Capítulo II

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A primeira tragada que dei em um cigarro foi "só para experimentar". Lembro-me disso com muito arrependimento nos dias de hoje. Mas a questão é que aqueles que fumavam se destacavam na turma, eram considerados mais maduros e respeitados entre todos. E eu queria ser um deles.

Sei que não estou sozinho nisso. Apesar de naquela época eu ainda não ter me envolvido com outras drogas, o fato é que população do planeta Terra está se drogando cada vez mais. Segundo relatório anual sobre drogas das Nações Unidas (World Drug Report), "o mercado de cocaína parece estar se expandindo na América do Sul e nas economias emergentes na Ásia". A produção de cocaína, por exemplo, " variou de 776 a 1051 toneladas em 2011", e as " maiores apreensões de cocaína do mundo (...) continuam a ocorrer na Colômbia (200 toneladas) e nos EUA (94 toneladas)".

O relatório continua informando que "As apreensões de cristal de metanfetamina aumentaram para 8,8 toneladas, o nível mais alto nos últimos 5 anos, indicando que substancia é uma ameaça iminente". Por fim, o relatório aponta ainda que a Cannabis continua a ser a substancia ilícita mais utilizada (com 180 milhões de consumidores, ou 3,9 por cento da população mundial de 15-64 anos). Definitivamente, eu não estava sozinho no mundo. O relatório pode ser lido na íntegra em http://www.unodc.org/unodc/en/press/releases/2013/june/2013-world-drug-report-notes-stability-in-use-of-traditional-drugs-and-points-to-alarming-rise-in-new-psychoative-substances.html

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Tabaco e Nicotina

Trata-se de um droga legalizada que é obtida a partir das folhas da Nicotiana tabacum. O fumo usado nos cigarros de tabaco é manipulado quimicamente de modo a receber em sua composição mais de 4.700 substancias tóxicas.

EFEITOS COLATERAIS: ansiedade, depressão, sonolência ou dificuldade para dormir e ocorrência de pesadelos; dores de cabeça, problemas de concentração; doença pulmonar obstrutiva cronica e diversos tipos de câncer.

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Mas por enquanto pensava estar a salvo com os aparentemente inofensivos hidrocarbonetos e com o tabaco ( mais precisamente a nicotina), que era, afinal de contas, uma droga legalizada. Naquela época, acreditava que, experimentando o fumo, jamais me viciaria nele. Todo jovem é dono de uma autoconfiança do tamanho do mundo, que ele infelizmente ainda não conhece bem a ponto de possuir domínio total sobre o seu próprio corpo.

A partir desse cigarro, vieram outros pensamentos de poder. Eu achava, de verdade, que o tabaco enrolado em papel, poderia ser o meu símbolo de grandeza, o estandarte das minhas poderosas legiões imaginárias_ precisava apenas ser o senhor daquele hábito e fumar só na hora em que bem entendesse. Mas a nicotina não perdoa quem se aproxima dela. Segundo a Organização Mundial da Saúde, essa droga atinge o cérebro em menos de dez segundos e vicia tanto quanto a heroína. a grande maioria dos fumantes desenvolve algum tipo de dependência em relação a ela. Menos de dez por cento conseguem largar o vício por mais de um mês.

Apesar disso, demonstrar confiança era fundamental no meu pequeno mundo. Daí, aquele cigarro, que era só para experimentar, ajudava a me dar uma sensação de auto afirmação diante das meninas de classe média-alta e também dos outros "amigos". Era óbvio que eu sofria de um problema de auto estima. Precisava tanto ser aceito pelo grupo, que me aventurava pelos caminhos da sedução fácil só para ganhar amizades e promover a minha pobre engenharia social. Eu parecia alguém sem apoio no lar, órfão de pai e mãe.

Mas isso nunca foi verdade. Como disse, e ao contrário do que alguns podem pensar, sempre tive pais presentes. Recebi deles a orientação de não andar com "más companhias" e também de ficar longe das drogas. Posso dizer que eles fizeram de tudo para me encaminhar na vida. Apesar disso, infelizmente escolhi, influenciado pelos "meus amigos", o outro caminho. Aquilo tudo foi mesmo uma escolha minha. Escolha que levou a outras decisões, como em um jogo interminável de desafios cada vez mais impactantes e cruéis, envolvendo um prémio que nunca me satisfazia, mas que sempre parecia valer a pena. Pura ilusão.

Essa vida de escolhas erradas pela qual optei foi bastante tribulada. Vivi situações adversas na adolescência, como brigas na escola. Eu não aceitava levar desaforo para casa. Havia me tornado um menino nervoso e agressivo. Achava que o cigarro e as outras substancias que consumia me faziam mais homem. Eu me achava "o melhor" e só queria viver o momento, só que sem pensar nas consequências ruins.

Até então, aqueles vícios de iniciante alimentavam o meu ego, e isso me bastava. Sem perceber, era como se os hidrocarbonetos do tíner e a nicotina que eu inalava me conduzissem para o interior de um labirinto em fim de vitórias pessoais. O que eu não sabia, não queria saber e, como diria um jovem da minha idade na época, tinha raiva de quem soubesse, era que, no caso do cigarro, suas substancias podem causar cerca de cinquenta doenças diferentes, especialmente problemas ligados ao coração e à circulação, além de canceres de vários tipos e doenças respiratórias.

Se alguém, fundamentado em pareceres médicos, me dissesse na época que em cada tragada são inaladas 4.700 substancias tóxicas, eu, com certeza, morreria de rir da cara dessa pessoa. E, assim, ia entregando voluntariamente o meu cérebro ao tabaco.

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