Capítulo 1

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Lembro de nós dois
Sorrindo na escada aqui
Estava tudo tão bem
De repente, acabou
Vozes no portão, passos no saguão
Poderia ser você
Mas faz tempo que partiu... 🎤

Estava eu, fazendo minha caminhada de domingo, ouvindo meu repertório de músicas, e na sequência eu sabia qual música iria vim, "Menos de um segundo", música da banda Rosa de Saron. Aquela banda que você gostava, quer dizer, amava. "Partiu, um dia qualquer, sem ao menos dizer adeus."

Agora eu estou aqui, com suas músicas, nossas músicas, tentando suportar sua partida, me agarrando em Deus, pedindo à Ele que não me abandones, pedindo a Ele, um amigo.

...

26 de Fevereiro de 2016...

Quando entrei naquele quarto, vi o sorriso mais lindo da minha vida, o seu. Ele não era lindo por vim de você, era lindo, por quê mesmo com dores insuportáveis, você sorria.

- Oi, tudo bem? - perguntei mesmo sabendo que não estava bem.

- Oi, estou melhorando. - respondeu com sorriso.

- Oi, Mi. Sinto muito. - falei baixinho, abraçando-a.

- Me diz que vai ficar tudo bem. - pediu baixinho. - Preciso falar com você em particular. - me chamou para um canto sem que Manoel pudesse nos ver.

Olhei para ela, e sem palavras nos abraçamos deixando lágrimas caírem.

- Não vamos chorar na frente dele nem demonstrar fraqueza, okay? - pediu ela.

- Okay. Eu consigo ser forte. - disse limpando as lágrimas.

Voltamos para onde Manoel estava. Eu me sentei numa cadeira que ficava do seu lado esquerdo da cama, e Mirella, sua namorada, sentou-se do outro lado onde tinha um sofá pequeno.

- O quê você anda fazendo, Luci? - perguntou Manoel.

- O de sempre, trabalhando, indo na igreja, comendo, essas coisas. - respondi.

- Voltou com seu ex?

- Não. Mas as vezes...

- As vezes vocês ficam! - falou me interrompendo.

- Sim! - sorri.

- Se você gosta dele, deixa o orgulho e volta. - disse Mirella.

- É porquê ela não sabe se o ama mesmo. - disse ele. - Se você continuar com medo de viver um amor, você nunca vai viver um de verdade.

- Eu sei Manoel, mais ele me deixa muito insegura.

- Enquanto você não for segura de si mesma, não pode cobrar dele segurança num relacionamento. - disse segurando minhas mãos que estava em cima de sua cama.

- Eu vim aqui para te vê e saber de você, deixa sua psicologia de amor para quando você sair daqui. - rimos juntos.

Em cada conversa, ele arrancava risos de nós duas. Eu via ele rindo, dando gargalhadas, mas as vezes, seus olhos tinham uma expressão forte de tristeza, com certeza era por culpa das dores. Eu tentava não desabar ali, senti medo de perder meu amigo, de vê sua namorada morrer junto com ele, de não vê aquele sorriso novamente.

Era hora deu partir. Mirella pediu para que eu orasse por ele, com muito dor no peito eu orei.

Pai, venho te agradecer por nossas vidas e por nos amar. Te agradeço Deus pela vida do Manoel, mesmo ele estando numa cama de hospital, sabemos que o Senhor está com ele.
Te pedimos Pai, faça um milagre na vida dele, tira toda a infermidade que habita no seu corpo. Cuide de Mirella Deus, pois ela precisa de forças espirituais para estar aqui, ao lado dele. Te agradecemos Pai, Amém.

Deus sabia que minha fé naquele momento, não era grande, mas eu ainda acreditava que aquilo iria passar, que Manoel iria ser curado.

- Fica com Deus Manoel e Mirella. - falei me despedindo.

- Vai com Deus. - disse Mirella

- Vai com Deus. Toma juízo, e tenha fé, quando eu sair daqui vou ser seu psicólogo novamente. - disse Manoel, com tanta fé, que eu quase me bati por ter menos fé do que ele.

Quando saí daquele quarto, me derramei em lágrimas, senti alguém me abraçar, era Mirella.

- Eu sei que isso iria acontecer, eu sempre saio do quarto para chorar também. - disse me confortando.

- Sinto muito. Você está ao lado dele todos os dias e eu estou aqui me desabando. Eu que deveria estar te dando forças. - falei sem forças.

Me despedi dela, e fui embora daquele hospital.

Nunca vi alguém sofrer tanto com câncer de próstata aos 21 anos de vida. Eu sei que morre pessoas de várias idades todos os dias por causa do câncer, mas eu nunca tinha presenciado alguém que eu amava passar por àquilo. Eu orava no caminho para casa, clamava ao Pai em pensamento pela cura, por um milagre. Eu não acreditava no que estava acontecendo, não acredito até hoje.

Salmos 141:1
SENHOR, a ti clamo, inclina os ouvidos à minha voz, quando te invoco.

   Ele nos ama!

Proucura-se um amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora