3 - O Dia da Mudança

26 3 2
                                    

    Dividir um colchão de solteiro é realmente ruim, principalmente se a pessoa com quem se está dividindo ronca e não para quieto a noite inteira. Se imagine dormindo ao lado de um João bobo com ansiedade, pois é, infelizmente o Ricardo conseguia ser pior.

    Eu acordei antes dele e fui verificar o meu celular, e a mesma coisa de sempre, pessoas em grupos falando sobre assuntos estranhos, então eu resolvi jogar algum joguinho até o Ricardo acordar. Não demorou muito até que isso acontecesse, dessa vez eu consegui acordar primeiro, o que geralmente quem fazia era ele, com exceção de quando eu ia dormir na casa dele.

     -Bom dia Luquinhas - Disse ele bocejando - Primeira vez que você acorda primeiro.

    -Pois é, na próxima vez que eu for dormir no mesmo quarto que você eu vou fazer questão ser o cara mais barulhento do mundo, pra você pagar por roncar.

    -Eu nem ronco.

    -Imagina Ricardo - Disse em tom irônico - Quem ronca sou eu.

     -Na próxima vez a gente dá uma de atividade paranormal e começa a gravar umas paranormalidades fechado? - Começamos a rir.

    Depois de um tempo fomos para a cozinha para tomar café, quando chegamos lá a minha mãe e o meu pai estavam conversando e rindo. Eles nunca foram do tipo sério, até por que os trabalhos acabavam afastando eles demais, então sempre que tinham oportunidade eles demonstravam o amor e o carinho que sentiam.

    -Bom dia casal - Disse Ricardo se sentando.

    -Bom dia garotos - Cumprimentou minha mãe.

    -Meninos - Meu pai interrompeu - Assim que vocês terminarem de comer vamos sair.

    -Fechado Sr. Lima.

**********

    Enfim chegamos na casa nova, ela ficava perto da zona leste de São Paulo, eu realmente gosto desse lugar, pois eu não consigo dormir no silêncio, prefiro o som da cidade.  A casa que estávamos morando agora era um pouco maior do que a antiga por ser sobrado, essa tinha três quartos, duas suítes, sala, cozinha, etc. Eu fiquei com o quarto que tinha vista para os fundos.

    Algumas quatro horas depois nós terminamos de organizar tudo e saímos para comer em algum restaurante, pois minha mãe não tinha como cozinhar ainda, então entramos em acordo de comer em algum lugar que servia comidas típicas do norte e nordeste.

    Chegando lá uma garçonete vestida de maria bonita nos atendeu e nos direcionou para uma mesa.

    -Palhaçada isso... - Disse um homem com sotaque nordestino na mesa ao lado - Só por que é nordestino esses "cabras" acham que nós somos todos cangaceiros.

    Logo uma garçonete que não estava a caráter com chapéu de lampião veio nos atender.

    -O que vão querer?

    -Acho que vamos querer arroz carreteiro né Fernanda? - A expressão da garçonete foi de espanto quando meu pai disse Fernanda.

    -Vocês são Fernanda e Diego Lima?- Aff... vai começar - Tipo... O diretor e a modelo?.

    Eu olhei para os meus pais com o canto dos olhos, eles já sabiam o que eu queria dizer, eu odeio quando eles são reconhecidos pois as pessoas acham que sabem todas as informações em revista de fofoca.

    -Bem, somos nós mesmos - Disse o meu pai sibilando um "relaxa" no ar.

    -Esses são seus filhos?

    -Não - Interrompeu a minha mãe - O mais alto é amigo do meu filho, que é o de cabelo preto e olho verde.

    -Ah, perdão - A garçonete voltou a verificar os pedidos - Arroz carreteiro para os quatro?... E pra beber?.

    -Dois sucos de acerola para nós... E vocês garotos?.

    -Suco de goiaba - Falou Ricardo após olhar a tabela de sucos.

    -Eu quero maracujá - Acho que não comentei que sou apaixonado por suco de maracujá, tipo, o melhor suco do mundo.

    -Moça por favor - Chamou meu pai - Seria melhor que ninguém soubesse que estamos aqui Ok? - A garçonete piscou um olho e saiu andando.

**********

    Meus pais precisavam ir comprar tinta pra pintar a casa e então deixaram eu e o Ricardo em uma sorveteria. Chegando lá nós nos sentamos ao lado de um tanque de carpas e o Ricardo começou a contar uma história da vida dele sobre como ele achava a sociedade e coisas do tipo.

    Alguns minutos depois chegaram um grupo de quatro adolescentes, duas garotas e dois garotos, algo me chamou atenção no jeito animado deles.

    A primeira garota estava usando uma camisa do Justin Bieber e o cabelo estava prendido em rabo de cavalo, a segunda tinha um visual meio hipster, e usava um colar com uma clave de sol, o garoto mais baixo estava com uma jaqueta simples e uma camiseta de um jogo de computador (que eu reconheci por jogar também), já o garoto mais alto estava com uma blusa xadrez e uma calça preta,  mas por estar de costas eu só vi cabelo curto enrolado e castanho.

    Quando eu me dei conta uma das garotas estava olhando para mim e rindo, provavelmente eu me passei alguns segundos olhando para eles, eu pude escutar o menor falando: "Aquele alí?" ele levou um tapa da mais baixinha e disse "Cuidado Kimberly", e eu ri um pouquinho.

    -Do que você está rindo? - Perguntou Ricardo estalando os dedos como um hipnotizador tirando do transe.

    -Ah, nada não - Disse me concentrando novamente - Onde você parou mesmo?.

    Ele retomou o assunto e dessa vez ficamos mais entretidos.

**********

    Enfim chegou a hora de eu me despedir do meu melhor amigo, eu sei que nós podemos nos ver, mas não diariamente, não irei mais conviver com ele na escola, não vou ter como me abrir com ele como sempre fui acostumado a fazer. Nos despedimos com um forte abraço de irmãos, eu realmente ia sentir falta dele, mas quem sabe a vida não possa mudar o meu destino?.

Folhas do OutonoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant