Capítulo 7

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Aquele aniversário já estava sendo de longe o pior de todos. Veja bem, meus aniversários nunca foram grande coisa. Desde que me entendo por gente eu ja não tenho pai, e minha mãe nunca teve condições de fazer uma grande festa, talvez eu tenha tido uma festa de um ano, mas desconfio disso, pois não há fotos, minha mãe nunca comenta sobre, e eu também sempre tive muita vergonha de perguntar, com medo de à constrangi. Deste modo meus aniversários sempre foram a mesma coisa : um bolinho bem pequeno, daqueles que vendem na padaria, uma garrafa do refrigerante mais barato e só, mas não pense que eu odiava minha vida por isso, pelo contrário, sempre admirei demais minha mãe, pelo fato de ela sempre se esforçar para eu ter um bolinho de aniversário e no fim a gente sempre terminava no sofá, assistindo um filme junto.

O décimo oitavo aniversário, era o mais importante na vida de uma pessoa, talvez seja tão importante quanto o primeiro ano de vida. Eu esperava que esta data importante fosse feliz, fosse um dia tranquilo e normal. Como eu me decepcionei ... já tinha acordado com Mayara morta, depois, pra completar eu descubro que ela morreu simplesmente por proferir aquelas palavras denominada profecia e que elas aparentemente eram reais. Eu ainda não tinha tido tempo para ler linha por linha e pensar naquela profecia escrita no pedaço de folha, guardado bem no meu bolso. Ainda por cima eu tinha quase certeza que Tupã ficaria perguntando a vida toda pela tal profecia, porém eu não entendia porquê era tão importante para ele saber o que ela havia falado. Eu lembrava vagamente o que Mayara tinha falado, e dentre as coisas que eu lembrava, estava "não conte a profecia a qualquer um, só a quem você realmente confia". Tupã era o chefe da tribo e tudo o mais, mas eu não confiava nele como um amigo, como alguém que eu poderia contar o que quisesse, afinal, era mais fácil eu contar para os gêmeos, do que para ele. Ele era uma das últimas pessoas que eu pensaria em contar, aliás.

Depois de eu tanto me fazer de bobo, Tupã desistiu de tentar arrancar as respostas de mim, dispensou eu e minha mãe, mandou nós dois irmos para casa descansar e avisar a nossos familiares e a quem pudéssemos que haveria uma reunião de última hora, mas precisamente, ás vinte horas, haveria o velório de Mayara, velaríamos seu corpo e Tupã provavelmente falaria algumas coisas. Eu ainda tinha dúvidas que conseguiria assistir aquele velório imparcialmente, se conseguiria ser neutro, afinal, ela tinha salvado minha vida, eu devia tudo a ela. Não sabia se a morte dela tinha ocorrido por minha causa, mas mesmo assim me sentia culpado por tudo que tinha acontecido, afinal se eu não tivesse tido a idéia maluca de seguir aquelas borboletas, nada disso teria acontecido, Mayara estaria viva, eu não estaria com uma porção de palavras sem sentido na cabeça, e Tupã não estaria no meu pé.

Quando saímos da casa de Mayara, como de praxe, parecia que todos os vizinhos sabiam do ocorrido, estavam todos para fora de suas casas, com olhares atentos, espiando-nos a espera de uma palavra, uma informação, qualquer coisa que fosse que tirasse suas dúvidas, que dissesse à eles o que estava acontecendo dentro da casa. Veja bem, sempre que Tupã era chamado, era sinal de algo grave e importante, por isso todos já deviam saber que algo tinha acontecido.
Minha mãe fez como Tupã mandou e foi avisando a todos da reunião/velório que haveria a noite. Percebi algo estranho e incomum, conforme minha mãe os avisava, as pessoas fechavam a cara, como se estivessem com raiva e fechavam a porta. Minha mãe levou varias batidas de portas na cara, entendo que talvez estivessem tristes pelo ocorrido, mas os fins não justificavam os meios. Eu fui seguindo direto para a casa, não queria falar com ninguém. porém, logo a frente vi que seria impossível evitar Lucas. A casa dele era bem ao lado da minha, e ele estava na porta, como todos os outros que minha mãe ainda não havia falado, esperando por informações.
Quando fui me aproximando ele se levantou, ja fui preparando para falar que não queria conversar e falar o que tinha ocorrido, quando ele me surpreendeu.

- Feliz aniversário ! - Me abraçou. Como assim ? como ele sabia que era meu aniversário ? Será que minha mãe tinha contado ?

- Ah ! obrigado lucas. - respondi timidamente.

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