CAPÍTULO DOIS: BRADLEY McDOUGALL

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Passar as mãos pelos seus cabelos longos era uma das únicas coisas que realmente me acalmava.

- O que você acha de me levar no show do Death Cab? Uma quinta-feira com uma das minhas bandas preferidas e um namorado que nem você... Não sei o que poderia ser melhor, Brad!

- E o que seria um "namorado que nem você"? – perguntei, fazendo aspas com as mãos e depois puxando-a para perto de mim. Amelia me encarou por alguns instantes com seus grandes olhos verdes e sorriu.

- Bem, você sabe. Que faz um carinho maravilhoso em meu cabelo e que dá um abraço tão bom que eu provavelmente poderia prolongar para o resto da minha vida.

- Você esqueceu a parte do lindo, não é? – exclamei em forma de pergunta e ouvi o som de sua risada preencher o meu redor. Beijei o topo de sua cabeça, sentindo o cheiro do seu shampoo invadir meu nariz.

- Claro, como posso ter esquecido? – ela riu mais uma vez e eu não pude deixar de sorrir – E aí, topa ir ao show comigo? Eu já tenho os ingressos... – Amelia disse e seus olhos brilharam, o que tornou a minha fala seguinte um pouco mais difícil.

- Meu amor, me desculpa, mas hoje terá um amistoso contra um colégio em uma cidade a alguns quilômetros. E você sabe como eu adoro as bandas que você curte – tentei quebrar o gelo ironizando e tive sucesso, pois Amelia revirou os olhos, divertindo-se.

- Tudo bem, Brad. Mas tem que prometer que vai ao menos ganhar esse jogo por mim – ela disse e ficou nas pontas dos pés, depositando um rápido beijo em meus lábios – Tenho que ir para aula. Até mais.

Como de costume a observei se afastando de mim, pedindo a algo ou alguém, quem quer que fosse, que ela voltasse sã e salva para mim no final do dia. Vê-la se afastar era mais uma incerteza, mais uma espera para tê-la de volta. Ultimamente, ela sempre voltava, mas com Amelia era difícil saber. Sua inconstância era a única coisa que me incomodava. Era a única coisa que, se eu pudesse, eu mudaria nela. Dei as costas e segui em direção ao meu armário.

Passei por onde Luke conversava animadamente com seus amigos e respirei fundo para não fazer nada quando nossos olhares se cruzaram. Mesmo estando com Amelia, eu sabia o quanto era difícil para ela ter que o ver todos os dias. Só não posso dizer que é mais difícil do que ver a garota que você sempre quis com outro. E, sendo um pouco egoísta, eu não teria Amelia agora se Luke não tivesse feito o que fez.

A imagem do seu rosto inchado de tanto chorar e de seus olhos vermelhos não sairia da minha cabeça tão cedo. Encontrá-la naquele estado e não ter palavras que pudessem confortá-la... Acho que esse foi o pior momento da minha vida: não poder fazer nada enquanto ela estava de coração quebrado bem na minha frente. Escutei um monte de James e de Lydia naquele dia. Principalmente coisas como "você não pode trazê-la de volta para sua vida, você sabe que ela te magoará como sempre faz" ou algo do tipo "você é idiota por tentar juntar os pedaços de Luke". No momento, eu era o idiota mais feliz, então.

- Oi, Brad – Lydia se aproximou com toda sua pompa e eu nem havia percebido. Abracei-a a rapidamente e abri meu armário, pegando com pressa o material necessário – Maeve não parou de falar durante o caminho inteiro até aqui e a única coisa que consegui absorver foi que hoje faz um mês que Luke largou Amelia. Então, é melhor cuidar bem do seu furacão particular.

- Uau, obrigada pelas doces palavras, Lydia – ironizei e minha amiga revirou os olhos, voltando a mexer em seu celular, arrumando o seu cabelo para uma rápida foto com uma careta – Mas eu confio nela. E antes de tudo, confio em mim – ri e Lydia revirou os olhos ao ver que eu prestava atenção nela.

- Uau digo eu. Cuidado para toda essa confiança não quebrar sua cara – ela falou, estalando os dedos bem em frente aos meus olhos – Como melhor amiga, só estou alertando, porque quando Amelia fizer você de trouxa outra vez, eu e James que iremos juntar seus pedacinhos.

- Eu agradeceria se você parasse de ver o lado negativo. Eu amo Amelia. E eu sei que ela me ama também.

- Ok, desculpe. Mas eu só não quero ver você mal por causa de alguém como ela, Bradley – Lydia disse com um tom mais ameno e eu sorri, mesmo ela falando de Amelia como se ela fosse um tipo de megera que sentia prazer em brincar comigo. Amelia era a garota que menos se encaixava nessa definição.

- Não se preocupe, docinho. Eu sei que você só quer o meu bem. Mas acho que já sou grandinho demais e eu sei muito bem das consequências. Muito bem.

- Só vê se não vai arranjar briga com o Luke. Querendo ou não, o casalzinho ainda é muito idolatrado pelos corredores desse lugar. Até depois! – Lydia saiu andando rapidamente, enquanto escrevia sem parar em seu celular, provavelmente conversando com seu inseparável namorado.

Fechei meu armário e alguém me empurrou com força, bagunçando meu cabelo logo depois.

- Preparado para o jogo dessa noite, McDougall? Eu espero que esteja. Vamos acabar com aqueles caras.

- Ei, James. Você ainda duvida? – falei meio sem convicção e James olhou para mim, com um olhar não muito convencido.

- Não me diz que está tendo problemas com Amelia de novo? Você acredita que teve uma garotinha que veio me perguntar se eu sabia se vocês já tinham terminado? Só tem gente doida aqui!

- Olha, James, nem me fala. Primeira coisa que escutei da Lydia depois do "oi" foi a sua tradicional reclamação diária sobre minha namorada – bufei. James passou o braço por sobre meu ombro e bateu em meu peito.

- Cara, aprende comigo: não dá atenção de mais para essas garotas, porque a única coisa que elas fazem é te arrastar para a loucura – James riu e fez um high-five com alguns caras que passaram no corredor, sempre sorrindo, com o seu sorriso em conjunto com os olhos claros que sempre encantavam quem quer que fosse.

- Por essas e outras que você perdeu Joanne – acabei pisando na sua ferida sem querer, pois, as fortes palavras de Lydia acabaram me deixando um pouco desconcertado.

- Bradley, pare de pensar em como seria se você fosse ao show com sua namorada e se concentra no jogo, cara.

- Como você sabe sobre o show? – falei, incrédulo.

- Joanne, Bradley. Você realmente acha que eu a perdi? – ele riu e eu tentei forçar uma risada também, enquanto caminhávamos em direção à nossa primeira aula e James tagarelava as técnicas novas que ele aprendera para melhorar o rendimento da equipe. Porém, era Amelia que tinha 100% de mim no momento. Amelia e toda sua inconstância.

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