Capítulo Único

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Submerso

Exaustos, meus olhos crispavam para se manterem abertos. O balançar do ônibus cansava a minha mente enquanto as letras alinhadas embaçavam. Eu precisava terminar aquela leitura, o artigo de museologia era indispensável para o projeto de conclusão de meu doutorado. Após dois anos lendo, relendo e reescrevendo a mesma tese, eu finalmente estava satisfeito com alguma coisa. Tipologia das obras de artes me levaria ao sucesso. Pelo menos, era isso que eu esperava.

Uma freada brusca faz com que a caderneta em meu colo escorregue até meus pés flexionados e com que eu amasse o maldito artigo. Raios! Levo as mãos ao meu rosto, coçando os orbes cansados. Encaro a paisagem através da janela ao meu lado, deparando-me com a praça de São Pedro. Definitivamente, eu estou no Vaticano.

Gigantesca e esplendida, a praça é o lugar mais lindo em que já estive. Pelo próprio vidro, eu consigo observar a riqueza em detalhes que há em cada pilar branco. Levanto-me do banco de veludo, recolho meus pertences e encaro a vista com um sorriso nos lábios. Aguardo as pessoas à minha frente saltarem do ônibus. Os intervalos entre elas parecem pequenos infinitos, mas mantenho a calma.

Grazie. — agradeço ao motorista no momento em que desço os degraus.

O entardecer domina os céus do Vaticano, trazendo um tom alaranjado a todos os monumentos ao meu redor. O que potencializa a elegância da praça. Finco os meus pés em frente ao obelisco grandioso, meus olhos o percorrem desde a base até o topo quase imperceptível pela altura. Acho impressionante tamanha delicadeza em cada obra, mesmo as mais comuns, tais como essas esculturas. Eu não tenho nem palavras para descrever o lugar em que estou.

Puxo o celular no bolso, apertando na tecla lateral e me deparo com o horário na tela, guardo novamente o aparelho e bufo. Com o tempo pequeno para aproveitar a cidade, os passeios turísticos começariam no dia seguinte. Porém, eu não poderia me deitar à noite sem conhecer a basílica de São Pedro. Ah, eu não me perdoaria por isso. Apertando o artigo entre os dedos, caminho em direção à igreja — se é que não seja desonra chamá-la assim.

Não sou religioso, nem se quiser me lembro a última vez em que debati com outros ateus sobre a Bíblia, todavia, a pequena possibilidade de me deparar com o papa faz com que as minhas pernas bambeiem. Suponho que essa terra me converta em questão de meses, levando em consideração que estou aqui há menos de uma hora e já me comovi com a presença papal.

Adentro a belíssima catedral, sem saber onde manter os olhos. O chão é impecavelmente lindo, bem como as paredes pintadas cuidadosamente e o teto que possui cada centímetro infinitamente mais bonito que toda a minha casa. Se a basílica me surpreendeu assim, eu preciso me preparar psicologicamente para a Capela Sistina. Devido aos meus pés cansados e a grande multidão dentro do ponto turístico, não tardo a me retirar. Eu preciso dormir. Sinto como se o meu cérebro gritasse por um descanso.

Balanço uma de minhas mãos, convocando o taxi. Sento-me no banco de couro cinza e, como de costume, abro meu artigo sobre museologia.

— O ar condicionado está numa temperatura boa? — rompendo o silêncio e, consequentemente, a minha concentração, o taxista indaga.

— Está ótimo. — corto o assunto, ansioso para terminar a leitura.

— O senhor tem uma pronúncia britânica. Também é europeu? — Ele insiste em puxar assunto.

— Na verdade, não. — dou-me por vencido e estendo a resposta. — Eu nasci na Arábia Saudita, mas me mudei para Escócia quando era pequeno e, por conta dos castelos e ruínas de lá, apaixonei-me pela história. Sou historiador.

Sommerso | Fanfic | Zayn MalikWhere stories live. Discover now