Capítulo 2

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    ÉSÓ AGUARDAR.    

Sabe, dizem que a pior noticia é a que chega primeiro, mas nada deveria ser tão horrível quanto esperar pela noticia, não saber o que fazer, não saber o que pensar, e nem pelo que esperar.

Eu estava a imagem do desespero, não conseguia parar de chorar e de lembrar que aquilo era real, que não era mais um dos meus pesadelos, e a falta de noticia só me deixava mais aflita.

Aguarde um momento, disse a enfermeira eu não podia aguardar, não quando a única pessoa do mundo que eu amava estava naquele hospital, em um dos quartos precisando de mim.

Eu vi um medico se aproximando, e pedi para Deus um milagre, um sinal de que tudo ia ficar bem.

Captei palavras, bateu a cabeça, sangue no cérebro, cirurgia , estado critico, recuperando, coma.

COMA? Eu estava num estado que parecia que estava segurando o ar, ao ouvir coma, meus sentidos escureceram e eu acho que desmaiei o que não era possível, porque eu não desmaio, minhas pernas só ficaram bambas e precisei me segurar no medico. Eu estava em estado de negação, mas veja, eu podia lidar com o coma enquanto meu marido permanecesse vivo.

Pessoas foram chegando, e me dando apoio, mas a única pessoa que poderia me dar apoio estava em coma, eu não sabia nada sobre o coma, como eu poderia confortar alguém, quando eu estava em estado de choque? Os pais dele chegaram, e do jeito que a mãe dele olhava para mim, parecia que ela me culpava por seu filho estar em um hospital.

Você tem que saber sobre meus sogros, eles me odiavam. Odiavam meu status pobre, odiavam minha escolha de faculdade, e odiava que eu arrastei seu único filho para tão longe deles. Eles eram pessoas mesquinhas, e eu sabia que se morássemos por perto, eu ia ser infeliz. Meu marido concordou, ele nunca ligou para dinheiro que sempre teve, e ele só queria a mim, e mais nada. E isso irritou seus pais tão profundamente que ficaram anos sem mandar um cartão postal.

Eu já estava farta das encaradas para mim, eu estava farta das pessoas chorando ao meu redor como se ele já estivesse morto, eu estava farta e queria ver meu marido.

E fui, ele estava em uma UTI, porque pelo o que eu entendi estava em estado critico, então eu tinha que trocar a roupa. Eu estava em um estado em que faria qualquer coisa para vê-lo, e se me dissessem que teria que andar pelada no rio de Salomão, eu iria.

Eu tive um monte de primeiras vezes, e sempre estava pronta, andar de bicicleta, meu primeiro dente que caiu, meu primeiro amor que me trocou, perder minha virgindade, me casar, ser casada, eu estava pronta para isso. Mas nada poderia me preparar para aquilo, minha primeira vez na UTI, em algum lugar da minha cabeça, acha que o lado racional que ainda me restava, me dizia para parar de chorar e ser forte por ele, mas quando na maioria das vezes você é guiada pela emoção, eu não escutei.

Rasparam o cabelo dele, ele estava muito pálido pela perda de sangue, tinha fios e tubos que ligavam ele a uma maquina, e seu coração estava batendo muito lentamente.

Eu disse que não desmaiava, mas a vê-lo assim, eu tive certeza que desmaiei.

Quando acordei, estava em uma cama de hospital completamente confusa, ate me lembrar do ocorrido. Meu marido precisava de mim e eu estava desmaiando por ai, patética.

A coragem que eu tive que tomar, levou tudo de mim. E me lembrei daquela manha da força que ele me passou quando contei sobre meu pesadelo. Eu tinha que ser forte por ele, ficar desmaiando não era uma opção.

Pedi para me deixarem vê-lo outra vez e prometi que não ia cair de novo, e que pararia de chorar e foi o que eu fiz.

Ao vê-lo lá, naquela cama de hospital totalmente apagado, sem ter consciência do mundo, cortou meu coração aos pedaços. Sentei ao lado dele, que era o meu lugar e pedi para que ficasse comigo, para que não me deixasse. Pedi para lutar, por ele e por mim, e pela vida que ainda nós não vivemos, pelos filhos que planejamos ter.

Disse-lhe como e o quanto o amava, e que estaria sempre ali do lado dele, mas para que ele acordasse logo. Beijei seus lábios que estavam frios, eles nunca eram frios, sempre quentes. E me tiraram de lá, porque meu tempo acabou.

Eu dia a mim mesma que podia fazer isso, nós dois podíamos passar por isso, não é o que dissemos na igreja perante a Deus "Na saúde ou na doença"? Nós vamos passar por isso.

Colocar isso mentalmente era uma coisa, na pratica? Totalmente difícil, o meu coração estava dolorido pelo meu marido, meus olhos inchados de chorar, as eu tinha que fazer isso por ele. Amanha talvez será melhor que hoje, eu tenho fé.

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