Sete dias

Sozinha

A rotina era boa. Era necessária. Fazia as coisas voltarem ao normal.

Durante o plantão Nicole pensava em tudo que havia deixado para trás. Ela bufou enquanto se recriminava por este pensamento. Não deixara nada para trás. Não havia nada lá. Nunca houve.

A vida era assim, um minuto, uma hora, um dia de cada vez. Ela suspirou e balançou a cabeça, na esperança de afastar a melancolia. O que é que ela estava pensando? Era lógico que isso iria acabar em desastre.

A antiga Nicole teria caído de cabeça naqueles sete dias, a antiga Nicole teria tirado o máximo de proveito, ela não teria se preocupado, não teria se comprometido... tudo teria sido mais fácil. O problema é que a antiga Nicole não existia mais... ou ela pensava que isso fosse verdade.

_Um centavo por seus pensamentos!

Nicole sorriu para si mesma enquanto levantava os olhos para o colega de trabalho. Era um cara legal, extrovertido e muito bem casado. Eles eram amigos desde os tempos de faculdade e uma das poucas pessoas que conhecia o passado que ela deixara para trás. Não sabia o que teria sido dela sem o apoio deles quando tudo veio abaixo.

_Eles não estão valendo nem isso.

_Ah, ta!

_O quê?

Ele ficou analisando-a enquanto tentava arrancar dela a razão da mudança que todo mundo insistia em dizer notar. Ela se olhava no espelho todos os dias e adivinhe? Nada!

_Você está diferente.

Ela concordou sem saber direito com o quê.

_Isso se chama férias.

_Pode ser, mas acho que tem algo mais. Você está mais... sei lá... tranqüila?

_Olha, acredita que todo mundo está dizendo a mesma coisa?

Alberto riu.

_Nossa! Eu estava tão terrível assim?

_Tenho que concordar que prefiro você assim.

Nicole fez cara feia e ele sorriu.

_Não se preocupe, daqui a pouco você volta ao normal.

_Normal tipo bruxa?

_Não querida, digo normal do jeito que já foi.

Nicole perdeu o sorriso e olhou ao redor para se certificar de que ninguém estava prestando atenção a conversa dos dois.

_Cuidado Alberto.

Ele assentiu e se inclinou para a frente.

_Vai me contar aonde foi?

Ela assentiu.

_Fui para um chalé no sul. Lugar tranqüilo, isolado.

_Foi acompanhada?

Ele fez a pergunta enquanto erguia as sobrancelhas da forma mais descarada do mundo.

_Fui.

A admissão o deixou perplexo. Ele pigarreou antes de continuar mas ela se adiantou.

_Do sono, Alberto.

Ele riu e todos prestaram atenção aos dois e pelos próximos quarenta minutos tudo do que falaram foram amenidades.