[CC2016]: Terra de Escritores

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       O tempo havia parado, era mágico. O lugar estava repleto de itens e objetos fantásticos. Era uma espécie de corredor sem fim, sorteado de tons branco e cinza.
       Ao fundo, ou o que se pode chamar de fundo, ouvia-se o tanger do piano; o chamar da aventura; a alma do poeta; a fantasia.
       Nas paredes, ou assim dava a entender, quadros divagavam de um lado para o outro. E em cada um, havia uma pintura a se olhar, uma história a se contar e uma música a se ouvir.
      Continuei andando pelo corredor, quando ao meu encontro, um homem veio; trajava um escuro terno em contraste ao lugar; tinha à cabeça, cabelos grisalhos e uma barba oriunda de falhas.
      — O que trazes a mim, velho homem? — perguntei, enquanto buscava tal rosto a memória.
      — Ora, jovem rapaz —, disse o velho homem —, vim-lhe trazer a paz.
      O velho à minha frente, curvou-se e disse:
      — Prazer, serei seu guia nesse mundo incapaz!
      A reverência passou e minha mente clareou, só podia ser! Se tal pensamento é capaz? Em quão penumbra isso me traz? Será que então, minha pobre alma já se jaz?
      — Diga-me guia —, perguntei com tal angustia —, jaz eu no mundo dos imortais?
      O velho homem roçou a barba e assim lhe apraz, respondeu me com prazer voraz.
      — Não jaz no mundo dos imortais, mas jaz no universo escrito à tal destino capaz!
      Minguei o rosto e lhe dei um sorriso a paz. Certamente, há certas coisas, que só no mundo dos mortais serei capaz de fazer mais.
       — Pois então, sr. Guia — disse olhando ao redor —, audaz eu à certa questão...
       Ponderei a pergunta no ar, dei três passos ao lado esquerdo e fiquei de frente a um certo quadro.
       Este, trazia em si a pintura de um jovem guerreiro, trajando uma armadura de ferro. Ao fundo, um castelo em ruínas e um dragão atacando. Ao momento, a música que o pianista tocava, mudou-se para a de um campo de batalha.
       Ouvia-se tambores, gritos de guerra e de socorro, vinha de todo o lugar. Olhava cada lado, procurava em cada canto, mas nada. Nenhum sinal de onde o som vinha.
        Virei-me assustado ao Guia, suando frio, retomei a questão:
       — Onde estou? — quis saber. — Estaria eu no mundo dos sonhos ou isso é apenas fruto de minha imaginação mordaz?
       O Guia sorriu. Andou até mim e ficou de frente ao quadro que olhava.
       — Apenas veja —, disse ele, fixado à pintura —, apenas leia!
       Assim então fiz, permite-me ao momento e me fixei com vontade à tal moldura flutuante.
       De repente, tal clarão e todo o cenário mudou. Já não estava em tal corredor primaz, mas sim, em um campo de batalha mordaz.
       Guerreiros passavam e batalhavam por nós, era vívido, mas ao mesmo tempo, não. Éramos como fantasmas lá, mas, sentíamos tudo; o calor, as mortes, o cheiro, tudo!
        — O que é isso? — assustado perguntei. — Onde estamos?
        O Guia, com aspecto displicente, reclinou-se e perguntou:
        — Café, ou chá?
        De onde ele tirou tal coisa, não sei, mas se tudo aquilo era capaz, por que não tal loucura? Assim, indiquei ao café. Não percebi, mas estava sedento por tal.
        — Como quiser — disse o homem, me entregando um copo.
        Olhei fundo ao copo e observei tal licor negro, refletia o céu cinza do cenário. Beberiquei e senti o gosto amargo. Senti o líquido quente descendo a garganta, esquentando o corpo. Então, assim pensei...
       Se o café é tão vivido, se assim eu o sinto, onde estou e por que aqui estou?
       O Guia, como se descobrisse o que se passava, permitiu-se a chamar minha atenção.
       — Muitos chamam a esse lugar de "O mundo das histórias", outros, chamam de "O palácio das memórias" — o guia estralou os dedos, e assim, voltamos ao corredor. — São de fato, várias interpretações e nomes que esse lugar recebe.
       Atordoado com tudo aquilo, logo pensei, haveria outras pessoas aqui neste lugar? Assim, o perguntei.
       O Guia apenas assentiu.
       — Muitos vêm aqui refletir, se divertir — complementou a minha dúvida. — Já outros, vem aqui deixar suas histórias e lembranças. É um lugar de todos.
       — Veja bem —, ele apontou para o horizonte —, olhe.
       Forcei a vista e uma vastidão de quadros se apoderou de minha visão. Vários com pinturas e estilos diferentes, de pessoas diferentes. Alguns, estavam empoeirados, esquecidos; já outros, se fixavam em molduras quem iam de bronze ao ouro, certamente, os mais vistos.
       — Mas como isso é possível? — quis saber. — Como vim parar aqui?
      O homem me olhou e se aproximou, ficando bem próximo de mim.
       — Descobrirás na hora certa, meu jovem — sussurrou ele ao meu ouvido. — Agora, está na hora de voltar.
       Voltar? Mas voltar como, e para onde? Para o meu lar? Se sim, então estava em outra dimensão. Caso não, qual destino jaz a mim?
       O pianista retomou à melodia anterior, onde trazia consigo uma onda e choque de nostalgia.
       Nostalgia... sim, claro! Já estive aqui antes, já estive aqui várias vezes. Não, não quero sair. O rosto soava frio, o coração ritmava impaciente; esse lugar, pensei, é onde pertenço.
       O Guia, o corredor, os quadros, os objetos, tudo, começava a se esvair ao leu. Para onde? Não sei, mas um momento retumbante tomou a cena. Um clarão vinha do fundo, ou ao que se parecia um fundo, em minha direção.
       Era branco, fosco; misturava em si, tragédia e euforia. Não queria sair, mas ao mesmo tempo, queria.
       Então, imponente como estava, deixei à luz me tomar. Fechei meus olhos e permiti que as lagrimas rolassem.
       Senti um aperto no coração e já não estava mais lá. Abri os olhos e percebi, estava em meu quarto, de frente ao computador, o sol poente já aparecia.
       — Realmente —, disse eu —, quão infortúnio o momento... — me levantei e estiquei o corpo. — Já é hora de ir à escola.
      — Até mais —, me despendi em vão — espero te encontrar mais tarde... Terra dos Escritores.  

TinteiroWhere stories live. Discover now