Capítulo Três:

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A aula daquele dia passou muito rápido, rápido demais para
quem tinha os dois últimos tempos de matemática, acho que es-
tava tão focada em aprender alguma coisa que nem vi o tempo
passar. Logo eu já estava na última aula, descobri que o tal Ethan
tinha todas as aulas compatíveis com as minhas, com exceção de
uma aula de história. Mas não foi como se eu estivesse prestan-
do atenção em cada passo seu, é claro que não. Apenas fiquei um
pouco curiosa com aquele garoto que não havia aberto a boca
desde que chegara ao colégio. Bom, ele devia ser apenas tímido,
como qualquer outro novato normal.

Depois da aula eu fui para a casa caminhando, a neve tinha
começado a cair de novo. Sem querer me peguei pensando em
Ethan novamente. Não pensar no tipo “estou interessada”, ape-
nas pensar no sentido de... bom, pensar. Era bom pensar em um
garoto daquele jeito, a última vez em que eu tivera uma paquera
mais forte fora na oitava serie, mas me desiludi completamente
quando peguei o menino que eu gostava beijando uma das mi-
nhas amigas, depois disso fiquei meio que de mal com o amor,
pensei que nunca mais ia gostar de ninguém, que nunca mais ia
ser feliz.
Até hoje, quando lembro disso, me dá uma súbita von-
tade de rir.

Quando somos adolescentes pensamos que quando
uma coisa não dá certo na nossa vida quer dizer que nunca mais
vai dar, só depois daquilo eu devo ter gostado de mais uma dú-
zia de meninos, mas sentia que nenhuma das minhas “paixões”
era verdadeira, como havia sonhado.

Cheguei em casa em dez minutos, a neve realmente estava
dificultando a caminhada.

“Oi, filha”, meu pai disse quando me viu entrando, ele esta-
va sentado à mesa da cozinha, lendo um jornal e tomando chá.

“Oi, pai, onde está todo mundo?”, perguntei, já estranhando
o silêncio, meu irmão geralmente vivia na frente da televisão jo-
gando videogame e minha mãe já deveria estar em casa.

“Sua mãe está lá em cima e seu irmão saiu, foi dormir na
casa de um amigo.” Sorri, pelo menos uma noite da minha vida
eu dormiria sem ter que ouvir os sons de luta dos jogos idiotas
do meu irmão.

Subi as escadas para ir ao banheiro tomar um banho quente,
minha mãe já estava descendo as escadas para a sala.

“Mark! Você sabe onde estão aquelas...”, ela começou a di-
zer, gritando com meu pai. “Ah, oi, Ana, se eu fosse você ia dire-
to para o banho, o tempo promete esfriar ainda mais essa noite”,
ela disse, se virando para mim.

“Se o tempo continuar esfriando por aqui, daqui a pouco
vamos ter que nos mudar para o polo norte, lá deve estar mais
quente que em New Winter”, ela riu, concordando, e acabou de
descer as escadas até a sala.

Fui direto para o banho. Quando acabei, fui para o meu
quarto e vesti um pijama bem quente, me joguei na cama e
fui ler um livro. Diário de uma paixão. Minha noite seria bem agradável ao lado de um bom romance, presumi.

Por um mo-
mento me perdi completamente na leitura e fiquei imaginando
como seria viver um sentimento tão intenso como o que o autor
descreveu ali, entre os dois protagonistas. Era tão lindo e puro
que fiquei encantada!

Depois voltei à realidade e ri de mim mesma, amores como
diziam ali eram muito difíceis de encontrar, algumas pessoas
nem sequer encontravam, e eu tinha certeza de que eu me en-
quadraria em uma dessas pessoas.

O que eu não sabia era que o amor na verdade é bem fácil de
encontrar, ele pode estar ao nosso lado, nós só precisamos nos
permitir enxergar.

Entardecer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora