Capítulo 1 ÍCARO

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CAPÍTULO 1

ÍCARO

Tinha um encantamento por elas, estudá-las, apreciá-las, admirá-las...

NA VARANDA

Sentado na varanda de seu apartamento, na verdade de sua mãe, emprestado por tempo indeterminado, ou pelo tempo que ela vivesse na Europa. Ícaro saboreava um bom conhaque e degustava um puro habano. Foram semanas de negociações exaustivas, mas de sucesso. Abriu mão de continuar na comemoração com todos da agência e os demais envolvidos, para saborear esse momento olhando o mar, o céu, as estrelas e lembrar-se de quando começou, na época em que era apenas um estudante cheio de sonhos.

Atualmente com 40 anos, nascido e criado no Rio de Janeiro, ainda que viajado, sempre curtia muito mais voltar para cidade natal. Aproximadamente com 1,79m de altura, 80 kg, negro de alma, com gosto, ainda que na pele fosse "desbotado", como gostava de dizer em tom de lamentação ou como consta em sua certidão de nascimento: pardo. Para imenso desgosto. Era negro com orgulho.

Sempre reconheceu que teve uma infância confortável. Seu pai além de um grande amigo foi desembargador, lhe proporcionando ótimas oportunidades. Digo "foi" por ser atualmente aposentado.

Solteiro, convicto e feliz, aparentemente feliz, pelo menos, como o mesmo gostava de falar, morando atualmente em Copa, precisamente no Leme.

Considerava-se um cara de sorte, pela farta criação, seja em questões financeiras, mas também por questões morais e sociais. Sempre conviveu com diversos mundos, do pobre ao rico, do mundano ao pudico, do lícito ao "sutilmente" ilícito, refere-se assim quando o assunto eram drogas.

Era bem-sucedido, tinha uma agência de publicidade em ascensão, o que lhe obrigava às viagens ainda dentro do Brasil e eventualmente fora, mas seu xodó sempre foi a agência de modelos que decidiu abrir assim que se formou em Administração. Na verdade, abriu essa agência pelas mulheres, a bem da verdade o dinheiro nunca fez sua cabeça, mas as mulheres sim, daí conseguiu ganhar dinheiro e ter diversos tipos de mulheres. Era um mulherengo, eternamente apaixonado por todas, o que lhe rendia fossas e porres.

Com o tempo, veio a pós em marketing e o MBA empresarial. Em seguida, abriu a agência de publicidade com dois sócios. Mais tarde tentou a sociedade em uma academia, sem muito sucesso, mas ainda mantém com felicidade, a sociedade em um pub na Lapa. Recentemente assinou um contrato de representação de uma famosa marca de lingeries estrangeira, motivo da comemoração, ainda que sozinho em sua varanda.

De certa forma, tudo se ligava, muitas das modelos de sua agência eram utilizadas na agência de publicidade e possivelmente para divulgação da referida marca de lingerie. Mulheres... mulheres e mulheres.

Tinha um encantamento por elas, estudá-las, apreciá-las, admirá-las. A sociedade no bar ocorreu justamente por isso, frequentava o mesmo bar por anos (durante boa parte do período em que foi um universitário). Nessa época, era sócio apenas da agência de modelos, ainda viajava pouco, tinha pouco trabalho e, apesar da situação confortável dos pais, gostava da sua independência e, com isso, tinha pouco dinheiro. Ainda assim, sempre que podia, frequentava o bar do Budy: um espanhol, grandão, com seus 50 anos, barbudo, cabelos mesclados - fios negros, brancos e cinza, na altura da nuca. Morava no Brasil desde a década de 60, ali perto, em Santa Teresa.

Ícaro ficava sentado em uma mesa ao fundo e apenas as admirava (MULHERES). Anotava jeitos, trejeitos do comportamento, quando sozinhas, quando com algum companheiro ou em grupo. Escolhia as palavras certas, nunca foi de sufocar, de ganhar pela insistência, de pegar pelo braço, nunca fez o tipo grosseirão pegador, costumava dizer que não era soldado com AR-15, mas era sniper, não escolhia pela idade, pelo tamanho, pela cor. A grande maioria bela, mas isso não era condição, até algumas nem tão belas já se deliciaram, só esperavam que fossem bem cuidadas, seguras, autênticas, interessantes...

ÍCARO E ELAS ENTRE HARPAS E GUITARRASWhere stories live. Discover now