Johnny, Sem saída

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Precisei viajar para uma reunião de negócios e fiquei ausente por uma semana; afinal, apesar de eu estar fingindo ser estagiário, tinha que manter minhas obrigações de presidente da empresa. Usei a justificativa de que estava com conjuntivite.

Durante a viagem recebi várias mensagens de Alice, preocupada com minha saúde. Insistiu muito para me visitar, o que não permiti, todos devem imaginar porquê.

A viagem serviu para eu refletir sobre duas coisas importantes: o espião e Alice. O pior e o melhor da minha vida no momento.

No quinto dia, quando entrei no meu jatinho para voltar, até senti um alívio. Me dei conta do quanto estava cansado daquela vida de negócios.

Na chegada meu motorista estava me esperando; era meio-dia. Logo que entrei no carro meu telefone tocou. Era Alice.

- Oi Johnny, tudo bem com você? Como está a conjuntivite?

- Tô bem Alice, pronto pra outra. Se bem que não quero repetir a dose.

- Que bom Johnny. Mas eu quero comprovar isso pessoalmente. Depois do trabalho vou aí te visitar.

- Não Alice, melhor não. Vai que não estou bem curado. 

- Isso não está aberto para negociação. Eu não perguntei se eu podia te ver, eu só avisei. E se você tentar me enrolar de novo, eu vou no RH da empresa e dou um jeito de descobrir seu endereço.

Caramba Johnny, você tinha que gostar de uma garota tão linha dura? Eu sabia que ela não desistiria da ideia.

- Ok, ok. Então quando você sair da empresa você me liga de novo e te passo o endereço, pode ser?

-  Tudo bem, combinado. Não vai me dar bolo hein?

-  Eu jamais faria isso. 

Agora eu tinha um problema que nem toda a criatividade do Spielberg somada a genialidade do Jobs conseguiria resolver.

Eu tinha cerca de quatro horas e meia para arrumar uma casa e montar toda uma encenação. Segurei minha cabeça entre minhas mãos e pensei: "Essa eu não consigo resolver meu Pai do céu. Me ajuda."

Nisso escutei uma batida na janela do carro. Olhei e vi um homem oferecendo doces em uma caixa. Fiz sinal que não, o que foi uma bobagem, pois o carro tinha insulfilm e ele não conseguia me ver. Então abri a janela e disse:

-  Não quero amigo, obrigada.

- Po meu senhor, me ajuda aí, eu tenho sete filhos em casa, os menores são quadrigêmeos, e o mais velho ainda nao sabe falar, sabe, ele bateu a cabeça quando era pequeno e daí...

- Nossa, tá bom, tá bom. Pega aqui. Eu fico com a caixa.

- Cara valeu mesmo, eu vou pedir pra minha filha do meio fazer uma novena pra você, ela mora num abrigo de freiras e...

- Tudo bem, não precisa se preocupar não. Adeus.

-  Tchauzinho amigo, bom retorno pra casa.

Casa. Por um minuto esqueci que não poderia voltar pra casa. Não pra minha casa. Foi então que tive uma ideia.

-  Felipe, de a volta na quadra. Preciso falar novamente com aquele homem.

Demos a volta na quadra, e paramos o carro próximo ao vendedor.

- Ei amigo, vem cá. - chamei.

- Olha aqui cara, eu não tenho culpa dos doces serem falsificados, eu não sabia que o distribuidor...

-  Não é isso, tudo bem. Quero falar de outra coisa com você. Tenho uma proposta.

- Proposta? Como assim?

- O que acha de ganhar um bom dinheiro e com quase nada de trabalho?

- Tá falando do que camarada?

- Entra aqui no carro que vou te explicar.

O homem arregalou os olhos, deu um passo para trás e começou a gritar:

-  Saí daqui seu pervertido! Eu tô precisando de grana mas não a venda não viu? Cria vergonha nessa cara! Eu devia denunciar você pra polícia! Ou melhor, eu vou chamar a TV, seu cara de pau!

- Calma! Não é nada disso! Você me interpretou errado. Calma, ok? Eu preciso da sua ajuda justamente por causa de uma mulher.

A feição do homem mudou. Ele começou a sorrir.

- Ah tá! Tinha que ter mulher no meio né? Sempre tem. Fala aí então no que posso ser útil.

Abri a porta e ele entrou no carro.

- Você mora onde com sua família?

-  A gente mora num barraco lá perto do viaduto da avenida central. O que isso tem a ver?

- Então, eu preciso da sua casa emprestada, por umas duas horas.

- Você  não prefere ir pra um motel?

- NAO! Não é pra isso que você está imaginando.

-  Então qual é a treta? Da pra ver que você tem dinheiro, por que quer levar a mina no meu barraco?

- É uma longa história, mas resumindo, ela não pode saber que sou rico.

- Ah entendi. Tá cheio de mulher interesseira por aí mesmo.

- Ela não é desse tipo, mas por enquanto não posso contar.

- E qual é o plano?

-  Hoje depois do trabalho ela quer ir na minha casa. Você me empresta sua casa, eu digo que moro la, ela me visita, você é recompensado e fim da história.

- Você não é da polícia, não é ?

- Não... mas porque, tem alguma coisa que...

- Não, claro que não... mas vai saber né? Não custa perguntar... só fui detido uma vez, mas foi armação viu?

Por um minuto me questionei se aquilo era uma boa ideia.

- Enfim, fechamos negócio ou não?

- Pode ser mano, mas e quanto eu levo nessa?

- Oferto cinco.

- Cinco? Muito pouco né. Vou expor minha casa, colocar minha família de noite pra fora de casa, e um dos quadrigêmeos tem bronquite e...

- Dez.

- Quinze.

- Ok, quinze. Meio caro, mas é o preço do desespero né? Fechado. Quinze mil reais. 

- Quinze mil?

O homem parecia que ia enfartar.

- É, não foi isso que voce pediu?

- E e  e ... eu... é.. claro... quinze mil.

O homem me abraçou e sorriu.

-  Vamos lá então socio. Vamos conhecer sua nova casa. Alias, sócio, como é seu nome?

-  Johnny, e o seu?

- Sérgio, mas todo mundo me conhece como Sezao.

Sezao do sinal.

Que virada em minha vida.

Antes empresário bilionario; agora sócio do Sezao do sinal.

Minha mãe dizia que uma pessoa apaixonada é capaz de qualquer coisa.

Talvez por isso eu seja capaz de qualquer coisa por Alice.




Meu namorado bilionário - VOLUME 1 - COMPLETOWhere stories live. Discover now