Capítulo 8

215 44 76
                                    




Aquela foi uma semana totalmente atípica. Toda a Vila parecia fervilhar. Foram dias intensos para as famílias Pavanello e Marcussi.

Triana e Domitila estavam totalmente entretidas com a escolha de cardápios, damas de honra e madrinhas. Triana e Renato quase não conseguiram se ver. Apenas duas vezes puderam se encontrar, mas na presença de Isabel, claro.

Até que chegara o grande dia e Triana estava mais do que ansiosa. Não via seu noivo há dois dias e aquilo a deixava ainda mais excitada para o momento em que, finalmente, seria a senhora Seabra.

O reflexo no espelho mostrava alguém que ela não conhecia. O brilho no olhar, as maçãs coradas e o ar seguro, eram elementos muito novos para ela. A garota amuada, sem horizontes a alcançar... A menina que não se permitia sonhar com coisas simples, como um amor verdadeiro, um lar, filhos... Parecia ter ficado lá atrás, para sempre enterrada sob os pés de Jesus, na propriedade dos Marcussi.

O sorriso alargou-se e Triana respirou fundo, apagando da memória todas as vezes em que seu pai esforçou-se - e conseguiu - convencê-la de que valia pouco, de que ninguém suportaria conviver com ela para o resto da vida, de que era inferior às demais senhoritas. Agora ela estava ali, vestida de noiva, prestes a ser a esposa de um homem digno, lindo e bem colocado na sociedade. Agora, ela é que seria a invejada, o exemplo a ser seguido.

- Quem diria, hein? - sussurrou para o espelho e sorriu satisfeitíssima com o que via.

Um baque surdo na janela despertou-a de suas reflexões.

Ela franziu o cenho e se perguntava se não havia se enganado com o que escutara, quando novamente o baque soou, deixando claro que alguém atirava pedras em sua janela.

Triana adiantou-se e abriu as pesadas portas de madeira da única janela de seu quarto. A luz invadiu o recinto junto com o aroma dos jasmins, que subiam enroscados nas treliças sob a janela.

Era impossível de acreditar, mas era Renato o atirador de pedras. E agora estava ali, parado em seu jardim, olhando para cima.

- Preciso falar com você!

- Você enlouqueceu?! Já estou indo para a igreja! Não pode me ver de noiva!

- É importante, Triana, por favor!

O que ele estava pensando?! O que seria tão importante a ponto de não poder esperar alguns minutos?

- Mas dizem que dá azar!

Sem mais delongas, Renato puxou as pernas da calça, para ter mais flexibilidade, e pendurou-se na treliça, escalando-a entre os jasmins com surpreendente maestria.

- Renato, você realmente enlouqueceu. Você pode cair! - Mas ele não lhe deu importância e continuou subindo. - Se cair, ficarei viúva antes mesmo de me casar!

A preocupação e o divertimento a rodopiavam, duelando.

Renato esgueirou-se e logo estava sentado sobre o parapeito da janela, segurando o rosto de Triana entre as mãos e beijando-a ardentemente.

Quando conseguiu recobrar o equilíbrio das emoções, a moça fitou o noivo, curiosa.

- O que há de tão urgente? Estamos colocando nossa felicidade em risco!

- Sim, você está certa. Por isso mesmo vim lhe pedir, pela última vez, que fuja comigo. Agora! Nesse minuto!

Triana franziu o cenho e o fitou com seriedade.

Estio [Degustação]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant