Parte I

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-Nasceu! -A parteira, uma senhora de idade, os cabelos já brancos pelo passar dos anos, apareceu na sala, com um embrulho de panos nas mãos.

Litino, encostado no umbral da porta, com a mão no queixo, preocupado, suspirou de alívio e se apressou a ir de encontro com a mulher, tomando o embrulho das mãos dela.

-Um menino! -Exclamou satisfeito. -O meu herdeiro nasceu! -Gritou chegando perto da porta, aos homens que esperavam do lado de fora.

Um a um, todos se achegaram pra contemplar a criança. Túlio, o sobrinho mais velho de Litino se aproximou também, e sorriu para o recém-nascido nos braços do pai. Mal sabia seu tio, que apesar do sorriso nos lábios, o jovem de dezoito anos segurava uma tremenda fúria dentro de si. Se não fosse por aquela criança, seria ele, o herdeiro da frota de navios de seu tio.

-Senhora, como está minha esposa? - Litino perguntou de repente, á parteira, que observava tudo á uma certa distância.

-Acabei de verificar senhor, ela está descansando. Já viu a criança, portanto não deve ser incomodada agora. Foi um parto difícil como o senhor bem sabe.

-Sim! Que bom que ela está bem! Logo logo, estarei aqui permanentemente pra cuidar de minha esposa e de meu filho!

Todos já tinham ido embora. Muitos vieram felicitá-lo pelo nascimento da criança, e sempre que perguntavam o nome do menino, o homem orgulhoso sorria, e exclamava afoito:

-Seu nome será Gorim! Como o nome de meu pai!

Agora que já estava noite, ele deu algumas ordens aos criados da casa, e se aproximou do quarto onde a esposa repousava. Acreditou que ela estivesse dormindo quando depositou a criança ao seu lado mas para sua surpresa, ela abriu os olhos, e depois de aninhar Gorim a si, a mulher voltou seu olhar aflito ao marido.

-Já vais voltar ao mar?

-Sim, mas não demoro a retornar. Tua mãe há de vir ter contigo. Ela e teu pai já sabem do nascimento de Gorim. Não estarás sozinha, e sabes que preciso dessa última viajem!

Sem dizer nada, a mulher fechou os olhos e permaneceu calada.

Litino se inclinou para beijar a testa da esposa e a do filho. Saiu em seguida, apressado em chegar logo ao navio. Aquela seria sua última viajem pelos mares, e agora, depois que seu filho e herdeiro veio ao mundo, o homem estava com mais pressa do que nunca, de retornar á sua casa. A cada passo dado pelas ruas pavimentadas, se distanciava de sua casa, de seu filho que dormia tranquilamente, e de sua mulher, que derramava lágrimas pesadas, com a saída de seu esposo. Pressentia que algo iria acontecer naquela viajem, mas não poderia dizer se era algo bom ou ruim. Não quis falar nada. Certamente Litino diria que ela só o queria amedrontar, e impedi-lo de ir,e naquele estado, a pobre moça não queria discussões. Pedia aos deuses que seu marido voltasse são e salvo para ela e o bebê.

Ainda no cais de Jope, Litino averiguava o carregamento do seu navio. Os seus melhores homens estariam com ele naquela viajem. O destino era Társis, onde deixariam a embarcação ancorada por uns dias, e depois de vendidas as cargas, voltariam para casa.

-Capitão! -Litino cumprimentou o homem de aparência brusca que vinha em sua direção, acompanhado por um desconhecido.

-Senhor, este homem pede permissão para embarcar em nosso navio. Ele tem dinheiro para pagar! -Explicou rápido o capitão. O que o senhor diz?

-Pode entrar amigo! Seja bem vindo ao nosso barco! -Litino respondeu, fazendo o capitão soltar um suspiro de alívio. Geralmente, Litino não concedia aqueles privilégios á desconhecidos. Só entravam no seu barco pessoas de confianças, mas o homem estava tão feliz com a chegada do filho, que relevou daquela vez.

Litino (Conto Da Antologia Cristã Viagens Fantásticas Pela Bíblia Vol. I)Where stories live. Discover now