[ Único ]

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Taehyung se sentia um cretino, jogado no chão frio de sua mísera cela, observando a noite fria pela janela.

Olhar para além da janela era o passatempo preferido do garoto e, por mais que conseguisse ver vários e vários prédios no horizonte, nunca conseguia enxergar o céu. Não importasse em que posição se encontrava, aquela maldita janela não parecia querer que o desejo de Taehyung se tornasse realidade.

Pensou que, ao matar seu pai abusivo, conseguiria sua liberdade de volta. Por um lado, ele conseguiu e se sentia ótimo com isso. Só que o que ainda restava de sua consciência não aceitava o que ele tinha feito.

Como alguém consegue matar seu pai, deixar si próprio e a irmã mais velha órfãos, não contar nem para os amigos mais íntimos e ainda se sentir bem com isso? Pois é, Taehyung conseguia.

Taehyung enlouqueceu de vez uma semana depois do assassinato. Depois de ter conversado sobre coisas aleatórias com Namjoon, foi pixar as ruas sem seu hyung. Geralmente eles faziam juntos, mas Taehyung estava fora de si ao ponto de ir sozinho. E, quando o policial o achou, nem tentou fugir ou lutar, como fazia com Namjoon. Só deixou o policial o levar para a delegacia, pensando que pixar era seu único crime.

Não passaria em branco, claro. A polícia procurava o culpado pelo assassinato do Sr. Kim e do nada o filho suspeito aparece com o crime de pixação.

Taehyung se recusou a falar qualquer coisa. No momento, só pensava em como nunca pode ter uma infância como as outras crianças e como sua inocência foi roubada quando garotinho, sendo obrigado a ver o pai estrupar e bater na irmã mais velha sem saber o que significava.

"Por favor, me dê um telefonema.", a voz de Taehyung saiu fraca e sua respiração estava pesada.

Tentou uma vez. Ele não atendeu. Tentou outra. Somente o "bipe" podia ser ouvido. Tentou uma última vez e, para variar, nada. O policial arrancou o telefone de sua mão informando que não poderia mais ligar para ninguém e que teria que aguardar o julgamento.

"Não faça isso" choramingou o moreno, se desesperando. "Por favor, perdoe meu crime."

"Acho que não possa fazer isso, garoto." proferiu o policial. "Não é a primeira vez que faz isso, segundo os registros."

Taehyung estava cego. Cego pelas lágrimas e mentiras que cercavam sua vida. Naquele momento de fraqueza, seu hyung havia ignorado três ligações suas sendo que era o único que poderia salva-lo.

Então por que não desistir de tudo? Por que não se entregar ao policial e admitir todos seus crimes? Taehyung já não tinha nada mesmo. Todos a sua volta haviam mentido para ele, sua vida era uma mentira cheia de pichações e problemas. Seus amigos não estavam em condições de ajuda-lo, tirando Namjoon. Mas este ignorou Taehyung quando ele mais precisou.

Park Jimin estava em um purgatório e Jung Hoseok morto, consumido pela depressão. Jeon Jeongguk em coma, Min Yoongi recebendo tratamento psicológico. Kim Seokjin sempre esteve do lado de Taehyung e dos amigos, mas não de um modo ativo. Ele só observava e gravava tudo, tomava conta e ajudava quando os garotos precisavam, só para sumir por meses e voltar como se fosse tudo normal. E Kim Namjoon? Kim Namjoon havia mentido para Taehyung quando disse que sempre estaria ao seu lado.

Então o garoto contou tudo ao policial. Contou como foi sua infância sem sua mãe e como foi conviver com um pai abusivo. Falou no dia em que conheceu Namjoon e este o apresentou para os outros quatro garotos e como estes haviam se tornado sua única família além da irmã que não podia o ajudar em seu estado. Falou como suas aventuras com seus novos amigos começaram, contou da viajem mais recente deles à uma praia da Coréia, falou em como se sentia bem quando juntos aos amigos e como não se lembrava de nada depois de beberem e vagarem nas ruas de Seul. Também relatou a primeira vez que convidou Namjoon a pixar e como esse se tornara um hábito para os dois. Deixou de fora o que acontecera com os outros amigos e o porquê, claro. Falou também de como sempre fugia da polícia depois do crime e como se sentia realizado fazendo isso, mas, ao chegar em casa, todos os sentimentos bons voltavam a desaparecer e Taehyung voltava a ficar sufocado em sua casa.

Contou ao policial, que ouvia tudo com atenção, sobre sua briga com Namjoon, motivo pela qual o garoto saiu para pixar sozinho e nem tentou lutar quando foi pego.

Confessou que uma semana atrás havia matado o pai enquanto tentava ter sua liberdade e inocência de volta.

Seus olhos a muito já estavam molhados pelas lágrimas, seu corpo tremia e ele não conseguia pensar em nada mais além de como havia sido estúpido. Quando terminou a história de como havia chegado ali, só conseguia sussurrar "Me desculpa, irmã" enquanto o policial olhava para ele com uma expressão que o garoto não conseguia entender.

Taehyung havia pego cinco anos de pena. Teve vezes que Namjoon fora o visitar, é verdade, mas Taehyung recusara todas. A única pessoa que o garoto aceitou as visitas fora sua irmã mais velha, que brigou com ele na primeira vez mas, nas seguintes, chorava com o irmão mais novo e murmurava que entendia seus motivos e que sentia muito também.

Faltavam dois dias para Taehyung ser liberado. Vivera a vida toda preso de alguma forma e, daqui a quarenta e oito horas, finalmente poderia se libertar.

Pode parecer estranho, mas o maior desejo de Taehyung era ver as estrelas no céu noturno, de preferência com seus amigos.

O problema é que, quando Taehyung finalmente fora liberado às exatas 9 horas daquela manhã fria, ele não sabia nada sobre o mundo além da sua sela.

Chegou em sua casa e, depois de vários abraços e tapas da irmã mais velha, perguntou por seus amigos.

Foi a pior coisa que ele poderia ter perguntado.

Hesitando demais para o gosto de Taehyung, sua irmã contou como o pior pesadelo do moreno se tornara realidade.

Jimin enlouquecera de vez e acabara cometendo suicídio ao se afogar na banheira de seu banheiro. Jeon não conseguiu aguentar e, depois do longo coma de dois anos, finalmente fora libertado da Terra e enviado aos céus. Yoongi se jogara na frente de um carro e seu corpo magro e fraco não conseguiu aguentar o impacto, o matando. Segundo a irmã de Taehyung, Namjoon tentou continuar vivendo normalmente, mas após todos os esforços se rendeu à tentação de desistir de tudo quando se auto-enforcou.

"E SeokJin hyung?" Taehyung estava sem forças e voltara a chorar, nem o garoto sabia de onde conseguira força e voz para perguntar.

"Quem?" Sua irmã o olhou como se fosse maluco.

"Meu hyung, noona! Nós éramos sete!"

"Não, Taehyung. Vocês sempre foram seis."

Naquela noite, o moreno se matou. Quando a irmã já tinha ido dormir, Taehyung pegou uma faca da cozinha e enfiou bem no coração. Apesar dos esforços dos médicos, Taehyung acabou morrendo.

Mesmo antes de sua morte Taehyung se perguntava se SeokJin realmente existira. Ele sabia que o hyung nunca se juntava nas aventuras dos outros seis e às vezes desaparecia por meses, mas nunca pensou que ele podia ser somente fruto da imaginação de seis garotos problemáticos.

E foi assim que, sem conseguir ver as estrelas, Taehyung finalmente se libertou e, pela primeira vez na vida, pode se sentir livre, mesmo que seja na vida pós-morte.

{}{}{}

1300 palavras :')

Eu mostrei a história para minha melhor amiga antes de postar e ela chorou. Estou feita, posso morrer em paz HAHDUAHSUQS

E acho que vcs perceberam que se baseou em Wings/HYYH, né? Ssksk bem, não é minha teoria, só uma história baseada!

Espero que tenham gostado (e chorado pq sou do mal) ❤️

Beijinhos maridas szsz

Stars | kim taehyung [oneshot]Where stories live. Discover now