16 - Pressão

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"Me diga onde foi parar o nosso tempo

E se ele foi bem gasto"


Havia começado o segundo semestre e em breve eu começaria a ficar atolada em trabalhos da escola e da Academia. Mas por ora estava mais tranquilo. Eu estava até tendo tempo para cumprir uma das minhas promessas de ir ao cinema com o Oliver – sem o conhecimento do meu pai, claro. Ele não precisava saber desse tempo livre.

Mas a verdade era que eu também andava muito preocupada com o Renato e os outros guardiões desaparecidos. Já faziam quase seis meses desde que o primeiro guardião havia sumido. Quem poderia saber o que estava acontecendo com eles? Se ainda estivessem vivos, claro. E agora havia tantas chances de saber onde o Hector os estava mantendo.

E as perspectivas não eram nada boas. Isso porque tudo indicava que os guardiões estavam na sede dos sombrios. O lar e centro de atividades e treinamento dos sombrios. Enfim, o lugar mais infestado de sombrios por metro quadrado da América Latina. Talvez só tivesse uma concentração maior em uma das sedes deles na Europa.

Eu nem queria imaginar se havia um jeito de invadir um lugar desses. Isso era loucura demais até para mim. Era suicídio... E, convenhamos, eu sou muito nova para morrer – eu nem mesmo tive a chance de me formar depois de tanto sacrifício ou de entrar na minha calça, ou mesmo de ter um namorado de verdade.

E, falando em namorado – não que ele seja meu namorado de qualquer forma –, o Rafael não dava notícias há uma semana. Desde o meu interrogatório na viagem ao Rio de Janeiro. Talvez ele tivesse se irritado de verdade com a minha insistência em falar sobre o passado.

Mas qual é? Eu acho que merecia algumas respostas! Eu nem mesmo sabia como ele acabou virando um sombrio, por fim das contas. Não é uma coisa que se vê todo dia, sabe. E esse lance de que ele pertenceu à Linhagem Original? Isso era surreal demais. Quer saber? Eu precisava dessas respostas. E ia consegui-las de um jeito ou de outro.

Fiquei uma hora na biblioteca pesquisando uma armadilha mágica eficaz o bastante para um sombrio como o Rafael. Eu sei que disse que não tinha medo dele, mas eu tinha total noção de que ele era o conselheiro do Hector e um sombrio poderoso. Não era qualquer armadilha que seria capaz de detê-lo. Finalmente, encontrei uma armadilha do século XV que parecia muito eficiente.

Mas a pior parte seria executá-la, principalmente, porque eu estava desenhando o símbolo necessário no teto do meu quarto com tinta guache – afinal, era eu que teria de limpar mais tarde – e não era exatamente a coisa mais fácil do mundo. Pintei o símbolo para o ritual de convocação perto da porta. Ativei a armadilha do teto – o que não era absolutamente fácil já que era um feitiço de mais de seiscentos anos, em grego. Em seguida, fiz o ritual de convocação.

Para minha surpresa, percebi que apesar de absolutamente decidida, eu estava nervosa com o que pretendia fazer. Minhas mãos suavam. Desta vez, eu acertei ao esperá-lo aparecer pela janela. Quando terminei de ler e levantei os olhos, ele já estava lá, lindo, encostado no batente da minha janela, displicentemente. Ele estava usando uma camisa xadrez e o jeans surrado.

— Sabe, Graham Bell ficaria extremamente decepcionado se soubesse o descaso que a senhorita faz de sua incrível invenção.

— E você sabe disso porque possivelmente o conheceu pessoalmente, certo?

Ele não gostava mesmo de ser convocado, mas dessa vez ele não parecia tão irritado – de repente já estava ficando acostumado. Ele entrou no meu quarto sem hesitação, sem desconfiar de nada – confesso que me senti até um pouco culpada, meio desleal.

Além das SombrasWhere stories live. Discover now