Prólogo

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Dez minutos e nada de um trem ou alguma pessoa aparecer. Tinha alguma coisa errada. Era como se eu estivesse presa em algum tipo de filme de terror.

O que diabos eu fiz para isso acontecer?

Nessas idas eu já nem me importava mais em chegar em casa. Tudo que eu queria era ver alguém, qualquer um. Qualquer um.

Eu não quero ficar sozinha!

E então as luzes da estação piscaram. Não uma nem duas delas. Todas elas. Como num filme antes do monstro aparecer.

A heroína está sozinha na estação de metrô. As luzes falham uma, duas, três vezes e não acendem mais. Ela pega seu celular e o usa como lanterna. Ela está assustada, seus batimentos disparados, sua respiração pesada. Ela ouve um barulho e grita. Alguma coisa se arrastando. Alguma coisa muito grande. Ela vai se afastando com cuidado, tentando não fazer barulho. Uma luz aparece no escuro. Verde, brilhante. Como olhos. A heroína derruba o celular. Ela quer gritar, mas se segura. Não pode fazer barulho ou o monstro irá vê-la. Tem que ficar calada. Totalmente calada. Andando, ela bate as costas numa parede. Não tem mais volta. As luzes estão se aproximando. O celular caído no chão ilumina um pedaço do monstro. A heroína vê escamas. Verdes, grandes, brutais. As luzes piscam e um vislumbre do monstro aparece.

Longo, grande, assustador, terrível.

Só impressões. Nada claro. Ainda não é hora de matar. Por enquanto, só sustos, só medo. As pernas da heroína falham, ela se senta no chão. Ela quer desaparecer, escapar do pesadelo. Ela já consegue ouvir a respiração do monstro. Ele está perto. A heroína tapa a boca com as mãos para segurar o grito entalado na garganta. Ela só quer que tudo aquilo acabe logo. Um pedido tão simples. Ela está desesperada. O medo tomou a cena. As luzes piscam novamente, dando outro vislumbre da criatura.

Uma boca sedenta, presas horrendas, olhos vorazes.

Os barulhos param. Depois de alguns instantes, a heroína recupera um pouco de esperança. Ela acha que o monstro foi embora. Ela acha que pode escapar. Esperança. Não muita, mas é necessária. Fazer acreditar. E então, quando as luzes se acendem, a heroína vê o monstro. Suas mãos falham e o grito escapa.

Era uma serpente, mas não podia ser real. Uma serpente jamais poderia ser tão grande. Ela mal cabia na estação. Algo como aquilo não podia existir. Jamais. Era um pesadelo, só um pesadelo. Num pesadelo, aquilo poderia existir. Não de verdade. Nunca. Nunca. Aquela criatura, aquela serpente negra rajada de veios, aquela serpente cujos olhos vertiam sangue, aquela serpente não podia ser real. Algo como aquilo não podia existir segundo as regras do mundo.

Era grande demais.

Era assustadora demais.

Mas estava ali, bem à minha frente. Eu a via com meus próprios olhos, claramente como via a mim mesma. Ela não podia ser real, mas eu a via.

Nada daquilo fazia sentido.

Eu só tinha uma certeza.

Eu ia morrer ali.

LimiarWhere stories live. Discover now