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Dois dias depois Caleb me mandou um e-mail me informando do que eu já sabia. Não fiquei surpresa, taquei o notebook na janela Harry acabou cortando o pé por causa disso. Me senti uma pessoa horrível mas mesmo assim também senti um alívio interior que precisava. Não entendi o porquê dele ter me mandado aquilo, me parece que essa família é totalmente louca. Eles amam dinheiro mais do que a si mesmos mas para falar a verdade não me surpreendo.

"Amor para de pensar nisso por um minuto e volta pra cama." Harry resmunga ainda de olhos fechados. São quase duas da manhã e não consegui dormir direito. Seco as lágrimas que teimavam escorrer pelo meu rosto e me aconchego do seu lado. É horrível se sentir apunhalada pelas pessoas que na verdade deveriam estar ali para te ajudar e apoiar, dá broncas e te reerguer. Para isso que a família serve certo? A minha não, a minha família é o meu problema.

"Dorme, amanhã temos um longo dia." Harry diz baixinho e um tanto autoritário, sei que ele está nervoso comigo. Ele me conhece, por fora ainda estou com aquela máscara que diz que estou bem e intacta com todo esse problema mas na verdade por dentro, estou destruída, quando estou sozinha choro e ando mal humorada por todo o canto - Estou com o período pega leve amor - Digo sempre que me repreende o fica de cara feia por causa das minhas atitudes, ele revira os olhos e respira fundo antes de me dar um sermão. Uma senhora no restaurante que almoçamos hoje por causa da correria e falta de tempo de pararmos em casa e cozinharmos nós mesmos nos disse que éramos um casal muito fofo, que fazíamos ela lembrar de quando era jovem e se casou, seus olhos lacrimejaram e nos contou que o motivo de estar separada de seu marido foi a morte dele a uns anos atrás mas que enquanto ela estivesse viva a chama de seu amor jamais acabaria. Achei tão lindo, horas depois chorei, lembrei de meus pais, do amor deles. Harry naquele momento me entendeu enquanto estava abraçada aos meus joelhos no final das escadas no terraço, garoando ele me abraçou e ficou em silêncio deixando que aquela dor dissipasse do meu coração porém eu já aprendi viver com ela. Dói, não tanto como antes, agora aprendi a lembrar das coisas boas, das lembranças e de quem eles são. Não posso me dar ao luxo, nem sei se posso chamar disso, de não ter sentimentos e não sentir a falta de ninguém.

"Quando morar comigo irei te levar café na cama sempre que estiver de chico." Dou risada. Ele segura a bandeja enquanto me sento e ajeito meu pijama.

"Sério? Vou exigir, imagina que máximo receber café na cama por quase uma semana no mês!" Exclamo, mordo minha torrada barrada de geleia e o encaro. "Posso saber o porquê?"

"Assim quando ficar chata durante o dia não desconta em mim porque eu super prestativo!"

"Pessoas prestativas tendem a sempre querer algo em troca." Ele franze o cenho e nega. Murmurando algo e olhando para televisão.

"Podíamos ir a Nova Iorque, tenho assuntos a resolver e você tem que parar de pensar tanto." Ele diz do nada e penso.

Será que estou me tornando uma irresponsável em relação à empresa? Quer dizer estou a deixando sempre sozinha ou nas mãos dos meus competentes amigos.

"São apenas dois dias." Parece que ele lê meus pensamentos.

"Ah Harry." Minha voz sai tão arrastada que parece que estou exausta. Respiro fundo e sorrio para ele. "Tudo bem." Ele deixa um beijo na minha testa e se vira indo para o banheiro tomar seu banho. Continuo sentada na cama olhando pro nada.

Sabes quando se sente estranha mas aparentemente não tem motivo para isso? Então, me sinto assim. Não estou confortável como imaginei que estaria quando voltasse com Harry. Me parece que tudo está sendo meio que planejado como se nosso amor estivesse sendo moldado.

Meus problemas estão me atingindo profundamente. Mordo meu dedo, me embolo nas cobertas e volto a dormir. Meus pensamentos estão muito intensos, prefiro me perder nos meus sonhos. E assim o faço durmo por mais algumas horas e quando me levanto vou para empresa.

Essa rotina está ficando chata e acabando com o pouco de alegria que tenho. Almoço com os meus amigos e lhes conto o que se passa. Preciso urgentemente de ajuda.

"Você deve ir para Nova Iorque e aproveitar com seu namorado." Max diz pensativo faz uma careta e da de ombros.

"Acho que você deve mandar um lindo e belo foda-se para sua avó," Sierra encara todos e prossegue sua fala. "Sei lá, ela está velha e que atenção mais cedo ou mais tarde ela irá morrer."

Suas palavras me chocam mais do que deveria. Mary morta? Isso não é bom não é mesmo? Ela é a única parente com quem ainda mantenho algum contato seja ruim ou bom. Não sei como irei lidar com isso se algum dia acontecer. Me parece solitário demais até para mim. Já perdi vovô, não quero perder mais ninguém. Suspiro e tomo um gole do meu chá. Isso é assustador.

"Desculpa, não deveria ter falado assim." Abaixo meus olhos e sorrio.

"Tudo bem."

April me liga duas vezes depois que voltamos, essa pessoa deve ter alguma demência. Ela me manda cinco mensagens uma seguida de outra me ameaçando. Ela está do outro lado do oceano dizendo que vai me matar. É louca!

Quando vou ao mercado me esbarro com Sophia - sim ela ainda existe - me cumprimenta com um sorriso forçado e passo direto. Ainda não esqueci o que ela fez nos tempos de escola. Cadela!

Sinto uma cólica muito forte enquanto estou no caixa pagando pela mercadoria que comprei. Levo um susto quando o toque estridente do meu celular toca. É Polly, está ofegante enquanto chora.

"Alicia!" Sussurra do outro lado da linha. "A Mary, ela, ela..." Ela não termina a frase e sinto meu coração se apertar. Não não não não não, por favor.

"Polly... Por favor..." O que Sierra disse, as brigas, as nossas discussões, ela não vai mais tentar tirar a empresa de mim, ela não vai mais tantas me influenciar a fazer algo. Ela não vai mais ir comigo visitar vovô no cemitério. Ela não vai mais contar histórias da minha mamãe quando eu estiver mal.

Tudo parece muito rápido. E planejado.

"Foi um acidente, ela não estava prestando atenção na rua." Ela chora e saio correndo.

"Aonde? Onde você está?" Imploro.

"Alicia não adianta mais. Ela está morta!" Sua voz está rouca pelo choro. Quando entro no meu carro faço o mesmo. Desligo meu telefone e choro, choro por tudo, choro porque ela se foi e hoje o meu dia só está se tornando pior.

Saio com o carro em uma velocidade absurda quase causando outro acidente e mais algumas mortes mas agora não estou pensando. Não quero saber de nada, agora a minha parte racional sumiu. Quando chego na minha antiga casa tudo está no lugar. Tudo como sempre foi. Vou ao seu quarto. A cama está impecável suas roupas bem organizadas e há fotos de todos da família; inclusive minha. Há uma foto de nós duas no natal de dez anos atrás. Pego-a e me deito em sua cama. Choro mais. Isso não podia estar acontecendo.

"Os médicos disseram que não ouve tempo para tentar salvá-la, quando a ambulância chegou ela já estava morta." Adele diz chorando. Harry aperta a minha mão com força. "Ela não sentiu dor!" Sussurra. Meus olhos se arregalam e o abraço. Eu não aguento mais isso.

"Isso foi culpa sua!" Carol grita vindo em minha direção. "Você é a causa de toda essa desgraça. Era com você que ela estava chateada, ela só podia estar pensando em uma coisa para estar distraída. Você é uma maldição!" Harry me aperta em seus braços enquanto os pais de Carol tentam acalma-lá.

"Você sabe que isso não é verdade!" Minha tia avó diz passando as mãos no meu cabelo. "Ela também te amava..."

Why Alicia? | H.S.Where stories live. Discover now