responsabilidades das quais ele não sabia se daria conta. O futuro era algo extremamente assustador para Samuel. Ele havia terminado o ensino médio no ano anterior e estava assustado demais com a possibilidade de entrar para uma faculdade. Isso o assustava porque, primeiro, ele não tinha ideia do que iria fazer e isso era algo que ele gostaria de ter certeza já que, faculdade você faz para ter um emprego que pode te definir para o resto da sua vida e, segundo, ele certamente não estava a fim de fazer faculdade.

O pai de Samuel se chamava Adair e possuía uma pequena loja de pneus e acessórios de carros. O jovem havia passado o ano anterior trabalhando na pequena loja todas as tardes enquanto estudava todas as manhãs numa escola pública. No entanto, ele já se via preso dentro daquelas paredes verdes com cheiro de borracha nova em período integral por um bom tempo. Só Deus sabia o quanto Samuel detestava aquele lugar.

Tudo o que Samuel queria era viver. Era não ter correntes em seus punhos e poder tomar conta de qualquer decisão que ousasse ter. Ele queria viajar o mundo de carona ou então entrar num carro e partir sem destino, sem rota, apenas trabalhando em cidades esquecidas para pôr gasolina no carro e seguir viagem. Ele adoraria morar na praia, acender uma fogueira e dormir olhando as estrelas, mas seus pais teriam um ataque se soubessem que aquilo se passava por sua cabeça.

— Droga – murmurou ele enquanto andava pelo calçadão do centro de Itacorá. Era hora de pique o que significava que todas as pessoas andavam com pressa falando em seus celulares ou simplesmente olhando para o próprio nariz a fim de chegar logo em algum lugar.

O garoto alto olhou para uma cafeteria a alguns metros de distância e decidiu parar ali para tomar um refrigerante bem gelado. O calor escaldante de Itacorá num mês de fevereiro era basicamente uma amostra grátis do inferno.

A cafeteria era grande e bem iluminada com palmeiras e árvores grandes ao seu redor. As mesas eram redondas, de madeira e envernizadas. As pessoas que se encontravam ali usavam roupas caras, confortáveis e riam enquanto conversavam.

Antes de entrar pelas portas de vidro, uma menininha de, no máximo dez anos de idade, parou em sua frente e pegou do chão algum acessório da boneca Barbie que carregava na mão. Uma mulher alta e de cabelos pretos e ondulados, usando uma saia e uma camiseta branca escrita I ♥ Kiss My Boyfriend segurava a menina pela mão.

— Vamos Isabela – disse a mulher com os olhos vidrados no celular em suas mãos. – Se não vamos nos atrasar para o seu curso de balé.

A menina pegou o que seria uma coroa de plástico de sua boneca Barbie e em seguida olhou para Samuel com curiosidade. Ela usava uma roupa rosa e tinhas os cabelos pretos caindo em cascatas pelas costas. Os olhos da garotinha eram castanhos da cor da avelã e suas bochechas rosadas eram completamente "apertáveis".

Malditos Cromossomos (Concluída)Where stories live. Discover now