Capítulo 7

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Allegra não conseguia acreditar em seus olhos. Como isso poderia estar acontecendo? Talvez ela estivesse sonhando ... será que estava ficando louca? Ou pior, seria o diabo tentando enganá-la com um de seus disfarces?

De olhos fechados, respirou profundamente e após alguns segundos os abriu novamente mas Francesca ainda estava lá.

- Fr... Francesca, é você mesmo? - questionou temerosa.

- Sim, sou eu. E não se preocupe você não foi tocada pela loucura e tampouco pelo diabo. Eu estou aqui mas dentro da sua mente. - disse Francesca sorrindo tranquilamente.

- Dentro da minha mente? Então estou realmente louca! Ai Deus! - suspirou Allegra se jogando contra seus travesseiros.

- Não, não está. Isso é só uma coisinha que nós fazemos.

- Nós? Nós quem, fazemos o que?

- Suponho que você tenha muitas perguntas para mim, não é pequenina? Vamos começar com as coisas que você encontrou no meu quarto.

- É... Como você conseguiu todos aqueles livros? Eu sempre achei que você era... pobre. E aqueles livros são caros e difíceis de encontrar. Além disso, aqueles não parecem ser o tipo de exemplar que a igreja aprovaria.

- Não, ela certamente não aprovaria. Mas eu acredito que todo tipo de conhecimento é valioso e pode vir a ser útil em algum momento. Infelizmente a Santa Igreja Católica discorda. Eles preferem roubar toda a sabedoria que a humanidade adquiriu em milênios só para eles. E sobre como eu adquiri todos aqueles livros... - Francesca se aproximou de Allegra e continuou - eles pertencem ao meu coven.

- Seu o que? - questionou Allegra.

- Meu coven. Coven é um grupo de pessoas que se encontram para... dividir conhecimentos.

- Hum, soa peculiar. Para que alguém precisaria saber como adorar deuses antigos, sobre sacerdotes que adoram a natureza e sobre formas de adquirir vida eterna? São interesses um tanto quanto subversivos Francesca. Poderiam ser mal interpretados caso fossem encontrados no quarto de uma cristã.

- Mas estes livros não foram encontrados nos aposentos de uma cristã, foram? - disse Francesca dando um sorriso sagaz.

- Bom, eu acho que foram porque até onde eu sei você é... - a voz de Allegra morreu quando finalmente compreendeu o que acabara de ouvir. Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu, soltando um estranho som de consternação e choque. - Vo... Você é... uma bru... bruxa? - perguntou com uma voz infantil.

- Sim e detestaria ser qualquer outra coisa. - disse sorrindo por causa do espanto de Allegra. - é um alívio finalmente poder te contar pequenina. Eu odiava ter que mentir para você quando descobria algo que não deveria no meu quarto.

- Você sempre foi... bruxa então?

- Sim, eu venho de uma longa linhagem de bruxas e bruxos. Infelizmente temos de nos esconder agora. A Santa Igreja Católica não é lá muito tolerante com os que pensam diferentemente. Apesar de estudar a bíblia a vida inteira, a maioria deles não entende sequer uma palavra da real mensagem daquele que dizem seguir.

- Você vem de uma linhagem? Essa maldição sempre perseguiu sua família? Pobre Francesca... Eu pensava que para se tornarem bruxas as mulheres tinham que entregar suas almas e corpos para o diabo.

Ao que Francesca, já impaciente respondeu:

- Allegra, ser bruxa ou pertencer à tal linhagem não é uma maldição, é uma honra! E nós não fazemos pactos com o demônio. Até porque não acreditamos em sua existência.

- Vocês não acreditam no demônio? Então o que vocês temem? Quem é o responsável pelos males do mundo? - questionou Allegra.

- O homem é o único responsável pelo mal que pratica. Ninguém mais. Nós bruxas não cremos em total pureza ou maldade do ser humano. Todos carregam em si o poder de fazer o bem ou o mal, e todos são livres parq escolher. Mas para todas as ações nós bruxas consideramos a Lei Tríplice. Tudo o que fizeres, voltará três vezes mais forte pra você.

- Tudo bem, mas se vocês não creem no diabo, e talvez nem em Deus no que acreditam então?

- No equilíbrio de tudo. Na Deusa e no Deus e na natureza através da qual eles se manifestam.

- Só isso? - Allegra questionou surpresa.

- Só isso. - Respondeu Francesca sorrindo pacificamente.

- Sem bodes, danças nuas na floresta, pactos, raptos de crianças, sacrifícios de animais, nada disso é verdade?

- Não, minha pequena. Nada disso é verdade. Essas mentiras foram criadas para reprimir qualquer pessoa que não se submeta a cristandade. Assim, quem ainda tem coragem e força para adorar os antigos deuses, precisa ser extremamente sigiloso, caso contrário acabará indo para a ... bom, você sabe.

- Fogueira. - respondeu Allegra, triste.

- Nós somos pessoas boas. Tudo o que sabemos é usado para a adoração dos deuses, da natureza e com isso ajudamos quem necessita. Preciso que você nunca se esqueça disso. Pequenina, meu tempo aqui está acabando, já posso ouvir o chamado da Grande Mãe. Mas eu preciso que você me ajude a fazer uma travessia tranquila. - disse Francesca apreensiva.

- Foi por isso que me pediu para buscar Belladonna? - perguntou séria.

- Sim, mas não há mais tempo. Preciso que você use toda a sua inteligência para me ajudar. Eu sei que você é capaz. Afinal, seu destino é salvar milhares de vidas.

A imagem de Francesca se desfez no ar e foi como se tivesse levado um pedaço de Allegra, que arregalou os olhos e se levantou da cama como se lhe faltasse ar depois de algum pesadelo.

"Eu estava sonhando?" - se perguntou Allegra decepcionada.

Estava prestes a chorar quando ouviu vozes vindo da sala de estar. Ela reconheceu o dono da voz e seu coração se tornou angustiantemente apertado. Quem estava lá era o Inquisidor Fritz e ele não parecia trazer boas notícias. Descendo silenciosamente os degraus da escada, Allegra se aproximou a tempo de ouvir um sussurro sentenciador :

- Ela irá para a fogueira amanhã por heresia e bruxaria.




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A Fogueira Da BruxaWhere stories live. Discover now