4 de Março de 2016

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4 de Março de 2016

Eu estou pronta para morrer. Os remédios estão em minhas mãos, o copo d'Água transborda. Então é isso...

O mundo gira em minha volta, os pássaros catam nesse nublada manhã. Meu pai está dormindo, ele não saberia; somente quando encontrasse o meu corpo gélido e pálido em minha Cama na manhã seguinte.

Então eu tomo a minha primeira pílula.

Penso no estupro, nele em cima de mim, me sufocando, agarrando os meus cabelos. Usando o seu Pinto contra mim enquanto eu lutava contra. E de uma certeza sei:  essa será uma cicatriz que nunca se curará. As minhas lágrimas jorram pelo os meus olhos, não reconhecia o meu próprio corpo.

Os meus cabelos estavam ralos, quebradiços. Meus olhos eram profundos, uma grande e negra imensidão em volta do verde de minhas córneas. Meu corpo estava esquelético, podia-se ver os ossos rasgando minha pele. As minhas sardas não eram tão encantadoras como eram antes. Eu estava uma bagunça, eu estava quebrada.

Então a segunda pílula é tomada.

A imagem da minha mãe paira no ar, penso nela em seu sorriso, em como ela dizia que tudo ficaria bem. Seus cabelos encaracolados suavizavam aquela manhã. O jeito de que ela fazia as coisas parecerem mais simples, apenas com um sorriso singelo. E lá estava, a simplicidade de um sorriso que hoje já não mais está entre nós.

Então mais uma pílula é tomada.

A cada passo que eu deixo para trás, a cada estrada que caminho a minha frente. O fogo não poderia me curar, ele me comeria viva. Mas ele é meu amigo, assim como morte. Sombras da ilusão.

Mais duas pílulas.

Sinto a dependência me consumindo, como uma água que lhe afoga. Estou num mar de ilusões e desapontamento.  E ninguém está aqui para me salvar. Estou sozinha, quebrada, iludida, humilhada, refém da própria alma.

A cartela de remédios agora está vazia. Peguei mais remédios, os bebia de toda vez. Foram mais de vinte e eu os bebi sem hesitação. Agora é o meu fim. Deixarei todos os meus sonhos para trás, toda a minha família, conhecidos e pessoas que eu deveria conhecer. Nós voamos todos os dias mas, no final, somos apenas pássaros com asas quebradas.

Sento-me no chão do meu quarto e espero a morte vir me cumprimentar. E eu a colheria como uma grande amiga.

Shake It Off [ Projeto 1989] Where stories live. Discover now