Capítulo 1

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— Eu juro que se ouvisse mais uma pergunta sobre nossa vida, acho que simplesmente derrubaria minha cerveja na cabeça do espertinho que resolvesse abrir a boca! — diz Lola enquanto saímos do táxi e caminhamos em direção ao nosso prédio.

Por não termos carro, pois mamãe e papai nos forçaram a escolher morar sozinha ou um, provavelmente esperando que cogitássemos trocar um pelo outro.
Não foi uma escolha difícil, apesar de Lola jurar que está economizando para comprar um carro usado o mais rápido possível, o que acho meio difícil, já que ela é consumista demais para conseguir economizar tanto assim. Por outro lado, eu prefiro andar à pé ou de bicicleta, além de preferir gastar o dinheiro da gasolina em livros.

— Pelo menos todas as perguntas sobre namorados e afins foram deixadas de lado hoje. - me apoio na escada do prédio para tirar a sandália de salto e me preparar para subir cinco andares. — Às vezes me pergunto se tia Judite pensa que vamos ficar solteiras a vida inteira.

Lola dá uma de suas gargalhadas espalhafatosas, daquelas que fazem as pessoas virarem a cabeça para ver de onde o som vem e eu percebo que ela provavelmente está um pouco bêbada dos copos de cerveja que virou para aguentar as milhares de perguntas e julgamentos de nossos parentes.

Nosso apartamento fica no quinto andar. Parece pouco, mas subir essas escadas todos os dias, passando bem ou mal, acredite, parece que fica no décimo andar ou algo do tipo. Mas por outro lado, sempre que subo as "escadas do mal", fico olhando ao redor meio abobalhada e lembrando que estou a caminho da minha casa e mesmo que isso não acalme meu espírito completamente, me dá um pouco de paz.

A porta dos apartamentos do prédio são todas de vidro fosco e metal, de forma que ninguém consiga enxergar o interior. Mesmo do lado de dentro só conseguimos enxergar sombras passando, caso um vizinho caminhe pelo corredor, o que me deixa bem incomodada à noite, pois sempre imagino um assassino ali com uma serra-elétrica na mão.

Minha imaginação pode ser bem fértil e acabou deixando Lola um tanto tensa com a porta também. Por isso, nós instalamos uma pequena cortina ali tentando resolver o problema.

— Precisamos arrumar logo essa cortina. — digo assim que entramos enquanto olho para a porta. A minha cortina salvadora caiu há alguns dias e ainda não conseguimos consertar.

— Você deveria ter pedido para o pai hoje. Sabe que ele vai demorar anos para vir...— nós tentamos arrumar por nossa conta, mas infelizmente foi impossível.
Lola tira os sapatos, nossa pequena regra da casa, já que a única entrada do apartamento dá para a nossa sala de jantar barra sala de tv barra sala de visitas e nós ocupamos todo o chão com um tapete branco e felpudo, que suja muito fácil. Então, sem sapatos no nosso pequeno canto.

— Eu esqueci. Você também podia ter pedido. A casa não é só minha. — respondo e Lola revira os olhos me ignorando completamente e entra no quarto dela.
Eu faço a mesma coisa e troco rapidamente meu vestido pelo meu pijama favorito: uma camisa velha do meu pai e shorts.

Domingo é o dia em que Lola e eu ficamos juntas à toa. Geralmente vamos ao cinema ou ficamos em casa de bobeira assistindo Netflix e comendo pipoca e besteiras. Ou pelo menos era assim quando nos mudamos. Atualmente as coisas estão um pouco diferentes, é um milagre ela não ter descoberto uma festa e me trocado sem nem piscar duas vezes.

Estamos as duas de pijamas com um pote de pipoca entre nós e assistindo a uma comédia romântica que envolve o Chris Evans na Netflix quando o celular de Lola toca, me sobressaltando.

— É o Marcelo. — ela diz, olhando para a tela.

— Você não vai atender, vai? — pergunto incapaz de conter a impaciência na minha voz.

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