Capítulo X - LEI DE LIBERDADE

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I - LIBERDADE NATURAL

825. Há posições no mundo em que o homem possa gabar-se de gozar de uma liberdade absoluta?

- Não, porque vós todos necessitais uns dos outros, os pequenos como os grandes.

826. Qual seria a condição com que o homem pudesse gozar de liberdade absoluta?

- A do eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há direitos a respeitar e não terão eles, portanto, liberdade absoluta.

827. A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o direito de se pertencer a si mesmo?

- Absolutamente, pois esse é um direito que lhe vem da natureza.

828. Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com o seu frequente despotismo no lar e com os seus subordinados?

- É que possuem a compreensão da lei natural, mas contrabalançada pelo orgulho e pelo egoísmo. Sabem o que devem fazer, quando não transformam os seus princípios numa comédia bem calculada, mas não o fazem.

828–a. Os princípios que professaram nesta vida lhes serão levados em conta na outra?

- Quanto mais inteligência tenha o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo. Na verdade, vos digo que o homem simples, mas sincero, está mais adiantado no caminho de Deus do que aquele que aparenta o que não é.


II - ESCRAVIDÃO

829. Há homens naturalmente destinados a ser propriedade de outros homens?

- Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como pouco a pouco desaparecerão todos os abusos.

A lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente.

830. Quando a escravidão pertence aos costumes de um povo, são repreensíveis os que a praticam, nada mais fazendo do que seguir um uso que lhes parece natural?

- O mal é sempre o mal. Todos os vossos sofismas não farão que uma ação má se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios de que dispondes para o compreender. Aquele que se serve da lei da escravidão é sempre culpável de uma violação da lei natural; mas nisso, como em todas as coisas, a culpabilidade é relativa. Sendo a escravidão um costume entre certos povos, o homem pode praticá-la de boa fé, como uma coisa que lhe parece natural. Mas desde que a sua razão, mais desenvolvida e sobretudo esclarecida pelas luzes do Cristianismo, lhe mostrou no escravo um seu igual perante Deus, ele não tem mais desculpas.

831. A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças inteligentes?

- Sim, para as elevar e não para as embrutecer ainda mais na escravidão. Os homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgaram no direito de vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito. (Ver itens 361 e 803).

832. Há homens que tratam os seus escravos com humanidade, que nada lhes deixam faltar e pensam que a liberdade os exporia a mais privações. Que dizer disso?

O Livro dos EspíritosWhere stories live. Discover now