Eduardo estava prestes a pegar no sono quando ouviu um barulho. Parecia ter vindo lá de baixo. Mas ele não pôde levantar-se: o sono que o dominara era demasiadamente forte, ele simplesmente arrumou o travesseiro sob o seu rosto e adormeceu novamente, perdendo a primeira chance de vê-lo. A primeira, e maior pista para Eduardo a respeito da presença de outra pessoa na casa, durante aquela noite, fora um sumiço, que só seria notado na manhã seguinte.
Mais tarde a Rua Lua Bela emanava um perfume delicioso pela manhã. As casas centenárias, com suas portas grandes e luxuosas, portões de ferro, varandas e janelas cor de madeira com vidros quadriculados, ofuscados, os azulejos coloridos, os mármores nas entradas e as árvores; todas respiravam o ar frio da manhã, que já era de costume. Eduardo tremeu de frio, e então tateou com a mão sobre o colchão procurando o lençol, mas não o achou. Ele estava nu sobre a cama, e o lençol, descobria seu corpo. Lá estava, no chão. Eduardo pegou o lençol e enrolou-se como um caracol, mas eis que o despertador toca. Era hora de acordar. O sol entrava pelo janelão de seu quarto.
O garoto acordou faltando vinte minutos para o início da primeira aula, com o sol da manhã na sua cara. Correu para o banheiro, escovou os dentes com uma mão, enquanto procurava os livros em cima da escrivaninha com a outra. Depois, desceu a escada enquanto ainda puxava a camiseta do uniforme para baixo e abotoava o jeans, subiu o zíper. Chegou à mesa da cozinha. Era uma mesa redonda sob a qual o irmão mais novo, Júlio, escorava os cotovelos. A mãe de Eduardo abria e fechava as portas do velho, porém estiloso armário de madeira da cozinha.
- ... Tem que estar aqui, eu tenho certeza que deixei ela aqui.
- Quem?
- VOCÊ VIU A SANDUICHEIRA? - Perguntou dona Helena com uma faca na mão como se fosse atacar seu próprio filho.
- Não. O que aconteceu?
- Ela sumiu, já procurei em todos os lugares, e não acho... Minha nossa você está muito atrasado moço. O que houve?
- Nada, mãe... eu perdi a hora, acho que dormi depois que o despertador tocou.
- Quando parou de fazer barulho no seu quarto já era tarde. - Comentou Júlio olhando pela janela para a rua de paralelipípedos.
- Como assim, Júlio? Eu fui dormir antes das onze.
- Me engana que eu gosto. - Disse escondendo a boca com a caneca de café.
- Ah, eu vou só comer uma coisa bem rápido, ou então vou me atrasar.
- Tem bolo de chocolate na geladeira, comam, já que eu não vou mais achar essa maldita torradeira. - Disse colocando a faca sobre a mesa, enquanto suspirava.
Eduardo abriu a geladeira, e pegou uma grande fatia de bolo com cobertura. Parecia delicioso. Mas ele precisava correr, não queria estar atrasado logo no primeiro dia.
- Tchau Mãe.
- AH, FILHO! - Disse a mulher a tempo do garoto abrir a porta dos fundos.
- Sim?
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Intermináveis Sensações
RomanceNenhum resumo desta história poderia ser melhor que uma leitura do primeiro capítulo.