A decadência

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Rafael deu partida no carro e eu esperei uns três minutos para ter uma distância considerável dele e então entrei no meu, rumo á casa dele. Estava nervosa : - O que será que aconteceu? - só conseguia pensar nisso.

Liguei para o Erick, enquanto dirigia e ele atendeu daquele mesmo jeitinho que eu amo: " Hey, gata! "

"Oi, Erick. Tudo bem?

"Tudo e você?

"Também. Erick, você mandou algum brinquedinho dos Estados Unidos para o Brasil? A Luana me ligou irritada dizendo que já não tinha mais graça isso.". Buscava alguma explicação racional para o surto dela.

"HAHAHAHA. Alice, você sabe que por mais tecnologia que eu tenha aqui, fazer isso seria impossível!"

"Desculpa, Erick. É que realmente eu não sei o que houve, então.". Disse nervosa.

"Bom, você irá descobrir. Mudando de assunto, você ainda não me disse o que me mandou gravar na boneca! Me diz, por favor?" .

Fiz uma pausa. Tentei prender o riso. "Quando eu voltar para aí eu te conto!"

"Sim, senhora!". Sorri. Amo quando ele me chama assim!

"Erick, eu vou ter que desligar. Estou um pouco ocupada no momento. Depois eu te ligo, ok?"

"Ok, gata! Beijos"

" Beijos, gato!"

Parei o carro do outro lado da rua da casa deles para evitar que ela me visse. Vi Rafael estacionando o carro na garagem e voltando para falar com a multidão que estava em frente a casa dele. Ele gritou e sentou no meio fio. O meu coração disparou, Sei que ele me pediu para que eu ficasse no meu carro e que eu deveria obedecê- lo, já que isso faria contar pontos no que tange á confiança dele e isso era imprescindível para que a minha vingança desse certo, mas por um outro lado, a Luana estava pirada e se surtasse de novo, mas dessa vez na frente dele, seria melhor ainda para mim!

Além disso, como eu conseguiria ficar dentro do meu carro após ter ouvido aquele grito de terror dele? Sem pensar duas vezes, saí do carro e corri até aonde ele estava. Não era a Alice vingativa que estava no controle, mas a Alice apaixonada.

Empurrei as pessoas que estavam em meu caminho e sentei ao lado dele. Era como se não tivesse mais ninguém, só nós dois. Ele estava chorando, senti como se uma faca tivesse entrado em meu peito. Levantei o rosto dele e o dei um selinho, movida inteiramente pela emoção e disse chorando :"Tudo vai ficar bem", mesmo não entendendo direito o que disseram, ou o que ele viu para ficar assim. Eu não via nada, além da dor dele. Sim, ali eu percebi que nada tinha mudado: Eu ainda o amava. Ele sorriu, secou as minhas lágrimas e me abraçou.

Foi naquele momento que eu resolvi olhar para os lados e vi que a Luana estava em pé, de costas para mim, segurando algo (um urso ou uma boneca, não conseguia ver direito) e bem atrás de mim! - Será que ela estava a li o tempo todo? Será que ela viu a minha "demonstração de carinho" com o Rafael? - era tudo que pensava. Cheguei a gelar na hora em que a vi e lembrei do que o Matheus disse: "ela tinha surtado"! E eu estava ali, do lado do Rafael. Eu o beijei, sem nenhuma cerimônia na frente de todos. Tive medo de como ela reagiria, mas eu precisava saber o que estava acontecendo!

Levantei. "O que está acontecendo aqui?" Perguntei alto para qualquer um que me pudesse responder. Tentando me preparar para tudo que pudesse acontecer.

Luana se virou ao ouvir a minha voz. E eu que estava em pé acabei sentando, não tinha forças para ficar em pé! Ela estava completamente desfigurada e segurando uma boneca na mão. Fiquei com medo, mas gostei de vê-la assim!. Ela não fez nada, só ficou me olhando. Seus olhos estavam vazios, nem parecia que ela estava lá.

Uma velhinha me respondeu: "Ah, minha filha... fui eu quem liguei para o trabalho do senhor Rafael! Eu estava em casa, tirando uma pestana quando eu acordei com os gritos da senhora Luana. Saí de casa, pensei até que fosse ladrão! Vi a babá da Luísa saindo correndo! Imagina só que a abestada me deixou a porta aberta e a criança sozinha em casa? Aí eu entrei e vi a Luana no quarto toda queimada, segurando uma boneca e dizendo a seguinte frase diversas vezes : "Eu matei a minha filha,ela está no inferno agora". Mas eu não entendi nada, minha filha! A Luisinha está viva! Não tem jeito não, tem que internar."

Olhei para o Rafael : "O que você pretende fazer?"

"Vou internar. Conhece algum lugar?". Ele dizia sem acreditar muito no que estava acontecendo.

"Doce Loucura. Foi aonde o meu bisavô foi internado. É um ótimo lugar!". Ótimo lugar porra nenhuma! É um lugar de procedimentos arcaicos, aonde ainda dão choques elétricos, como tratamento. Eu queria que ela ficasse com depressão, mas eu sabia que possíveis acidentes poderiam acontecer, então eu pesquisei. E o lugar mais mal recomendando foi esse. Não sei nem quem foi meu bisavô. Foi a primeira desculpa que me veio á cabeça.

"Sabe o endereço?"

"Claro". Anotei para ele no papel juntamente com o telefone.

Enquanto ele ligava para o lugar, eu olhava para a Luana. Ela parecia que tinha saído de um filme de terror, mas eu não estava mais com medo e sim com pena. Ela estava num mundo á parte e internada lá, ela ficaria pior ainda.

Comecei a pensar na nossa amizade,em tudo que vivemos até aquele fatídico dia em que a vi transando com ele. Mas Rafael me despertou do meu transe: "Alice, já está tudo certo! Daqui a pouco a ambulância já está chegando para buscá-la" e eu vou junto para conhecer o lugar. O abracei forte, queria sugar toda aquela dor. Não suportava vê-lo sofrendo.

"Rafael e a sua filha, cadê?"

"Deve estar lá dentro. Não posso deixar Luana sozinha."

"Posso vê-la? Suponho que ela seja muito pequena para ficar só, já que ainda tem babá."

"Ela tem 4 aninhos, ela é linda (ele sorriu todo bobo!). Pode ir sim. Muito obrigado! ( ele fez uma breve pausa.) Alice, pode ficar com ela até eu voltar da clínica? Prometo que não vou demorar!. Não tenho com quem deixá-la."

" Claro. Fico sim! "

Foi ali que senti que ganhei a confiança dele, mas não tinha feito de caso pensado. Ela era só uma menina e estava só. Me distanciei dele, notei que as pessoas já estavam saindo de lá. Luana estava dançando com a boneca. Rafael mantinha os olhos no chão, não suportava olhar para ela. Naquele exato momento eu vi o quanto eu fui forte, se comparado á ela. Eu entrei na casa deles.

Lágrimas  De SangueWhere stories live. Discover now