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Fui a sua casa no Natal
Uma vez.
Seu pai não estava lá
Você me contou que nunca esteve.
Sentamos no sofá, cantamos velhas canções
Você segurou minha mão, as borboletas estavam lá.
Não parecia que estivesse em seus planos afoga-las algum dia.
Confesso que, pela primeira vez, nos meus também não.

Sua mãe me mostrou suas fotografias da infância.
Suéter vermelho e risadas fáceis
Calda de chocolate e chuva no parque
Lama, corridas, uma velha bicicleta.
Um garoto que não existia mais em você.

Subimos as escadas, até seu quarto
Degrau por degrau, sem pressa.
Paredes azuis como seus olhos
Cobertas com pôsteres do Bob Dylan e do Kurt Cobain.
Apaixonados e rebeldes
Éramos os novos discípulos do James Dean.

Cigarros e pequenas garrafas de bebida alcoólica.
Sussurros e suspiro
Toques urgentes e promessas falsas.
As borboletas estavam ainda mais agitadas
Os fogos ardentes explodiam como no quatro de julho.
Estávamos queimando
Estávamos brilhando
Uma mistura de azul e cinza, do jeito certo.

Sabíamos muito bem quem éramos
Chapados em maconha legalizada
Estávamos no mesmo time e a cidade era nossa até o fim do inverno.
Ouvíamos Biggie e Nirvana
Íamos ao Café e você segurava minha mão, de um jeito que eles nunca fizeram.

Eu sentia que podia flutuar se suas mãos se mantivessem em mim.
Você me fazia sorrir
Dizia gostar da minha risada.
Alimentava mais as borboletas tolas que insistiam em se agitar
A cada toque, a cada olhar.
A cada vez que você, mesmo ausente, ainda estava lá. Aqui. Em mim.

RECOMEÇO Where stories live. Discover now