Akira é falso

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Adiei ao máximo chegar em casa. Shun acompanhou minha lentidão sem questionar, ele já sabia o motivo de meu receio. Mas quando se anda chega a algum lugar. Me despedi de Shun na frente de sua casa e fiquei parada ali na frente mesmo após ele ter entrado. Olhei para o céu, estava naquele costumeiro azul perfeito, nuvens brancas decorando os céus como algodões gigantescos. Eu queria poder evaporar como água e virar uma nuvem que fica no ar sem ter que enfrentar minhas dificuldades. Suspirei e preguiçosamente entrei na casa que tinha acostumado a chamar de minha casa, já que pelo visto minha mãe não daria notícias tão cedo.
Abri a porta e coloquei primeiro a cabeça dentro depois um pé e então eu estava totalmente no interior, fechei a porta devagar, como quando se está fazendo algo escondido. Me virei e soltei um pequeno grito. Um rosto totalmente vermelho estava de frente para o meu, o nariz era comprido e quase encostava em mim, era anormalmente longo, os olhos em uma fúria escura, tinham chifres pequenos despontando das têmporas, um cabelo branco e muito grande decorava o entorno, na boca risonha dentes pontudos e compridos ameaçavam me morder, o resto eu não via, estava muito concentrada na boca que quase me devorava por inteiro.
- Você demorou.
A voz saiu abafada e a boca não se moveu.
- O que foi isso?
Era a voz de Britta.
- Você a esta assustando!
Ele virou o rosto para Britta e eu aproveitei para escapar do confinamento promovido pela porta e pelo estraho vermelho.
- Como alguém pode ter medo disso?
Eu alcancei Britta e me escondi atrás dela. O estranho vermelho usava uma vestimenta parecida com a de Shun, hakata, mas era uma mistura de verde, vermelho e preto e além dos tecidos tinha uma espécie de armadura preta. Eu não sabia se ele olhava para mim ou Britta enquanto falava.
- É uma máscara.
Olhei para a bruxinha.
- O quê?
Ela apontou pro estranho vermelho. Observei o rosto com mais atenção e percebi que a expressão estava muito sólida para ser real, mas...
- Se é uma máscara, por que não tira? Eu quase caí dura no chão com isso!
- Não.
Ele respondeu sério e eu olhei para Britta. Ela falou baixinho para mim.
- Quando estão fora dos seus domínios eles usam máscaras e não podem tirar, há exceções, mas seguem isso a risca.
Tengu. Aquele deveria ser Akira, não estava nem um pouco ansiosa para conhecer ele melhor.

◇•°•◇

Meu indicador direito batia freneticamente em meu joelho, ainda estava com o uniforme. Os segundos naquela sala estavam torturantes. Claren entrou carregando uma bandeija, haviam xícaras com algum de seus chás deliciosos dentro e os biscoitos que pareciam não ter fim. Bebi um leve gole rápido e peguei um biscoito o colocando inteiro na boca antes de voltar à posição de antes, olhando para o quadro na parede oposta, definitivamente trabalho de minha mãe, mas para mim aquela obra era nova, mostrava a floresta das cores, inicialmente azulada e seguindo para a direita tomava outras cores, como se ela a tivesse pintado por um dia inteiro sem parar e capturou cada cor que ela assumia durante o dia, desde o azul claro passando pelo vermelho até a completa escuridão, era uma noite de lua nova, a única que deixa a floresta negra como as descritas em livros de terror. Eu me atentava a cada árvore e pincelada, eu sabia exatamente quais movimentos ela deveria ter feito para construir a imagem, a vira pintando por toda a minha vida, aproveitei a sensação de proximidade breve que estava tendo até ter minha imersão interrompida.
- Qual o seu nome?
Olhei para o homem mascarado sentado à frente, sua voz abafada soava mais tranquila. Condenei Britta por me deixar sozinha ali com ele, sua desculpa de que a loja precisava ficar aberta não tinha sido convincente e mesmo com Claren ali ela estava em profundos pensamentos, estando ainda mais distante que a bruxinha, até mesmo a havia pego lavando o mesmo prato por minutos afim.
- Não já sabe?
- Saber o nome de alguém por outra pessoa não é o mesmo que escuta-lo vindo da própria pessoa. É possível saber muito de alguém apenas pelo modo como diz seu nome e se apresenta.
Suspirei.
- Maika.
Ele se demorou muito, até que se pronunciou.
- Meu verdadeiro também não é Akira.
Resetei. Como ele tinha descoberto? Tão fácil, ele havia dito que eu estava mentindo apenas com uma apresentação. O imaginei rindo atrás da máscara.
- Irei lhe ensinar isso se desejar.
Não respondi e ele prosseguiu.
- Hoje gostaria apenas de saber mais sobre você. Não vamos treinar. Mas amanhã irei iniciar seu treino assim que eu acordar.
Engoli em seco, não estava preparada para acordar de madrugada para fazer qualquer exercício que estivesse incluso nos treinos dele.
- Então, - ele olhou para a xícara na mesa de centro intocada - isso é bom?

÷×÷×
Pessoal, minhas provas começaram então terão dias da semana que poderei não ter como postar, mas me esforçarei para continuar a mil nessa história!

Cidade de Magia - Contos de EspinhosWhere stories live. Discover now