Capítulo 04 - Mesmo quando haja conspiração?

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Entre Sem Bater

Por Andréia Kennen

Capítulo 04

Mesmo quando haja conspiração?

A claridade do dia transpassava o vidro da janela e da porta de entrada do meu quarto-sala iluminando todo o ambiente e atrapalhando que eu prosseguisse naquele sono gostoso. Despertei devagar, me espreguiçando e esfregando as pernas entre os lençóis na cama como se fosse um gato manhoso. Somente quando recordei a noite anterior que acordei de uma vez, arregalando os olhos à medida que flashes das lembranças atravessavam minha mente.

Saí da cama em um pulo. Só então me dei conta que estava sozinho.

Pela claridade que vinha do lado de fora, era certo que eu havia dormido pra caramba. Olhei o relógio em cima da cômoda e constatei que eram 10h45. Não era tão tarde tendo em vista que eu tinha me deitado quase às quatro da manhã. Na maioria dos sábados eu dormia até meio dia ou uma da tarde.

Mas aquilo que mais me incomodou foi não ter encontrado o Thiago. Procurei no banheiro, na área de serviço e nada. A mochila não estava ao pé da cama e ao perceber que sua moto também não estava estacionada na varanda deduzi aquilo que já era óbvio: o Thiago havia ido embora sem dizer nada.

Nem sequer um bilhete de despedia?

Na madrugada ele simplesmente apagou no meu colo. Com muita dificuldade consegui convencê-lo de ir para cama e pela meia hora seguinte fiquei admirando o rosto dele enquanto dormia, pensando em um monte de besteiras sentimentais do tipo: "como eu gostaria de vê-lo acordar todos os dias"; "tomar café da manhã acompanhado", essas coisas.

Suspirei fundo.

Há quanto tempo eu não tinha companhia para o café?

Talvez eu nunca tenha tido uma de verdade. Meus pais sempre foram muito ocupados e tudo que me lembro é deles se revezarem para me acordar cedo, mandar me arrumar, levantar rápido, entregar dinheiro para comprar algo para comer na escola e me deixar na porta do colégio.

Eu não deveria estar chateado por não ter rolado algo mais com o Thiago. Ele estava exausto, era perceptível em suas olheiras, em seu semblante. Eu também estava e, talvez, se tivesse acontecido, não teria sido bom da forma como deveria, não teria sido especial.

Estávamos começando algo. Era normal irmos devagar. Pelo menos, é no que eu pretendia acreditar: que estávamos tendo algo. Mesmo que o Thiago não tivesse formalizado nada, mesmo que ele tivesse apenas deixado a entender.

Sentei na beirada da cama e alisei o lençol na parte onde ele havia dormido. Eu precisava parar com aqueles picos de depressão. Precisava ser como ele e exalar confiança!

Talvez, se eu acreditasse mais em mim mesmo, as coisas seriam diferentes.

Ouvi o alarme do meu celular tocando, estendi o braço para alcançá-lo na cômoda e depois de desligá-lo percebi que havia inúmeras chamadas perdidas, além da caixa de entrada estar abarrotada de mensagens. Nenhuma era do Thiago, não havíamos tido tempo de trocar nossos números. Então deduzi que só podia ser de uma única pessoa e eu estava completamente certo: todas as mensagens e ligações perdidas eram da Laura.

Ela era fraca para bebida, que deve ter se somado ao remorso, e feito ela me ligar quinhentas vezes na madrugada.

Encontrei até uma mensagem do namorado dela: "Não esquenta com as mensagens anteriores da Laura, ela está bêbada (o namorado)". Dei risada. Senti meu ânimo revigorado.

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