Conversando

145 19 34
                                    

Pov's Nilce

-Você é ridículo! -digo pra ele
-Me poupe! -ele diz pegando a conta
-E agora, cabeça dura, como que eu volto pra casa?
-Com as pernas, seu carro vai passar uns dois dias ai... -ele diz saindo da oficina, eu o sigo
-Ah pois você vai me levar pra casa!
-Eu não, tenho compromisso!
-Ah é, pois cancele-o! Você vai me levar pra casa! -digo abrindo a porta do carro dele
-Como nos velhos tempos? -ele solta como quem não quer nada, abrindo a porta do carro também
-Os velhos tempos morreram quando você disse não! -minha voz soa seca
-Eu não me importo de te levar até em casa, mas não sei se você se importa em desviar do caminho... -ela diz botando o cinto, faço o mesmo
-Aonde você vai?
-Meu compromisso. Tenho que ir buscar a minha filha na escola.
-Filha? Era só isso?
-Não é só isso, é a minha filha. -ele diz tirando o carro do lugar
-Filha?
-Sim, Nilce, muitas coisas mudaram depois que você foi embora! -ele fala e eu ouço um tom de mágoa na sua voz
-Nem começa. -digo e a conversa se encerra

Ele continua seguindo caminho. Vai buscar a sua filha. Eu conheço o caminho que ele percorre. Ele está indo pra minha escola, nossa escola. A única na cidade. Lembro que a escola era quase fora da cidade, afastada. Mas hoje ela me parece perto demais. Ele desce do carro pra buscar sua filha e a silhueta dele se afastando me lembra de algo.

Viro-me pra trás pra procurar. Ela ainda está lá. A roda gigante, do lado oposto a escola, mais alta que todas as casas. Volto a olhar pra frente quando a minha porta é aberta pela filha dele. Cabelos negros, olhos castanhos, pele clara. Diferente de como imaginava nossa filha pela cor dos olhos, apenas. Ela me olha chocada.

-Oi -digo
-Quem é essa pai? -ela pergunta fechando a porta
-Uma mulher. -ele diz abrindo a porta
-Ah vá. -ela diz entrando no banco de trás
-Oi! -digo novamente
-Oi! -ela responde e pergunta -Qual seu nome?
-Nilce e o seu? -respondo
-Verônica, mas pode me chamar de Nica. -ela se apresenta
-Quantos anos você tem, Nica? -pergunto enquanto voltamos pra casa
-16 -ela responde
-Casou rápido você -digo pra Leon -Onde você mora? Nunca te vi por aqui... -ela pergunta
-Cala a boca, Verôrica. -Leon diz
-Não, deixa ela perguntar o que quiser! -digo pra Leon que me encara bravo -Se tem uma coisa que eu não tenho, essa coisa é medo de você. -Verônica ri
-Vocês se conhecem há quanto tempo? -ela pergunta mudando de assunto
-Há muito tempo -digo -Eu nasci aqui.
-Por que foi embora? Não gostava daqui? -ela pergunta e vejo Leon ficar tenso
-Eu amava tudo daqui, amava tudo que era meu! -Leon me olha de canto de olho, eu o encaro e continuo -Mas eu sai daqui porque não queria ficar reduzida a só essa cidade, queria estudar, fazer faculdade.
-E por que voltou? -Mas que curiosa não é mesmo?
-Por causa da minha mãe. Ela está muito doente...
-Ah meu Deus! -Leon exclama -O que ela tem?
-Pneumonia. -digo
-Ela vai melhorar! -ele diz pondo a mão na minha perna e me olhando, tentando me confortar

O tempo parou. O ar congelou a nossa volta. Sei que Verônica está olhando pra mão dele na minha perna, estática. Mas ele volta a olhar pra estrada e não tira a mão dali. Ela deve estar tão sem fala quanto eu, que me esforço pra não arrancar a mão dele dali a tapas a acabar causando um acidente. Ele só tira a mão na hora de fazer uma curva, eu solto a respiração que não sabia que estava segurando, e entra na estrada das nossas casas.

-Ah não, pai! Deixa ela na casa dela primeiro, depois me leva! -Verônica protesta

Ele continua indo em silêncio. Então ele para. E ela desce e eu desço. Ela entra em entendimento.

-Ah meu Deus!
-O que? -pergunto
-Ah meu Deus! -Ela grita olhando pro pai que acabou de sair do carro
-O que? -ele pergunta
-Você é uma Moretto! -ela grita -Você é a...
-Verônica, pra dentro! -Leon engrossa a voz pra falar, ele está atrás de mim
-Mas pai...
-Agora. -ele diz e ela se vira pra entrar
-Tadinha! Deixe ela saber das suas merdas seu panaca! -digo virando-me pra ele e ele está tão perto que posso sentir seu cheiro
-Nunca.
-Okay. Mas eu só queria saber quem é a mãe dela. Observei tudo nela e não consegui descobrir de quem são as características maternas.
-Não vamos falar sobre ela. -ele responde, curto e grosso
-Por que não?
-Porque ela está morta.

Hello,
It's me!

Eu não consegui terminar de escrever ontem! E quando terminei meu pai desligou a Wi-Fi

Between love and hateWhere stories live. Discover now