This is Halloween

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Seria um noitada comum. Fim de expediente, rolê com os amigos para comemorar a chegada do fim de semana. Seria.
Tudo estava combinado, mas como a maioria das vezes não saiu como havíamos planejado.
Consegui telefonar e avisar que não iria com eles pois eu possuía assuntos a resolver, trata-se como assunto importante uma unha quebrada e não conseguir achar sapatos que combinassem com minha saia.
Hoje vejo o quão fútil eu era. Sou?
Quando já estava pronta, recebi a notícia que meu namorado não poderia me levar. Meus amigos? Já estavam em nosso lugar de destino.
Entre gastar as solas do meu lindo sapato e ter que remover quilos de maquiagem com meu demaquilante caro, preferi os sapatos, afinal eles não eram tão lindos assim.
A brisa da noite me recebeu assim que sai pelo portão e comecei a andar pelas calçadas da rua.
Não parecia uma ideia tão ruim ir a pé, até porque não era tão longe assim. Ou pelo menos era o que eu achava.
De carro não era tão longe, todas às vezes nos íamos a mesma petiscaria e por lá  permaneciamos horas com boas conversas e risadas. Entretando hoje nenhuma dessas boas lembranças consigam anular o que aconteceu naquela noite.
A caminhada foi mais longa do que eu imaginei e mesmo assim quando cheguei eu não reconhecia o bairro o qual eu estava acostumada a ir.
No começo eu não entendi o que estava acontecendo e o porque de tantas pessoas. Aquele bairro nunca teve um movimento tão grande.
Depois de um tempo perdida na multidão de pessoas, tudo fez sentido. E finalmente eu entendi o motivo de estarem vestidos daquela forma.
Dia 31 de Outubro, como eu não havia pensado nisso antes?
Contínuo caminhando e paro em frente um poste no qual possui um panfleto falando sobre uma festa na casa que pertenceu a um rico fazendeiro do século XIX e hoje jaz como uma propriedade acabada e em risco.
Quem foi o louco de permitir uma coisa dessas? Pensei.
Alguém me empurrou para o lado.
"Sai da frente garota" Pude ouvir de uma adolescente que aparentava não ter mais de 16 anos. Ela estava bêbada, assim como os outros jovens que passavam a todo momento na rua em direção a casa.
Eu não era velha, mas também não era irresponsável como muitos ali.
Logo meu consciente me disse que aquela festa traria problemas e assim resolvi sair daquela zona.
Liguei para alguns amigos e ninguém me atendeu. Quando cheguei a petiscaria percebi que o plano tinha mudado e eu não fiquei sabendo. O local se encontrava fechado e eu estava sozinha.
O movimento dos jovens em torno da casa e a música alta me fizeram reconsiderar se eu passaria por aquela rua novamente.
Recebi uma mensagem "Estamos na casa do fazendeiro, vem pra cá que a festa tá louca!!!"
10 minutos antes eu não queria e nem cogitava a hipótese de participar daquela festa de Halloween, mas bastou um incentivo, que meus amigos estariam lá e eu cedi.
Entrei na casa. Tudo era muito velho é cheirava a morfo, umas latinhas de cerveja e eu já estava entrando no espírito do Halloween.
Conversei com alguns caras. Mas nada de encontrar minha turma.
Pelo que parece a casa era muito grande ou eu não conseguia reconhecer ninguém por trás daquelas máscaras.
Já desistindo de procurar, desço as escadas do andar de cima em meio aos ruídos que a escada emitia, risos soltos e uma música alta pude ouvir gritos pedindo por socorro.
Fui em sua direção e eles me levaram a um velho banheiro, nunca poderei esquecer aquela cena, aquele banheiro nunca sairá da minha memória, assim como o rosto assustado, sujeira nos assoalhos e espelho quebrado que compunham a cena.
Naquele local estavam duas pessoas sozinhas.
Talvez estivessem buscando privacidade só que os gritos que me levaram ao local me diziam o contrário.
O rosto assustado eu logo reconheci era Carol minha amiga e ela estava aos prantos, sua maquiagem estava totalmente acabada e a roupa que ela estava vestindo se reduzia a trapos.
Na frente dela estava um homem e ele estava completamente bêbado.
É incrível como o ser humano é tão fraco a ponto de ser controlado por uma simples bebida. Eu não o reconhecia, pelo menos não naquela forma.
Ele dizia coisas obscenas e avançava em direção a Carol.
Enquanto eu presenciava aquela cena da porta.
Ele avançou mais um pouco sobre ela e eu não sabia o que fazer.
Pedir ajuda a um monte de adolescentes bêbados? Não me pareceu uma boa idéia.
"A-Ali-line" Carol havia me visto e logo o agressor também me veria.
Eu não sabia o que fazer.
Em um ato mal pensado e de desespero me vejo pegando uma garrafa de uísque que se encontrava pela metade em cima da pia, com toda a força que eu não sabia que possuía em algum momento, acertei em cheio o agressor bem no momento que ele estava se virando para mim.
A pancada foi precisa e o agressor despencou em direção ao chão amarelado do banheiro juntamente com a garrafa que se partiu.
O amarelo do chão se misturou a uma poça de sangue que se formava em volta do garoto, juntamente com os resquícios da garrafa.
O ato em si foi rápido e só depois pude perceber o que eu havia feito.
Carol me olhava com os olhos arregalados, estava mais pálida do que de costume.
Não havia como negar eu havia o matado.
Um choque de realidade me atingiu e eu percebi o que tinha feito, finalmente reconheci quem estava no chão.
"Nã-nã-não" ajoelhei ao lado do corpo imóvel. Tudo em volta virou um borão.
"Reage, por favor" eu gritava. As lágrimas saiam do meu rosto desesperadamente, saliva e lágrimas se misturavam ao resto da cena.
Eu não estava mais em mim, era como se eu estivesse em um mundo paralelo no qual eu só conseguia escutar a música que estava tocando e meus soluços.

Aren't you scared?
Well, that's just fine
Say it once, say it twice
Take a chance and roll the dice Ride with the moon in the dead of night
Everybody scream, everbody scream
In our town of halloween!

This is Halloween, this is Halloween, this is Halloween.

Eu nunca mais esquecerei essa música.
Não vi a Polícia chegando e dando final a festa, muito menos o pronto socorro.
Só me lembro dos sedativos e de acordar em uma cama no hospital.
E hoje, tempos depois eu ainda tempo superar, já criei diversas hipóteses sobre o que teria acontecido se eu não tivesse saído de casa. Entrei em depressão, fui em vários psicólogos e eles sempre dizem a mesma coisa, um até me recomendou escrever e tentar descrever o que sinto.
As pessoas até tentam me entender, dizem que não é minha culpa e esperam que eu supere.
Só não é tão fácil assim... eu até tento... superar o fato de ter matado meu irmão mais novo.

Trick-or-treatOnde histórias criam vida. Descubra agora